Domingo Hernández Peña
Escritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
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Estamos, sim, no mundo todo, no final de uma época; no começo de outra; numa mistura de antes e depois, na que nada deixou de ser nem nada começou por completo. É como se estivéssemos numa guerra (na Terceira Guerra Mundial, talvez) que ainda não esgotou seu poder destrutivo nem permite adivinhar o que teremos que reconstruir depois.
Compreender e explicar essa catastrófica transição global não é coisa fácil, se a mesma não se fraciona e classifica em perigos maiores e perigos menores – em realidades de maior e menor proximidade.
E como estamos onde estamos nada impede que comecemos a explicar e a compreender o maior e mais próximo dos perigos: Brasil.
Brasil está no mundo, e por isso mesmo também está no meio do disparate global. Mas não está como estão muitos outros países. Está maior e está pior...
Em que ponto de autodestruição se encontra o Brasil? Para onde estão indo os brasileiros?
Liguem a televisão e saberão a resposta: na tela, quando sobra um tempinho entre o derramamento de sangue e a roubalheira generalizada, alguém se atreve a falar de futebol e das ideias antigas de algum deputado com contas no cartório...
Que país é este, onde uma bala perdida se comenta com a mesma indiferença que se comenta a previsão do tempo? – onde os bandidos que saqueiam hospitais vão se divertir com o dinheiro roubado nos melhores restaurantes de Paris?
Como se chegou a uma podridão tão assustadora? Onde estão os culpáveis? Quem está remediando alguma coisa, em alguma medida?
A autodestruição do Brasil não é coisa nova. Ela vem de longe. Poderíamos dizer que faz meio século, quase exato, que está se desenvolvendo.
Começou, e continua, com o afastamento da Inteligência. As cabeças brasileiras mais brilhantes deixaram de participar do Ensino, da Política e da Economia do seu País. Refugiaram-se no anonimato, morreram, ou emigraram.
Sem o brilho daquela minoria inspiradora o País ficou sem pensamento próprio. Ninguém sabe, hoje, o que é o Pensamento Brasileiro. E sem pensamento próprio se perdeu a verdadeira identidade nacional – o rumo pátrio.
Foi aí, nesse deserto intelectual, onde se implantou o Ensino Superior que agora temos: o imenso negócio que não se dedica a formar brasileiros conscientes; que emite diplomas que não se correspondem com as necessidades do País nem com a pouca preparação dos que estudam; que trabalha, de fato, para a Economia especulativa e para a Política perversa.
Se o Ensino é o que é, a Política (em boa medida) só poderia ser um refugio de corrompidos. E a Economia, um refugio de corruptores...
Não serão os políticos que agora mandam, nem os empresários que estão presos, os que vão salvar o Brasil. No melhor dos casos, a verdadeira salvação vai precisar do trabalho heróico de três ou quatro gerações de verdadeiros patriotas, sem vícios de formação.
E nada será possível nem verdadeiro sem recuperar com urgência a participação e o compromisso da Inteligência afastada, ignorada ou perseguida.




