"Arranje um pedaço de fio, fita ou corda com aproximadamente um metro de comprimento e segure-o pelas extremidades, de modo que cada ponta fique numa mão. Agora, desafio você a fazer um só nó nesse fio sem soltar as pontas." (Antônio Carlos Teixeira da Silva)[1]Qualquer mercado, atualmente, é uma arena de disputas, com recursos escassos e concorrência acirrada, na qual é preciso “brigar”, constantemente, para sobreviver e marcar espaços no cenário. O contexto em que vivemos restringe a atuação das instituições, diminui a expectativa de crescimento das marcas e, consequentemente, as margens de lucro. Deplorar tal cenário é fechar os olhos às oportunidades que, muitas vezes, estão ali, à espera da descoberta e do aproveitamento. Folheava dia desses o livro “Oportunidades disfarçadas – histórias reais de empresas que transformaram problemas em grandes oportunidades”, escrito por Carlos Domingos, e não pude me furtar a pensar na crise por que passam muitas de nossas instituições de ensino superior (IES). No livro, o publicitário relaciona cases de empresas que expandiram suas fronteiras e que criaram seus próprios espaços de atuação. Mas, para isso acontecer, a observação, o conhecimento acumulado e a criatividade foram fundamentais. A criatividade, bem intangível das organizações, é a capacidade de produzir coisas e conhecimentos novos. Porém, não é dom divino; pelo contrário, é fruto de trabalho (como esquecer a máxima “a criação é 10% de inspiração e 90% de transpiração”?), que implica erro e a transformação desse erro em oportunidade de melhoria; é fruto de conhecimento pregresso; é consequência de um esforço de equipe e é resultado de um clima organizacional que promova a geração de propostas inovadoras. Os atuais mercados, de acirrada competitividade, dão pouco espaço para a inovação, pois preferem repetir estratégias que deram certo numa determinada situação e limitam a atuação das empresas em repetir cenários conhecidos sem antever as transformações que ocorrem no meio ambiente e nos espaços de seus consumidores. Nesse contexto, e principalmente devido à revolução que as novas tecnologias aplicadas ao ensino estão promovendo, as IES cada vez mais dependem da inovação e da capacidade criativa de todos os envolvidos no processo de mudança que a realidade está exigindo. A criatividade não é algo pessoal. É, acima de tudo, organizacional estando relacionada ao processo criativo, à pessoa criativa, ao produto criativo e ao ambiente de trabalho extremamente criativo. Este último fator é de importância fundamental, porque a criatividade nas empresas engloba um paradoxo: a comunicação aberta e livre de julgamentos e a necessidade de obtenção de resultados definitivos e mensuráveis. É preciso, ainda, se levar em conta que nem sempre se acerta na primeira inovação, tal como salienta o israelense Dov Moran, criador do pen drive: “Aprenda a fracassar, o risco é inerente à atividade empresarial”. Há, nessa dicotomia, inúmeros obstáculos organizacionais à criatividade. Exemplos disso são os espaços que não permitem e/ou não inspiram a introspecção e a reflexão, bloqueando ou limitando a capacidade criativa dos colaboradores de uma instituição. Estes precisam ser gerenciados, pois só com o suporte à cultura da criatividade a personalidade de cada um tem chances de explorar o lado criativo e de tirar proveito das oportunidades que surgem no dia a dia. Originalidade, flexibilidade, fluência, percepção, sensibilidade, elaboração e outros componentes da memória, da cognição e da avaliação são características dos criativos. Define-se a originalidade como a produção de respostas desiguais, conceitos que fogem do comum; a flexibilidade, a característica intelectual da personalidade criativa; a fluência, a facilidade de exprimir várias ideias para resolver problemas; e a elaboração, habilidade para criar e desenvolver produtos ou serviços. Para pôr em prática ideias criativas, as pessoas precisam ter iniciativa, independência de pensamentos, ação e flexibilidade. Dessa forma, as organizações do conhecimento devem, cada vez mais, incentivar e motivar seus colaboradores por meio de técnicas que os estimulem a pensar de maneira criativa. É preciso sair da acomodação das ações padrões e, a partir desse entendimento, as organizações do conhecimento devem impor desafios motivacionais na área de criatividade aos seus colaboradores, sem deixar de ampliar os cenários que oportunizem a expressão e o estímulo à capacidade criativa. Há, portanto, necessidade de estimular a criatividade para fazer frente ao tradicional e ultrapassado sistema educacional, que já não atrai o jovem do século XXI. Para isso, autonomia, sistema de recompensa por desempenho e competência, suporte à criatividade, aceitação das diferenças, envolvimento, apoio da gerência são imprescindíveis para a criação de um ambiente que estimule o pertencimento, o compartilhamento de experiências e o suporte a ideias originais. Administradores atualizados em novos processos de gestão testemunham que a criatividade dentro das organizações libera o potencial dos profissionais, motiva as pessoas a se interessarem pelo que estão fazendo, promove o pensamento proativo e que virá a ter uma posição tão proeminente quanto às finanças, às matérias-primas e às pessoas. A gestão do ensino superior deve ser marcada por transformações, especialmente no que se refere a algumas concepções e aspectos básicos. Isto é, sair de uma ótica fragmentada para uma ótica globalizante, na qual todos interajam; de uma ação individual para uma aça coletiva, pois o espírito de equipe, a participação e a democratização são um grande desafio na gestão do ensino superior e de ações episódicas para um processo contínuo, pois a educação superior é um processo longo e contínuo. O diferencial das IES deve estar vinculado a um ensino onde o estudante realmente aprenda e que só pode ser desenvolvido com competência, agilidade, criatividade e entusiasmo de forma participativa e colegiada. Para que as organizações de ensino possam acompanhar as mudanças do mercado de trabalho, é necessário que se reformulem as suas concepções de ensino- aprendizagem e que se entenda o processo de formação do indivíduo como um processo contínuo sem limites de idade. Para o alcance deste diferencial é necessário redesenhar e recriar modelos de ensino superior, seguindo os dados históricos e as tendências e adotando posturas agressivas, criativas e inovadoras, características das competências empresariais. Tomo como exemplo de criatividade e inovação o Cirque du Soleil, descrito no livro “A Estratégia do Oceano Azul – como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante”, de W. Chan Kim e Renée Mauborgne, pesquisadores da Universidade de Harvard. A necessidade de buscar novos mercados levou a companhia a pensar amplamente – ao invés de utilizar fórmulas prontas e de sucesso, buscou fazer o que ninguém havia feito. Uma das ações foi observar que, para criar o novo, era necessário eliminar o antigo (o que os circos já ofereciam), reduzir gastos e aumentar o valor agregado. Para tanto, utilizaram a matriz eliminar-reduzir-elevar-criar. Assim, eliminaram atividades típicas de circos – astros circenses, espetáculos com animais, descontos para grupos, vários picadeiros, redução da diversão e do humor – e, com isso, diminuíram os gastos. Mas, ao mesmo tempo, elevaram a estrutura de valor oferecida e criaram novos espaços e demandas, sem disputar fatias já existentes do setor. Em outras palavras, redesenharam as fronteiras de mercado e criaram novas demandas. Querem saber? Para falar a verdade, se o nosso ensino superior quiser sobreviver, precisará passar por uma transformação semelhante à ocorrida no Cirque du Soleil. [1] Inovação: como criar ideias que geram resultados. 2ª Edição revista e ampliada. Editora Qualimark. 2001