Domingo Hernández Peña
Escritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
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Conheci Nelson A. Rockefeller, então governador de Nova York, quando em 1961 tive uma pequena participação numa das equipes que na Europa se organizaram com urgência, como na Ásia, como na América, para ajudar na localização de Michael, o filho amado, desaparecido para sempre naquele misterioso e triste naufrágio do fim do mundo. E foi conhecendo a Nelson que conheci o compromisso dele, e da sua família, com a cultura, com a inteligência e com a criatividade.
Depois, sabendo daquele compromisso, nunca mais parei de maravilhar-me com a tradição norte-americana dos famosos, dos poderosos, dos triunfadores, que ficam para sempre ajudando com empenho às instituições de ensino onde aprenderam o que sabem e onde cultivaram amizades.
Agora, porém, observo que essa tradição do “retorno” está evoluindo, transformando-se numa moda emergente: grandes empresários, profissionais de renome, artistas famosos, mandatários com muito poder, já não se conformam com ajudar as escolas e universidades da mesma forma que sempre as ajudaram - “desde fora”. Agora querem ajudá-las “desde dentro”, em pessoa, diretamente.
Por três razões: porque ensinar com profundidade e com independência pode ter, neste momento, para a sociedade mais esclarecida, o mesmo prestigio e a mesma consideração que já teve em tempos idos; porque as acostumadas ajudas indiretas (dinheiro, bens, serviços, apoio político) podem utilizar-se, e de fato se utilizam com frequência, para favorecer projetos pedagógicos sem sentido ou indesejados; porque os líderes mais destacados da Cultura e da Economia já entenderam que o Ensino massivo e mecanizado deve “dinamitar-se” desde dentro, e não há melhor dinamita para isso que a participação direta e generosa, com conteúdos exclusivos, regenerantes e dignificantes, e sem pedir nada em troca.
São vários os grupos de empresários, profissionais e famosos que na América do Norte já sacrificam seus interesses particulares para dedicar-se a ensinar, mesmo sem ter experiência prévia como professores, mas tendo muito a dizer, e sabendo o que só pode saber-se depois de muito viver e tropeçar. Alguns deles chegam a surpreender-se com o êxito do que estão fazendo, e com o prestigio implícito, até que percebem que há motivos para isso, porque estão ensinando verdades onde só se repetiam hipóteses ou teorias, e quando todo mundo sabe que estão na sala de aula “investindo” e não para ganhar uns trocadinhos.
E não estou falando de empresários, de profissionais e de famosos que, por vaidade, ou porque nada mais têm a fazer, brincam de professores nas horas mortas, em troca de aplausos improvisados ou de minutos de glória. Não. Estou falando de idealistas - de verdadeiros inovadores - que, por exemplo, abandonam com 55 anos de idade a presidência de um conhecido império empresarial da eletrônica, para dar aulas de Empreendedorismo, de graça, na Columbia University.
Participo, com humildade e com agradecimento, do mais numeroso desses grupos renovadores. Com humildade, porque sei que não mereço tanta honra. E com agradecimento, porque sem essa participação não poderia saber o que agora sei, depois de transitar com os meus colegas pelas melhores universidades da Nova Inglaterra. Nem teria o relacionamento que agora tenho com os principais setores criativos de Nova York. Nem receberia o convite que estou recebendo para coordenar um debate sobre o drama educativo dos imigrantes sem papéis, em Washington, em setembro. Nem poderia estar em outubro na pitoresca cidadezinha de Bar Harbor, no Maine, na casa onde nasceu Nelson Rockefeller, para comprovar com os meus amigos que a vida não foi, nem é, uma casualidade.
As casualidades não existem. Mas sempre existiram, e existem, lugares, países, povos, cabeças, mentalidades, comportamentos, que avançam ou que retrocedem, ou que se perdem no barulho da mediocridade...




