Como explicado no artigo anterior, a internacionalização do Ensino Superior é basicamente composta por camadas, como um conjunto de ações diversas que se completam. Já abordamos também aqui questões como a definição do processo e o primeiro passo para adotá-la, EMI[1] (um dos meios pelo qual a comunicação e a troca internacional acontecem) e cases nacionais e internacionais que podem ser estudados como inspiração para instituições que desejam seguir esse caminho. Cada um desses temas pode ser entendido como aprofundamentos necessários a uma ou mais etapas dessa pirâmide que move a implementação e a sustentação do processo de internacionalizar o programa de educação.
Basicamente as políticas de idioma existem para orientar as universidades durante o caminho de implantação do processo de internacionalização, mas sua atuação não para por aí. Ela também é importante nas fases seguintes. É justamente a partir disso que são estabelecidas metas para o ensino e definidas quais atividades serão necessárias para alcançá-las. Sua função é servir como uma base que definirá parâmetros – um conjunto de métricas para que a IES consiga medir o progresso em direção aos seus objetivos.
Currículo, avaliação, professores e recursos O documento é formado por quatro grandes pilares, áreas principais que precisam ser desenvolvidas, pensadas e estruturadas com muito cuidado, sempre por várias mãos. Para chegar a uma versão final, vários são os departamentos que possuem contribuições: cargos de liderança, corpo discente e as diferentes escolas da instituição.
É importante ressaltar também que quando fechado o conteúdo deve estar disponível, compartilhado e visível para toda comunidade estudantil pelo portal oficial e canais de comunicação.
Currículo
É por meio dele que se definem quais padrões são desejados pela instituição e também o caminho que será trilhado para atingi-los. Os cursos que farão parte do programa de internacionalização são totalmente estruturados a partir disso e é nesse momento que há a necessidade de tomar algumas decisões, por exemplo: adotar o inglês como meio de instrução (EMI) ou integrar o ensino de conteúdo ao ensino da língua, como na abordagem CLIL[2].
No caso do EMI, temos um material falando a respeito dessa prática aqui. É importante se atentar ao fato de que os estudantes precisam estar preparados para aulas ministradas em inglês. Isso nos leva para o segundo ponto da política de idiomas: avaliação.
Avaliação
A avaliação é uma parte que precisa estar presente durante todos os estágios da internacionalização. Ela é cíclica. Na fase de planejamento da política é essencial que sejam definidos meios e parâmetros que trabalharão a favor dos diferentes momentos do processo, como ferramentas para diagnosticar os níveis de inglês dos alunos ingressantes, comprovar proficiência mínima no idioma para ingresso em determinados cursos; acompanhar periodicamente o desenvolvimento linguístico durante a aplicação dos programas e currículos de uma IES; e ao final dos estudos, possivelmente agregar à formação dos alunos certificados internacionais reconhecidos amplamente para melhores chances de trabalho e de educação continuada.
Professores
Outra parte fundamental desse ecossistema são os docentes. É preciso entender se eles estão alinhados com os objetivos da instituição, se conseguem passar toda essa mudança para os alunos e se, acima de tudo, estão preparados metodologicamente para a mudança. Os professores de instituições de Ensino Superior já têm as formações exigidas por lei: pós-graduação, mestrado e/ou doutorado, mas quando pensamos em um programa internacionalizado, padrões linguísticos são importantes e muitas vezes não estão contemplados nesse ciclo de capacitação.
Durante a elaboração da política de idiomas é preciso pensar no apoio que a instituição fornecerá para o desenvolvimento de conhecimento e habilidades complementares. A formação continuada dos professores não significa apenas ministrar aulas de inglês para os discentes, mas sim o aprofundamento do conhecimento sobre metodologias para que eles se sintam seguros em lecionar as suas disciplinas utilizando como meio outra língua que não a sua materna.
Recursos
Aqui nós nos referimos aos materiais didáticos que farão parte do dia a dia tanto de alunos como professores. Eles são a base do ensino e por isso precisam ser escolhidos e revisados com muita clareza. Sua escolha deve estar alinhada ao currículo, ao formato de avaliação adotado e ao desenvolvimento dos professores. Podemos pensar nessa como a última parte, que fecha e une todo o documento.
A partir do momento em que as quatro áreas são contempladas e que a política de idiomas produzida é colocada em prática, é de extrema importância revisar periodicamente essa estrutura para avaliar se os resultados esperados estão se concretizando. É preciso encará-la como um documento vivo, que muda constantemente, que é construído pela comunidade e que vai se renovando e crescendo junto com a instituição à qual pertence.
E, por fim, é preciso entender que não existe certo e errado nesse contexto. É necessário lembrar que tudo em uma política de idiomas precisa ser pensado para caber dentro da realidade de uma instituição.
______________________________________________________
[1] English as a Medium of Instruction
[2] Content and Language Integrated Learning