Não faz muito tempo, Mark Zuckerberg conectou-se para uma sessão de perguntas e respostas com sua equipe. Gostaria de ter visto. Especificamente, gostaria de ter
visto com que cara ficou o fundador do Facebook quando um funcionário de Chicago de nome Gary perguntou se os dias adicionais de folga introduzidos na pandemia seriam mantidos. Zuckerberg pareceu “visivelmente frustrado” ao ouvir a pergunta, segundo relato do site “The Verge”. Ele tinha acabado de explicar que a economia talvez esteja afundando. Que o TikTok é uma ameaça e que ele teve de congelar contratações. Portanto, não, Gary de Chicago, as folgas adicionais não vão continuar, nem os tempos de mimar funcionários.
Não tenho a menor ideia da idade de Gary, mas considerando que a média de idade de um funcionário do Facebook é 28 anos, duvido que ele tenha visto os primeiros passos dados pelo homem na Lua. Também penso que muitos chefes iriam gostar do que Zuckerberg disse.
Em um momento em que o trabalho volta a algo próximo da normalidade pré-covid, perdi a conta das reclamações que ouvi de diretores, a maioria no fim dos 30 e dos 40, sobre funcionários mimados, indiferentes e desmotivados de vinte e poucos anos. Aqui vão alguns exemplos.
Houve o caso do investidor que disse aos funcionários novatos que eles deveriam estar no escritório quando os clientes viessem, só para acabar ouvindo: agradeço o “feedback”, mas prefiro continuar trabalhando de casa.
Houve o caso do executivo de TV a quem foi dito que funcionários jovens que trabalhavam em longas filmagens prefeririam um expediente mais curto quando tivessem de sair da sede.
Um consultor me contou de um colega mais jovem que se recusou a viajar ao exterior para reuniões com clientes, a partir de agora, insistindo que elas poderiam ser on-line. E de um gestor financeiro que ficou irritado com jovens que se conectavam em reuniões internas importantes com câmeras desligadas e não diziam nada.
Sei que essas são apenas anedotas. Algumas das pessoas que trabalham mais arduamente que conheço têm menos de 30 anos, e muito peso tem sido dado a estereótipos geracionais preguiçosos. Além disso, como escreveu o pesquisador britânico e professor Bobby Duffy em seu excelente livro “Generations”, no ano passado, reclamações sobre os jovens remontam à Grécia Antiga, quando Sócrates lamentava o desprezo deles.
Mesmo assim, o puro e simples volume e coerência dessas mais recentes reclamações me põe em dúvida se não está ocorrendo alguma outra coisa. Eliza Filby, uma pesquisadora geracional que presta assessoria sobre como gerir e recrutar pessoas de vinte e poucos anos, acha que está, sim.
Ela me disse que a pandemia intensificou o peso de fatores que distinguem esses funcionários, a começar por seus chefes sobrecarregados, esgotados, de trinta e quarenta e poucos anos. Esses gestores sobreviveram ao baque causado pela incerteza da crise financeira mundial, depois à covid-19, mas, muitas vezes, ainda contavam com a ajuda de seus pais para evitar o desastre financeiro.
Como seria de esperar, diz Filby, seus subalternos novatos perguntam: “Por que você está trabalhando tão duro? Que vantagem isso te dá?”
Além disso, os mais jovens têm uma ideia muito melhor da comparação entre seu trabalho com o que é oferecido em outras empresas, graças às atualizações oferecidas pelas redes sociais.
Eles foram criados sabendo que é possível ganhar dinheiro com sites de comércio eletrônico como o Depop. O resultado disso é que muitos funcionários mais jovens, filhos de pais superprotetores, chegam em seu primeiro emprego sem saber em que medida ele é melhor do que servir cerveja - e com pouca convicção de que ele atenderá às suas necessidades financeiras de toda a vida.
O conselho de Filby: ouvi-los. Oferecer um ótimo treinamento. Mas nunca, de maneira alguma, dar importância a todos os seus caprichos, porque “você não os estará ajudando, na verdade, a enfrentar a vida”. Eu concordo. (Tradução de Rachel Warszawski)
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Por Pilita Clark, colunista do “Financial Times“
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