Ronaldo Mota
Reitor da Universidade Estácio de Sá
Diretor Executivo de Educação a Distância da Estácio
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A sociedade contemporânea se caracteriza sobretudo pela acentuada dinâmica, demandando um reexame permanente de conceitos e abordagens. As tecnologias digitais afetam todos os setores, em especial a área educacional, via agregação de novas tecnologias e adoção de metodologias inovadoras, com reflexos diretos nas formas com que educamos e aprendemos.
Tradicionalmente, convivemos e educamos até aqui com duas dimensões distintas e com regras próprias, razoavelmente bem conhecidas e assimiladas, antes que uma terceira dimensão, totalmente contemporânea, menos estabelecida, tornasse as relações sociais e as atividades educacionais bem mais complexas do que costumavam ser.
A dimensão sociedade geral, no viés republicano dominante, é aquela onde cada indivíduo é submetido às mesmas regras de todos os demais, consubstanciadas na forma de leis e normas escritas que estabelecem o marco legal, o qual rege indistintamente todos os cidadãos. Os marcos que regulam a sociedade geral são baseados na igualdade de direitos e deveres compartilhados por todos.
Uma segunda dimensão é aquela associada às comunidades por afinidades, expressas nas suas mais variadas formas, tais como grupos familiares, associação de bairros ou núcleos criados via compartilhamento de fés religiosas, identidades étnicas, vínculos ideológicos etc. Neste caso, mais do que marcos regulatórios rígidos, o que une os grupos são tradições ou valores comuns, onde predomina um código de conduta mais implícito do que explícito.
A terceira esfera, de natureza complexa e de existência recente, envolve as comunidades virtuais, ancoradas na presença da internet e das redes sociais que nela brotaram. Nestes agrupamentos virtuais, as relações não se esgotam e nem se explicam nos termos relativamente simples das duas esferas sociais anteriores. Elas não se caracterizam pela presumida impessoalidade e regras escritas da sociedade geral, tão pouco se assentam necessariamente nas afinidades e acordos tácitos das comunidades clássicas que implicam em solidariedade e cumplicidade decorrentes dos elos em comum que lhes dão origem.
Uma característica básica das comunidades virtuais é o descasamento com as variáveis presencialidade física ou temporal, as quais, em geral, são pressupostos implícitos das duas esferas anteriores. Ao contrário, no mundo das tecnologias digitais, a peculiar descentralidade e atemporalidade das comunidades virtuais e suas fronteiras flexíveis dificultam saber a quais leis ou jurisdições regionais elas se submetem ou com quais crenças ou afinidades unificantes elas se identificam. Ao se espalharem no espaço e no tempo tornam dispersos os eventuais compromissos tradicionais de regras estabelecidas previamente ou de elos em comum compartilhados.c
Neste novo cenário, os desafios educacionais vão muito além das ferramentas do ensino a distância ou das possibilidades decorrentes da educação permanente ao longo da vida. Trata-se de aprender a educar e a ser educado também nesta terceira esfera, onde a informação é plenamente disponibilizada e acessada integralmente de forma instantânea e gratuita. Estamos começando a lidar, também na educação, com um cenário que desconhecíamos por completo até recentemente.




