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Quem vai decidir é o Google.
Hoje o Google está na posição da Inglaterra do Século 19, com a faca e o queijo no mouse.
O Império Onde o Sol Nunca se Punha decidia o futuro de países dos 5 continentes, inclusive o do Brasil.
Hoje o Google decide o futuro de jornais e revistas do mundo inteiro, no maior programa de dumping jamais criado na história econômica do mundo.
Milhares de publicações já fecharam, sem leitores nem anunciantes, e, segundo Washington Post, de 5 de janeiro, mais pessoas no mundo se informaram no Google Notícias do que na CNN.
São notícias copiadas, sem pagar nada, de milhares de jornais e revistas do mundo inteiro, os mesmos dos quais também tira anunciantes e leitores. Graças a isso o Google faturou US$ 19 bilhões com seus anúncios altamente dirigidos. Você escreve queijo ou livros no seu email, os computadores deles leem essas palavras e automaticamente veiculam anúncios de queijos e de livrarias no lado direito do seu email. Isso é a tecnologia Google, senhores, sem rival no mundo da comunicação global.
Anunciando num jornal ou revista, você não consegue selecionar o cliente com essa precisão cirúrgica.
O que tem isso a ver com a universidade particular e a Inglaterra? Tudo. O Google visa ao monopólio do conhecimento mundial, avisaram isso no primeiro dia de funcionamento, hoje digitalizam 100 mil livros por mês na China, em digitalizadores que eles mesmos desenharam. Não podem ser vencidos.
Mas o megaeditor Murdoch, dono de milhares de veículos impressos e digitais em todo o mundo, da nossa Sky, etc., sentiu o baque nos balanços, mesmo seus veículos mais importantes tiveram quedas imensas no faturamento, e perdeu a paciência.
Daí sua empresa News Co. moveu um processo judicial contra o Google por piratear seus conteúdos e distribuir grátis mundo afora, causando enorme prejuízo a milhares de veículos com queda de leitores e anunciantes.
Dumping é isso, claro. Distribuir de graça ao mercado do concorrente o que ele produz e precisa cobrar. Preocupada, a defesa do Google recuou e prometeu só permitir o acesso gratuito às 5 primeiras notícias, assim conseguiu paralisar o processo para discutir um acordo com Murdoch.
Agora, falemos da Inglaterra do século 19.
Tal como hoje, os produtos chineses invadiram a Europa no século 18 e 19, e principalmente a Inglaterra, pela qualidade infinitamente superior de seus produtos. A seda e o chá da China eram consumidos até mesmo pelos pobres, distribuídos pelos comerciantes ingleses em larga escala, em toda a Europa. A balança comercial tornou toda a Europa devedora da China em poucas décadas.
A rainha Vitoria teve então uma idéia: mandou uma Missão Comercial chefiada por um ministro, levar produtos ingleses para mostrar ao Imperador e equilibrar o comércio exterior.
Montou-se uma exposição no palácio e humildemente os figurões britânicos imploraram ajoelhados a visita do divino Imperador, cujo divino rosto não podia ser olhado por reles mortais.
Depois de rápido passeio pela mostra inglesa, o Imperador sentenciou: ”Nada existe entre tais bugigangas que possa interessar ao povo chinês!”
Com o rabo entre as pernas a Missão faz o caminho de volta, já prevendo a fúria de sua Rainha com o adjetivo pespegado à maior Potência Mundial da época.
Nasce assim, ao mesmo tempo, o narcotráfico e a Era Moderna das Drogas, graças a outro diabólico plano da Rainha.
Plantarão papoula na Índia, sua colônia, transformarão em ópio e venderão na China em milhares de Casas de Ópio que serão abertas por todo o país. Viciarão milhões de chineses, principalmente os mais velhinhos, que venderão tudo o que tem, móveis, terras, casas, joias, para sonhar nesses estabelecimentos, o ópio é caro e vicia rápido.
Finalizando esta história de horror que hoje se repete em vários continentes, o Imperador, indignado, manda jogar ao mar várias cargas de ópio, trazidas por navios americanos, franceses, alemães e outros, os últimos piratas, causando enorme prejuízo aos negócios ingleses. A Rainha contrata mercenários dos EUA, Europa e assim começa a Guerra do Ópio, os Aliados Ocidentais invadem a China e vencem a Guerra, exigindo como indenização a Ilha de Hong-Kong por 99 anos.
A sequência estratégica é hoje quase a mesma, cem anos depois.
O Google viciou alunos do mundo inteiro com suas buscas instantâneas e com as aulas do YouTube, do Google Acadêmico, do Blackboard, etc...
Professores de todo o mundo agora dizem aos alunos: “Façam uma pesquisa na Internet e escrevam um trabalho para a semana que vem sobre a Guerra do Ópio!”
O professor não precisa mais saber nada, os detalhes todos estão lá em milhares de sites, matérias, livros, de graça, selecionados em nanosegundos sobre qualquer assunto, em qualquer lan-house do país, até a Telebrás abrir seus 18 mil telecentros em todo o pais, e monopolizar toda a comunicação educacional, bancária, oficial, burocrática, turística, e do e-commerce, previstos no Programa Casa Brasil de Inclusão Digital, cobrindo todos os municípios brasileiros com banda larga. Esse controle total será a sovietização digital do Brasil, planejada em 2003 por José Dirceu, e agora discutida por Lula, Dilma e vários ministros, nas reuniões do Programa Banda Larga de Inclusão Digital. Inclusão Digital hoje justifica tudo.
