Paulo Cardim
Reitor da Belas Artes e Diretor-Presidente da Febasp Membro do Conselho da Presidência da ABMES
Blog da Reitoria, publicado em 01 de junho de 2015
***O Centro Universitário Belas Artes de São Paulo está promovendo reuniões e palestras sistemáticas sobre o tráfico e o uso de drogas ilícitas entre os nossos estudantes, com profissionais da área especializada, em parceria com os órgãos policiais, e reuniões com alunos e também com os pais ou responsáveis, no sentido de tentar unir e agregar a comunidade Febaspiana para combater esse câncer social. São eventos institucionais que, mais uma vez, demonstram que a Belas Artes sempre lutou, luta e lutará com ações preventivas e corretivas contra esse mal, sem nenhum receio de assumir a existência dessa realidade. As drogas, ano a ano, avançam no universo e comunidades estudantis, com alguns sucessos, pela falta de estrutura existente, além da covardia e omissão dos entes públicos, dos gestores e responsáveis pelo ensino de qualquer nível, seja ele público ou de livre iniciativa.
Já em 2004, em entrevista ao Jornal da Tarde (Edição de 2/3/2004, Caderno A, Especial, p. 18), registrava a minha indignação sobre os caminhos que estavam sendo tomados por todas as partes envolvidas nesse comércio nefando e que desgraça grande parte dos jovens estudantes e de suas famílias. Como afirmava nessa entrevista, preferia correr o risco de perder alunos, despertar a hostilidade de traficantes ao de ver a nossa quase centenária instituição educacional omissa quanto a esse grave problema da sociedade. À época, criamos serviços de orientação e atendimento a dependentes – o Serviço de Orientação Pedagógica e o Serviço de Atendimento Psicopedagógico –, para onde são encaminhados os alunos flagrados usando droga. Para fechar o ciclo, pessoalmente, entrei em contato com o Departamento de Narcóticos (Denarc), além de manter estreito relacionamento com os policiais. A polícia sempre é notificada, uma vez que, se estudantes usam maconha, cocaína e outras drogas, deve haver por perto um ponto de tráfico.
Adotei uma posição de educador, de cidadão e de dirigente de uma instituição educacional, que tem o compromisso constitucional de formar cidadãos e profissionais éticos e responsáveis, que vão empreender e liderar empresas e pessoas, exercendo ampla influência nas comunidades em que atuarem.
Muitos cometem a hipocrisia de não denunciarem o uso de drogas em suas instituições ou empresas, talvez com receio de perderem alunos ou verem suas instituições nos noticiários policiais. Todavia, não podemos nos comportar como avestruzes e fugir da realidade. Se nos acovardarmos diante desse grave problema, seremos cúmplices dos traficantes e dos crimes por eles praticados. Antes de tudo, somos educadores!
Creio que os estudantes têm acesso às drogas em pontos de venda na região onde funciona a nossa instituição, que é um polo de escolas de nível superior. Mas não posso ter receio de represálias de traficantes porque acredito no Estado Democrático de Direito. E, na minha posição, tenho o apoio de todos os pró-reitores e dos coordenadores de cursos.
Segundo recente levantamento feito pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), quase metade (49%) dos universitários brasileiros já experimentou algum tipo de droga ilícita pelo menos uma vez na vida. O mais recente Relatório Mundial sobre Drogas mostra a extensão do problema associado com novas substâncias psicoativas e o impacto mortal que elas podem ter sobre seus usuários.
Estatísticas demonstram que, quanto mais cedo a pessoa inicia o uso de drogas, a tendência para desenvolver dependência é bem maior, além de prejudicar diretamente a aprendizagem dos estudantes. Entre os jovens, o percentual de universitários que usam drogas tende a ser até duas vezes maior do que o daqueles que não são universitários.
Ainda no último dia 28, promovemos uma reunião sobre dependência química, realizada pelo CoachingBelas Artes. O evento alcançou plenamente os seus objetivos, com a presença de cerca de 90 pais, que acompanharam atentamente a explanação do especialista no tema e fizeram perguntas pertinentes ao importante assunto em questão. Ao final da reunião, o pró-reitor Sidney Ferreira Leite reforçou os princípios da Belas Artes sobre o tema. Após, foi procurado por vários pais que parabenizaram a Belas Artes pela coragem de enfrentar a questão de dependência química, fato raro nas instituições de ensino superior.
A droga não é um problema só nosso. É um problema globalizado e muito mais grave nas classes média e média alta, origem de grande maioria de nossos alunos. Sei que, com esse trabalho de orientação e prevenção, não vamos eliminar a droga, mas estou fazendo o que é necessário. Estou fazendo a minha parte, com a colaboração e participação de nossa equipe de gestores e professores, educadores comprometidos com a saúde mental e física de nossos estudantes, fator relevante para o sucesso da aprendizagem e da formação ética de nossos estudantes.




