A demanda por mão de obra qualificada na área de tecnologia, que já era crítica antes da pandemia, foi potencializada nos últimos dois anos. E essa afirmação não é novidade para alguém que seja minimamente conectado com o mundo que o cerca. O distanciamento social imposto desde março de 2020 levou o desenvolvimento da “sociedade 4.0” a patamares nunca antes imaginados, por mais otimistas que fossem as previsões nesse sentido.
De acordo com o site de classificados de emprego Catho, só em 2020, a procura por profissionais de tecnologia cresceu mais de 670% no estado de São Paulo. E a expectativa é de que essa seja uma área que siga aquecida por muito tempo. Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o setor deve demandar 420 mil novos profissionais somente até 2024.
Contudo, o que poderia ser uma boa notícia para um país com altas taxas de desemprego acaba, no fim, jogando luz sobre um dos grandes entraves para o nosso desenvolvimento: a baixa escolaridade da população brasileira, devidamente acompanhada da pouca formação profissional.
O descompasso entre a demanda do mercado e a qualificação dos trabalhadores é um componente histórico do círculo vicioso que dificulta o progresso do Brasil. Para se ter ideia, levantamento realizado pelo Senai, UFRGS e a agência alemã de cooperação GIZ, previa, ainda antes dos impactos da pandemia, que a lacuna entre a formação de profissionais de TI e a necessidade de mão de obra seria de 22% em 2023 e de 35% em 2026.
O mundo está cada vez mais imerso em tecnologias como e-commerce, inteligência artificial e metaverso. Associado a isso, estamos presenciando o rápido impulsionamento das “techs”, prova de que todos os setores econômicos estão sofrendo disrupturas em função da tecnologia. Edtechs, fintechs, medtechs e tantas outras são a cara da nova economia global. Ou o Brasil desperta rapidamente para esse novo quadro ou teremos um apagão de mão de obra que, além de travar o nosso desenvolvimento, nos fará reféns de tecnologias que venham de fora.
Não é de hoje que a ABMES despertou para esse cenário e tem atuado para reduzir a distância entre o profissional que o mercado de trabalho precisa e o egresso formado nas instituições particulares de educação superior. Estamos no quarto ano de parceria com a Microsoft em um esforço conjunto para promover a adoção de um currículo de inteligência artificial nos cursos de tecnologia. Além disso, por meio do ABMES Lab, as instituições associadas possuem contato direto, exclusivo e contínuo com soluções tecnológicas da Microsoft que estão revolucionando a educação em todo o mundo.
Trata-se de uma iniciativa relevante, mas que, sozinha, não conseguirá equacionar esse grave problema descortinado diante de todos nós. A demanda por profissionais de tecnologia é grande e vai aumentar exponencialmente nos próximos anos. O alerta foi disparado há algum tempo, mas a sensação é a de que o país segue dormindo em berço esplêndido. O que esperamos?
A formação profissional na área de tecnologia precisa de uma expansão com urgência. O mercado clama por desenvolvedores, analistas de sistema, engenheiros mecatrônicos, condutores de processos robotizados, entre muitos outros profissionais de níveis técnico e superior. Mais do que nunca, gestores públicos e instituições de educação superior precisam olhar com muita atenção para esse setor. E agir para atendê-lo
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