Rainer Marinho da Costa
Consultor Educacional Ower RR consultoria Educacional Legal vinculado a Faculdade Modelo Curitiba e a Faculdade São Braz Curitiba
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Todos os envolvidos no mercado educacional sabem da alta concentração do mercado e do avanço do EAD, a cada ano que passa. Observa-se que a situação das micro e pequenas Instituições de Ensino Superior Particulares (IESPs), que são a maioria (61,2%), diante deste quadro, está cada vez mais grave, levando-as ao estrangulamento financeiro, ao endividamento e evasão de alunos.
Em sua maioria, estas instituições têm de 3 a 5 cursos com 300 a 500 alunos e tem gestão familiar. A primeira providência que muitas tomaram para tentar resolver o problema foi, logicamente, cortar os custos das atividades meios e buscar novas fontes de rendas com aberturas de novos cursos de graduação ou ofertas de pós-graduação. Sabe-se que o número ideal de alunos para uma IESP é 700, contudo, o problema está não na quantidade de alunos, mas como eles estão distribuídos nos seus cursos e séries.
Por não terem fôlego financeiro nem condições de buscar consultorias especializadas que pudessem clarificar seus horizontes, viram na abertura de novos cursos a única solução para superar a crise que se instalara.
Este caminho, todavia, levou as IESPs exatamente ao contrário do que buscavam, pois exigiu um alto investimento para abertura de novas graduações e não resolveu a maior questão destas instituições, pois, apesar do aumento do número total de alunos, as IESPs mantiveram o baixo número de alunos por salas de aulas e, consequentemente, o alto custo da operação.
Numa conta básica, estes cursos têm, em média, 140 a 160 aluno, que, dividido por 8 semestres, colocam 20 alunos por salas e, mesmo que utilizemos turmas com disciplinas em “Pool”, ou seja, disciplinas comuns para vários cursos, este número não melhora muito na média, somente piorando conforme avança o semestre letivo, pois este tipo de oferta se concentra no início dos cursos. E também, a estratégia de manter os alunos de primeiro e segundo semestres na mesma turma, também não se revela a melhor solução, pois ao fim do curso, de toda a forma, há um esvaziamento.
Então qual caminho a ser trilhado? Primeiramente, buscar informações sobre como realmente está funcionando os novos processos avaliativos e regulatórios do Inep e do MEC, deixando para trás os antigos preceitos que tanto guiaram o ensino superior. Isto é importante pois estas instituições, muitas vezes, ainda estão pautadas pelas velhas regulamentações, com uma visão de que elas não podem inovar ou, até mesmo, não podem ter uma postura crítica diante de uma comissão de avaliadores do Inep, inclusive suspendendo uma avaliação ou recorrendo de um resultado na CTAA.
Tendo esta consciência, o que fazer para concorrer e sobreviver? Usar as armas do inimigo!!!
Quem seria o maior inimigo da micro e pequena IESPs?
Os grandes players do EAD que, pelo custo menor e pela agilidade, além da ampliação da oferta, em função da nova legislação de abertura de polos pela nota de CI, vão impactar diretamente nestas instituições, seja nas capitais ou no interior, sobretudo nas pequenas cidades antes redutos das micros e pequenas IESPs, pois não havia interesse comercial para esses concorrentes.
Mas o que quer dizer usar as armas do inimigo?
Primeiramente, pensar em uma matriz curricular flexível modular, com a possibilidade de “rodar”, de tal forma que o aluno ingressante possa entrar em qualquer sala, extinguindo as turmas por semestres e evitando, ao máximo, os pré-requisitos das disciplinas com numerações as tornado independes e completas nelas mesmas.
Para tanto, é necessário fazer uma revisão curricular criando-se matrizes por núcleos de conhecimento. A melhor base para isto é a Diretriz Curricular do curso de Administração, que divide o curso em Núcleo Básico, criando disciplinas a serem ofertadas a todos os cursos da instituição, abrindo-se, assim, a viabilidade econômica da oferta em EAD. O Núcleo Instrumental Quantitativa, também ofertadas aos cursos afins da instituição, podendo viabilizar o seu uso nos 20% do semipresencial. O Núcleo Profissional, sendo também ofertado de forma alternada com as eletivas, ou seja, são profissionais aqui, e eletivas, num curso afim. Assim, agrupamos nas salas os alunos de cursos diferentes, pois a disciplina profissional de um curso, pode ser a eletiva de outro e, por fim, o núcleo de eletivas que são coringas.