Por outro lado, os viciados do Google não terão nenhuma chance de recuperação quando eles começarem a cobrar as buscas e os próprios executivos do Google já disseram no documentário “Por dentro do Google” que não podem garantir que essa montanha de ópio mental hoje distribuída de graça não seja cobrada num futuro próximo, pois eles têm todo o direito a isso, dentro do atual sistema econômico. De quem o Google cobrará esse acesso ao conhecimento ainda não se sabe, se do aluno ou da universidade, já que estão ensinando tanto ou mais que o professor. No YouTube, onde investiram mais de US$ 1 bi, só na compra, mais 500 MI em equipamentos, já armazenaram 100 mil aulas das 100 maiores universidades do mundo, as melhores, com os melhores professores. Por enquanto, tudo absolutamente gratuito.
Provavelmente surgirá um novo tipo de EAD, onde um novo tipo de empresa venderá tutoria profissional de alta qualidade, orientando o aluno no curso escolhido, para prestar seu exame final de EAD ou apenas sua avaliação, como fazem hoje a OAB e o CRM, reprovando de 60 a 95% dos candidatos oriundos das Universidades.
O ensino universitário, ao longo do século, se tornará um dos maiores segmentos da Indústria Mundial da Comunicação, em novos formatos ainda inexistentes, e com novos operadores mais eficientes. Os atuais detentores de conteúdos da alta qualidade, como Fundação Roberto Marinho, Editora Abril e outros dominarão o mercado do Conhecimento Universitário. Roteiristas criativos de grandes aulas magnas serão mais disputados no mercado da comunicação que os roteiristas de novela de hoje, porque o retorno não será apenas enorme como permanente. A novela só é reprisada depois de alguns anos, as grandes Aulas Magnas sobre Juros apresentadas no Fantástico pelo prof. Gianneti serão reprisadas todos os anos para novos alunos de turmas diferentes, em escolas diferentes, durante décadas.
Capital de risco para financiar produções com uma audiência global cativa desse porte evidentemente não faltará.
Como vemos, o setor universitário particular vai acabar morrendo na praia, por sua lentidão em reagir aos avanços tecnológicos e de mercado dos últimos 100 anos, justamente quando a demanda de diplomas atinge seu auge e as empresas começam a valorizar mais o conhecimento que a experiência. Quase metade das vagas particulares estão hoje ociosas, porque nossas escolas não saíram ainda do século 18.
Mas o setor educacional sempre rejeitou qualquer tecnologia.
Os irmãos Lumiére, ao inventarem o cinema, viram nele uma imensa aplicação educacional, pela fantástica simulação de realidades distantes que poderiam agora invadir a sala de aula. Em vez de falar sobre Roma ou a China, esses temas estariam agora dentro da sala de aula, em movimento e a cores. A escola não entendeu, só entendia de livro, caneta, lápis, caderno, giz e recreio. Os projetores de slides da Kodak tiveram o mesmo destino inglório, enterrados com pompa no armário do canto, lá na biblioteca, para alívio dos professores.
O videocassete e seus sucessores logo seguiram pelo mesmo caminho, nova vitória da vanguarda do atraso. Só os computadores conseguiram penetrar em algumas salas de aula e “laboratórios de informática”, apenas como recursos de marketing, sem uma aplicação pedagógica integrada, na maioria das IES. Professor que se preza não gosta dessas modernidades da garotada, aula é no gogó, ele é daquele outro tempo em que a escola era uma coisa séria, carrancuda, os alunos sempre ansiosos pelo fim da aula e pelas férias.
Agradar ao cliente não faz parte da cultura empresarial da escola, é uma indústria estranha, até pouco tempo atrás espancava seus jovens fregueses. Até a igreja mudou, hoje toca rock na missa e seus padres-astros dão shows e vendem milhões de discos, para enfrentar a concorrência evangélica, que faz o mesmo, mas a escola continua na sua seriedade carrancuda, saudosa dos bons tempos, em que o aluno estudava pra valer pra conseguir uma vaga.
O setor universitário privado estará apenas imitando a indústria dos chapéus ao também morrer na praia: logo depois que o cinema convenceu todos os homens do mundo a usar chapéu, (até criança usava chapéu) todos imitando Humphrey Bogart e os grandes cowboys, o rock chegou usando cabeleiras no lugar dos chapéus. Aquele falecido roqueiro genial cantava que queria “tomar banho de chapéu”, tornando o produto ainda mais ridículo para qualquer tipo de público de qualquer idade.
Nada disso é novidade: quase 20 anos atrás, já nos anos 90 um guru de marketing famoso, Alvin Tofler, autor de “O Choque do Futuro” escreveu um livro profético: “O que fazer no futuro com os prédios das universidades?”
Uma divertida pergunta, dia a dia mais atual, não acham?
Mas por favor, não riam muito alto, vocês podem acordar alguns reitores...
O professor Souza Dias é autor de “Pedagogia da Tela”, ainda inédito (desde 1984), e pesquisador da MUXXION Sistemas Colaborativos, empresa dedicada ao desenvolvimento de soluções educacionais de marketing integrado.




