![](/wp-content/uploads/2017/08/Cecília-Horta2017.jpg)
Quedai-vos vigilantes e à escuta, ó solitários! Chegam ventos, do futuro, com misterioso bater de asas; e trazem boa nova aos ouvidos finos. (Friedrich Wilhelm Nietzsche)A ABMES, aniversariante de agosto, tem vivido importantes momentos que marcaram (e marcam) a sua história e que explicam a sua forte presença no cenário educacional brasileiro. As comemorações de tão importante data deram um brilho especial à semana que passou com destaque para o lançamento do Memorial Comemorativo, realização de seminário, elaboração de artigos, confraternização em jantar de gala, amplamente divulgados nas redes sociais da ABMES. Recomendo firmemente uma visita ao site, ao blog e à página da Associação no Facebook. Esse manancial de informações, competentemente preparado, mostra com clareza que os diferentes olhares voltados à ABMES têm seu foco, sempre envolto em valores e crenças, o que demonstra uma salutar diversidade de opiniões. A história é feita assim; todos nós sabemos. Desse modo, proponho-me a destacar alguns fatos que, no meu olhar, marcaram a história da Associação. Refiro-me à participação na Comissão Affonso Arinos, criada no governo José Sarney, à assunção do protagonismo no debate do ensino de graduação no país e à consolidação de seu projeto institucional, aberto para o futuro. Por primeiro, a Carta Magna de 1998[1] ofereceu ao país lineamentos básicos sobre a organização da universidade pública ou privada, fixando uma diretriz de seu tratamento como instituição. Candido Mendes, primeiro presidente da ABMES, compôs a Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, conhecida por Comissão Affonso Arinos, responsável pela elaboração do Anteprojeto Constitucional para a Carta de 1988. Embora o Anteprojeto não tenha sido formalmente adotado pela Assembleia Nacional Constituinte, seu conteúdo exerceu grande influência sobre o trabalho dos parlamentares. No que se refere à livre iniciativa na educação, Candido destaca como conquistas os princípios contidos nos artigos 1º, 205 e 209 — valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; educação, direito de todos e dever do Estado e da família, promovida e incentivada com a colaboração da sociedade; ensino livre à iniciativa privada, entre outros. Para Candido, sempre atual nas suas reflexões, “a educação não é tarefa exclusiva do poder público e supõe a coadjuvação do esforço direto, e auto-organizado, da coletividade (...). No próprio embrião da atividade educacional, reconhecida pela Carta, instala-se, pois, a paridade entre ambos os agentes para realizá-la. Por isso mesmo, não existe a figura da concessão no acesso do ensino privado à educação, nem jamais foi ela considerada como um serviço público. É, sim, concurso conjunto, convocado pela própria urgência com que essa atividade se coloca como um dever social e nessa dimensão, cogente e prioritária, exorbita das forças do Estado.”[2] Segundo, a ABMES, no início da década de 1990, com grande sabedoria e visão de futuro, aproveitou o vácuo deixado pelo Ministério da Educação (MEC) no debate nacional sobre o ensino de graduação – que envolvera, de forma inédita, a Secretaria da Educação Superior (SESu/MEC), o então Conselho Federal de Educação CFE e as instituições de ensino superior (IES), notadamente as particulares –, e passou a assumir o protagonismo de tão importante desígnio. Aí está a raiz dos seminários mensais, das pesquisas, da produção de conhecimento sobre o ensino de graduação, das publicações da ABMES Editora e das articulações com o MEC e o Congresso Nacional. Esse movimento tem contribuído — ao lado de outras atividades igualmente importantes e da visão política dos dirigentes da associação —, para a consagração definitiva da ABMES na representação do ensino privado no Brasil. Finalmente, com a consolidação, fortalecimento e ampliação desse conjunto de ações e atividades, a ABMES caminhou celeremente para uma etapa de modernização de seu projeto institucional. Sua pujança atual pode ser facilmente percebida pela contribuição expressiva nas análises, discussão e na apresentação de propostas relativas ao ensino superior particular. Em consequência, aumentou sua visibilidade pela forma ágil na comunicação com os diversos setores organizados da sociedade que, em reconhecimento, alçaram a Associação ao patamar mais alto da representatividade do setor. Tal como observa sabiamente Cláudio de Moura Castro, o setor privado, por sua complexidade e problemas tem “a necessidade de ser representado por uma organização capaz de entender os meandros do momento e defender com habilidade os interesses dos seus membros. (...) A missão é espinhosa. Operar com competência nesse espaço tão delicado tem sido a marca da ABMES, ao longo de seus 35 anos.” [3] Consciente, pois, de seus desafios — pari passu com os avanços tecnológicos e com o gosto pelo risco —, a ABMES continua no meio da travessia. E ao anunciar “os ventos do futuro que trazem a boa nova”, sente-se capaz de alçar voos mais altos, visando a dar continuidade, com ousadia e competência, à sua nobre missão de contribuir para o fortalecimento da educação brasileira em todos os seus níveis e modalidades. [1] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm [2] https://www.abmes.org.br/arquivos/publicacoes/ABMES_Livro_25_anos_Miolo.pdf pag.14. [3] https://www.abmes.org.br/arquivos/publicacoes/memorial_35anos_web_smallest.pdf pag.64.