Num segundo passo, tem-se que mudar a forma de pensar a matriz curricular. Ela não pode mais ser uma grade curricular que aprisiona as disciplinas. Estas precisam ser livres e correr soltas na matriz, ou seja, a matriz tem que ser flexível modular e somente ter poucas disciplinas com pré-requisitos e também terem carga horária e nomenclatura padronizadas de preferência. Neste sentido, se a sala tem 40 carteiras no semestre, independe do “semestre letivo” do aluno”, o aluno calouro ficará com o veterano, fazendo com que a sala nunca fique vazia.
É como um trem em movimento que a cada parada, processo seletivo, no qual sai aluno, também sobe aluno no mesmo vagão, assim como ocorre em muitos EADs: as disciplinas são ofertadas naquele semestre, tanto para os entrantes, quanto para os veteranos.
Outra possibilidade é trabalhar com entradas bimestrais e não semestrais, por dois motivos: pedagógico e financeiro. Com menos disciplinas e mais tempo com os professores em sala de aulas, o desempenho acadêmico dos alunos melhora e o professor tem que preparar melhores aulas com metodologias mais dinâmicas e participativas pois tem mais tempo junto aos mesmos. Pelo ponto de vista financeiro ganha o aluno e a IESP; o aluno, que caso desista do curso no meio do semestre não perde o tempo nem o valor que pagou, e a IESP, que repõe a evasão o tempo todo podendo chegar ao fim do ano com o mesmo número de alunos.
Desta forma, em vez de se ter 8 turmas de um curso rodando, tem-se somente 3 turmas de 40 alunos para um curso de 120 alunos ou 4 turmas para 160 alunos.
Logicamente, além deste caminho, muitas micro e pequenas IEPs usaram os recursos de diminuição da carga horária de sala de aula, pois temos 10% de atividade complementar, mais 10% de estágios (para alguns cursos até mais), 20% de semipresencial, e teremos, a partir de 2018, mais 10% de extensão. Ou seja, 50% de curso presencial poderá ser feito fora da sala de aula.
Mas até que ponto isto garante a qualidade de ensino que a IESPs são cobradas, sobretudo no Enade, na formação dos seus alunos.
Um ponto importante, nesta proposta relatada, é a necessidade de uma didática e de um processo avaliativo diferenciados, pois em algumas instituições, nas quais foram implantadas esta proposta, e que não se deu a devida atenção a esses quesitos, os resultados do Enade foram bem negativos.
Por que isto?
Ao juntar alunos com ingressos diferentes em uma mesma sala deve-se ter, primeiramente, a preocupação quanto a didática de aula, não podendo nos prender a aulas tradicionais, por isto tem que ter uma aula estruturada baseada em metodologias ativas para provocarem a maior integração
O sistema avaliativo tem que ser pensado de forma integrada e controlado pela IESPs, e baseado um tripé: nota do professor em sala de aula pelas atividades desenvolvidas, projetos integradores que levem os alunos a pesquisa e reflexão constante, e não um TCC, ao fim do curso, que na maioria dos casos, acaba sendo um mero exercício das regras da ABNT, e concomitantemente, uma prova integrada de todas disciplinas do semestre, com questões dissertativas e objetivas, no molde do Enade, enviadas, antecipadamente, aos coordenadores e devidamente aprovadas.
Finalizando, acreditamos que este caminho é possível, e tem sido adotado, com sucesso, em algumas instituições, sendo a mais recente a Faculdade Modelo em Curitiba. Como resultado da implantação desse novo modo de funcionamento, conseguiu sair de um CI 2 em 2012 para CI 3 em 2015. O curso de Administração, depois de dois Enade em 2009 e 2012, obteve, em 2015, com dois anos no projeto, a nota Enade 3 e seu curso de Pedagogia, com nota Enade 3, obteve nota 4. Outro ponto importante nessa experiência é que em 3 cursos saímos de 16 turmas para 6 turmas e de 40 professores para 18 professores.




