Muitas têm sido as mensagens trocadas entre as pessoas que tiveram o privilégio de conviver com o Professor Gabriel Mario Rodrigues, bem como as matérias veiculadas na grande mídia, após a sua passagem para outra dimensão, no dia 9 de janeiro deste ano. O conteúdo delas, como era de se esperar, é de reverência e respeito à sua memória e à grandiosidade de sua vida e obra.
Lembrando-o como se assistisse a um bom e belo filme, de fotografia nítida e suave, volto o meu pensamento para os temas mais recorrentes de seu discurso e para as suas ações, como forma de compor um quadro de referências sobre este grande educador, e criador de um dos mais importantes grupos educacionais do país, diante da complexidade do ensino superior brasileiro.
A trajetória de Gabriel foi intensa, brilhante e vitoriosa. Por mais de meio século, ele protagonizou momentos cruciais da educação brasileira, valendo-se de contribuições importantes, desde a elaboração da Carta Magna de 1988, até à definição de normas regulamentadoras do ensino superior brasileiro.
Vocacionado visceralmente para o diálogo, o olhar de lince de Gabriel privilegiou a representatividade do ensino particular no sistema federal de ensino, a valorização do setor privado pelo estado e pela sociedade, a segurança jurídica das instituições, como condição fundamental para o cumprimento das normas legais em vigor, e a importância da avaliação da qualidade do ensino. O seu empenho, força e determinação na defesa de suas ideias sempre mereceu reconhecimento por parte da sociedade, das instituições de ensino superior, dos órgãos governamentais e de seus pares.
As suas gestões inovadoras à frente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) foram cuidadosas e, sobretudo, respeitosas com os importantes legados de seus antecessores — Candido Mendes e Édson Franco —, com os quais manteve grande afinidade intelectual e política. Desse trabalho compartilhado, a Associação passou a ocupar um lugar de destaque entre as entidades representativas do ensino privado no país.
A paixão de Gabriel pela virtualidade da comunicação era uma característica forte, inovadora, e capaz de alertar as pessoas para o perigo dos julgamentos precipitados e preconceituosos sobre as novas tecnologias e o ensino virtual. Como um visionário, ele parecia querer chamar a nossa atenção sobre a necessidade de estarmos preparados para atender às urgências dos novos tempos, embora não pudesse imaginar que uma pandemia, tal qual a que assola hoje o nosso combalido país, pudesse colocar o ensino remoto em patamar primordial para minimizar os graves problemas à oferta do ensino em todos os níveis.
Gabriel trabalhou até os últimos dias de sua vida, sem perder a confiança no Brasil. Recentemente, disse: “É preciso reorientar o país para um novo tipo de progresso baseado na solidariedade, diversidade, compreensão da real dimensão dos problemas sociais agravados com a pandemia e, sobretudo, pela oferta de uma educação de qualidade para todos”.
Gabriel era um homem bom, o que me faz lembrar Santo Agostinho: “Sendo o homem imagem e semelhança do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar…” e, eu completaria: e de ser amado e reverenciado pelas pessoas com as quais conviveu.
Nesse sentido, a frase dita por Guimarães Rosa por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967 — “O mundo é mágico: as pessoas não morrem, ficam encantadas… a gente morre é para provar que viveu”—, garante a perenidade do legado do Professor Gabriel Mario Rodrigues, para sempre, entre nós.
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