Desafios e soluções para uma instituição de ensino na crise da Covid-19

Roberto Lobo e Silva Filho Professor Sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e Diretor do Instituto Lobo Carlos Rivera Diretor Geral do Colégio e Faculdade Pentágono de Santo André e avaliador de cursos de graduação do INEP/MEC *** Definitivamente, na gestão de organizações complexas como instituições de ensino, não há espaço para amadores, sobretudo em época de crise. Instituições de Ensino de todo o mundo passam por um momento delicado, com maior ou menor grau de dificuldade diante da decretação da pandemia do coronavírus. Desafiadas por uma situação inesperada, se viram obrigadas a reorganizar suas operações para enfrenta, não apenas os impactos causados pela pandemia, mas sobretudo os desdobramentos que surgirão durante o pós-crise. Realizamos um estudo no qual a pandemia não foi o foco de observação do estudo, mas sim o alto grau de incerteza e singularidade gerado por ela, bem como os eventos indesejados, inesperados e sem precedentes que mexem e geram descrença e angústia com relação ao futuro das instituições. Portanto, a pandemia gerada pelo Covid-19 será tratada como “crise”. No trabalho completo, disponibilizado pela ABMES, o leitor observará seis divisões de uma forma didática:

Introdução do problema,
Análise da situação,
A inadimplência,
A evasão,
As preocupações com a aprendizagem,
A preparação para o retorno.

Dois pontos merecem destaque: a importância da liderança para a mobilização dos diversos atores na busca de soluções e a relevância de uma instância coletiva (Comitê Gestor) para subsidiar decisões e ações dos diversos setores e auxiliar nas grandes questões da gestão, tendo como princípio fundamental o respeito à missão e aos valores institucionais. Durante a crise, a instituição analisada decidiu centralizar todos os dados e informações que chegavam ou saiam de seu campus. Da mesma forma, houve uma centralização na definição de ações a serem tomadas em função das demandas que surgiram, bem como em todo o processo de comunicação com a comunidade acadêmica, o que se configurou como uma decisão acertada. Um fato interessante a ser observado é que esta estratégia fora identificada na análise SWOT. Aliás, a análise cruzada do SWOT - bem detalhada no artigo completo - não ficou na mera listagem de pontos fortes e fracos. Com o cruzamento dos ambientes interno e externo, ficaram evidenciados os pontos onde ocorreriam maiores tensões, bem como as ações preventivas que deveriam ser tomadas para aliviá-las. Tecnologia da informação e comunicação, corpo docente, tratamento das reclamações, falta de reservas financeiras, possibilidade de aumento da inadimplência, riscos de evasão, transparência interna, movimentos políticos para diminuição do valor das mensalidades, inexperiência em instruções online, entre outras coisas- como conciliar tudo isto? Na íntegra do material são apresentadas as estreitas conexões entre estas questões. A inadimplência, uma velha companheira das instituições de ensino, foi gerenciada a partir de procedimentos que já vinham sendo adotados e incrementados à situação de crise. Há um detalhamento na inadimplência de 30 dias, vinculada diretamente aos compromissos de curto prazo e os resultados apresentados na linha do tempo sinalizam que a postura adotada pela instituição foi satisfatória, uma vez que os indicadores se mostraram compatíveis com o mesmo período do ano anterior. A crise gerada acabou provocando desequilíbrios financeiros que fizeram com que estudantes e familiares adiassem seus projetos educacionais, desembocando no aumento da evasão. Os dados e gráficos estão disponibilizados no artigo completo. Com os estudantes impedidos de desenvolver atividades presenciais, a partir de março a Instituição aumentou seu foco na busca de alternativas para o atendimento às necessidades impostas pelo planejamento acadêmico do período letivo, discutindo, testando e implementando metodologias de ensino que, em curto espaço de tempo, tiveram que ser disponibilizadas ao corpo discente. Uma pesquisa realizada com os estudantes revelou que praticamente dois terços das respostas sinalizaram perdas de aprendizagem e esta questão se apresentou como crítica, até porque há pouco histórico de monitoramento para concluir qual o percentual de perda que esta situação pode gerar para o desempenho adequado dos discentes. A instituição decidiu que todo o planejamento para o segundo semestre e para o ano de 2021 precisaria ser revisto. Outro dado que chamou a atenção no levantamento foi o fato de 32,5% dos estudantes não se declararem aptos emocionalmente para a crise. O isolamento causado pela crise possui aspectos adicionais de trauma para os estudantes como a perda de recursos e de oportunidade de aprendizado que vão muito além do que podemos monitorar. A crise da pandemia também deixou claro que as atividades de educação a distância precisam ser incorporadas e aprimoradas, de modo a fazerem parte do cotidiano dos alunos, na sua melhor forma e com todo o seu potencial, complementando ou substituindo com qualidade e sempre que necessário e desejável, parte das atividades presenciais. Mesmo que os estudos até agora desenvolvidos apontem para impactos potenciais na vida e na aprendizagem dos alunos (com base em diferentes suposições feitas sobre a situação atual), pensar em como lidar com o problema pode auxiliar na formulação de estratégias e ações para o acolhimento dos estudantes no retorno às atividades presenciais. Além da preocupação com a biossegurança na forma de protocolos, o artigo aborda cinco pontos que serão implementados levando-se em conta os aspectos acadêmicos:

Primeiro - proporcionar aos professores oportunidades de apoio psicoemocional prévio, fortalecendo-os para a retomada dos trabalhos presenciais. Segundo - garantir que os estudantes possam assimilar os conceitos básicos e essenciais de cada disciplina. Terceiro - preparar os professores para o trabalho com turmas heterogêneas e discutir alternativas de aprendizagem individualizada. Quarto - incluir alternativas de apoio à aprendizagem para os alunos mais afetados pelo fechamento temporário da Instituição, com a utilização de tutores e utilização de plataformas digitais. Quinto - Há uma variável também determinante no processo de aprendizagem que é o bem-estar emocional.

A compreensão desses impactos e a melhor forma de apoiar as necessidades sociais e emocionais do corpo discente no pós-crise será essencial. Neste sentido, será estruturado um programa de capacitação ao corpo docente para dar suporte psicoemocional a estes estudantes. O trabalho realizado teve como objetivo específico relatar como uma instituição de ensino, atuante no ensino privado interpretou um cenário crítico, mobilizou suas principais lideranças e conseguiu, de certa forma, otimizar seus recursos durante o enfrentamento dessa crise. Pretendem com esse relato contribuir para estudos de casos que envolvam enfrentamento de crises. Confiram também o podcast "e por falar em educação - episódio 4", no qual tratamos um pouco mais sobre o tema.

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