Fábio José Garcia dos ReisDiretor de Operações - Centro Unisal Lorenawww.fabiogarciareis.com*** Os rankings geralmente são contestados em função de seus critérios, mas servem de parâmetro de comparação, especialmente, quando a metodologia é pública e coerente. Em setembro de 2010, Times Higher Education (THE) publicou o ranking das melhores universidades do mundo. Nenhuma instituição de educação superior (IES) brasileira entrou na lista das 200 melhores universidades. No último dia 10 de março, THE publicou o ranking da reputação elaborado a partir da opinião de mais de 13 mil acadêmicos. Cada pessoa consultada indicou 10 universidades.
O ranking fez uma classificação das 100 universidades de maior reputação do mundo. Os Estados Unidos tem 45 universidades, a Inglaterra 12, o Japão 5, Canadá, Austrália, Alemanha e Holanda 4, Suíça e Suécia 3, China, Hong Kong, França, Singapura e Coréia do Sul 2 e Rússia, Bélgica, Taiwan, Índia, Finlândia e Áustria com 1 universidade.
Quando cruzamos as informações dos dois rankings constatamos que os resultados são semelhantes, mesmo que várias universidades ocupem colocações diferentes. O ranking publicado em setembro de 2010 avalia 13 critérios, o que justifica as diferenças no resultado final.
O fato é que as universidades brasileiras novamente estão fora do ranking internacional do THE. O resultado demonstra que nossas universidades não são competitivas quando a comparação é internacional. Em dezembro de 2010 o Jornal Folha de São Paulo publicou um artigo que compara os investimentos em pesquisa. A USP não soube declarar o quanto investe, a UNICAMP gasta R$ 248 milhões, enquanto Harvard, primeira colocada no ranking de reputação, investe R$ 1,19 bilhões. A diferença dos investimentos em pesquisa explica a pouca competitividade de nossas universidades.
O ranking de reputação verificou parâmetros de ensino e pesquisa, além da experiência acadêmica internacional da universidade. Sobre a experiência internacional, sabemos que nossos resultados são pífios. Sem dúvida, o Brasil investe na formação internacional de seus professores universitários, mas é necessário dar condições para que os pesquisadores não fiquem com as mãos amarradas em função da burocracia e da falta de recursos financeiros quando retornam para o país. É preciso também criar indicadores para verificar os resultados efetivos da formação internacional dos pesquisadores.
O Brasil precisa ter um conjunto de universidades que participam intensamente das redes de cooperação internacional, atraiam professores e estudantes estrangeiros, produzam conhecimento, invistam em pesquisa e que, efetivamente, sejam universidades de classe mundial.
A competitividade das universidades está na capacidade de produzir conhecimento que gere benefício para a sociedade, diversifique as fontes de financiamento da própria universidade (as universidades públicas federais e estaduais não podem manter-se exclusivamente pelos recursos do governo), fomente a produção de novas tecnologias e inovações em diversas áreas do conhecimento, traga soluções para a melhoria de vida, intensifique a parceria entre universidades e empresas públicas e privadas. O Brasil precisa de universidades empreendedoras.
O mercado da educação superior avança nos sistemas de educação em todo o mundo e abre possibilidades para as universidades fazerem diversos negócios e gerar recursos. O conceito de mercado aqui não é da compra e venda de universidades e nem da mercantilização da educação, mas sim da possibilidade do comércio de serviços educacionais, da produção de pesquisa vinculada e financiada pelas grandes empresas, da necessidade das universidades brasileiras implementarem a cultura empreendedora.
Os dirigentes das universidades públicas definitivamente precisam investir no relacionamento com o setor privado. Não se pode admitir reações conservadoras e que estão na contramão da realidade mundial, como a que aconteceu no início de 2010 quando o curso de Direito da USP recebeu R$ 2 milhões em doações para reformas de salas de aula e auditório e houve uma série de protestos, pois os doadores teriam seus nomes contemplados nas salas de aula do curso. O resultado foi que a doação não se concretizou. O Reitor da USP, João Grandino Rodas, tenta fazer da universidade uma instituição competitiva, mas enfrenta reações típicas do corporativismo que teme reformas que transformem a universidade em uma instituição de classe mundial.
Hélio Schwartsman articulista da Folha de São Paulo indica dois caminhos para a USP: a) fortalecer o processo de inclusão e expandir-se; b) tornar-se uma universidade de elite. Para ele a USP está no meio do caminho, o que é a pior situação. Acredito que o processo não pode ser o da expansão do número de alunos e de cursos. A USP e a UNICAMP, além de mais uma ou outra universidade federal, precisam se tornar universidades de classe mundial, competitivas e com reputação legitimada internacionalmente.
A competitividade da universidade qualifica o valor de sua marca, garante prestígio e reputação reconhecida pela comunidade acadêmica internacional. As universidades com reputação tendem captar mais recursos financeiros, fortalecer a capacidade de investimento em pesquisa a atrair os melhores professores e alunos. A reputação legitimada internacionalmente abre caminho para cooperação, mobilidade e uso do valor da marca no mercado da educação superior.
Há estudos que quantificam o valor da marca das universidades “tops”. Algumas universidades possuem um valor financeiro semelhante ao valor de grandes companhias multinacionais:
Fonte: Times Higher Education
O secretário de Educação Superior do MEC, Luiz Cláudio Costa, em entrevista para a Folha de São Paulo, reconhece que é preciso melhorar a situação das universidades brasileiras. Costa fez algumas afirmações que são significativas: “Ter universidades entre as melhores do mundo não é status, mas desenvolvimento social, econômico e ambiental”, “As universidades bem colocadas nos rankings internacionais são as que recebem mais recursos per capita”. Para Costa três pontos serão focos de ação: mais investimento, maior integração e mais autonomia.
Philip G. Altbach organizou um estudo sobre universidades de classe mundial: “Leadership for world-class universities: challenges for developing countries”. Esse estudo deve ser referência para os dirigentes do MEC. As universidades de classe mundial e com mais reputação investiram em talento e recursos para a pesquisa e inovação, qualificaram o processo de decisão (governo e estilo de liderança) e a gestão, e definiram o planejamento institucional a partir dos melhores indicadores internacionais.
Como a reportagem da Folha mostrou no dia 10 de março, o Brasil avança na economia, mas é o único país dos BRICs que não tem universidade entre as 100 melhores avaliadas pela reputação no mundo.
Simon Schwartsman publicou em seu blog uma bela reflexão sobre as dimensões do ranking internacional. Segundo ele, o Brasil precisa se preocupar por estar fora dos rankings, em função da pouca capacidade competitiva do nosso sistema de educação. Ele também defende que o Brasil tem que ter “pelo menos algumas universidades capazes de participar de forma mais intensa dos circuitos internacionais de conhecimento e cultura”.
Simon acerta ao afirmar que muitas de nossas universidades públicas ainda funcionam como repartições públicas e que tendem ao provincianismo. Se as universidades públicas tendem ao provincianismo, imaginem a quantidade de IES no Brasil que estão completamente distantes de qualquer tipo de cooperação internacional ou que reagem aos processos de formação de rede. Esta situação empobrece o nosso sistema educacional. O risco é de que o sistema brasileiro de educação superior permaneça na periferia dos sistemas competitivos que produzem conhecimento e atraem os melhores talentos.
Temos um sério problema cultural: de modo geral somos lentos na implementação das mudanças que são necessárias e prestamos pouca atenção nos parâmetros dos melhores sistemas de educação. Os rankings internacionais que demonstram os resultados da educação indicam que o Brasil ainda tem um longo caminho para tornar-se um país competitivo.




