Domingo Hernández Peña
Escritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
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O Brasil está triste e violento porque não cresce. É isso que escuto dizer aos que sabem de tudo, a toda hora, em toda parte e por todos os microfones. Se houvesse crescimento, o melhor país do mundo voltaria a ser feliz. E, para que haja, é preciso perdoar os graves pecados dos que governam; é preciso reeleger aos que mandam; é preciso aumentar os impostos; é preciso leiloar os aeroportos...
Quando falam de crescer estão falando do simples desenvolvimento da economia – de acumular mais e mais riqueza material, com a esperança (ou não, que nunca fica claro), de que o emprego aumente e os impostos facilitem ainda mais a gastança pública.
Tudo muito fácil. Muito falso. Muito inspirado na corrompida tradição de prometer o impossível nas campanhas políticas da democracia que nunca foi, nem é, democrática.
Não é de crescimento do que o Brasil precisa. Muito pelo contrário: a sua terrível situação atual se deve precisamente a que cresceu de forma delirante, com requintes mafiosos, sem contemplações, sem ordem nem concerto, em épocas recentes.
Quando a única coisa que importa é o crescimento (o acúmulo enfermiço de recursos financeiros) é muito difícil evitar que a política e o crime se transformem por igual, em paralelo, em instrumentos de corrupção e de poder sujo e perverso. O que move ao político corrupto é o mesmo que move ao traficante que mata!
Falar de crescimento, só de crescimento, num país onde o sangue derramado enche os noticiários, já é, por si só, um crime de lesa-pátria. E seguirá sendo crime até que alguém entenda que não será crescendo, e sim melhorando, que o Brasil poderá reencontrar-se.
Melhorar? E como se melhora depois de um afastamento tão grande, e tão longo, da lógica e da razão?
Para melhorar será preciso começar tudo de novo: ter um projeto de país, e, depois, uma sociedade consciente para implantá-lo e desenvolvê-lo.
Onde está o projeto? Em quê cabeça, ou em quê cabeças, se esconde? E como se transformaria a sociedade que agora vive mais da realidade virtual que da realidade real; que se engana com um falso ensino superior, sem prestar atenção ao indispensável ensino básico; que vota a qualquer energúmeno, em troca de qualquer miséria?
O que a sociedade não faça por ela mesma, ninguém vai fazer. Ou, dito para que se entenda: os políticos que roubam e os bandidos que matam e traficam não são extraterrestres – são filhos legítimos, representantes lógicos e naturais, agentes, da efetiva sociedade à que pertencem.
Isso quer dizer que não haverá um Brasil novo e melhor com a simples troca de candidatos e a prisão e castigo de malfeitores. A degradação só vai parar de piorar quando se cultive melhor a decência popular.
Estou falando do que menos se fala com compromisso e fundamento, neste momento, no Brasil desconcertado: de Educação.
Não é verdade, não, que para a ressurreição do Brasil existam caminhos alternativos ao caminho da Educação. Esse caminho é lento e difícil, mas também é único. E será mais lento e mais difícil quando fique claro o maior de todos os problemas: que o Ensino Particular que agora está em funcionamento acabe morrendo de morte natural na mesma medida em que morra o Brasil intoxicado. E vice-versa.
A questão é tão grave, e tão urgente, que merece a maior das atenções por parte das entidades influentes, como a ABMES.
Melhor prevenir que arriscar. Ninguém deve ignorar que a democracia dos negócios e o negócio dos diplomas estão amarrados pela mesma sorte, para bem e para mal.
Mais claro ainda: não haverá um Brasil melhor sem mais Educação; e não haverá mais Ensino Particular sem mais qualidade. Lembrem.




