Prof. Dra. Claudia Forte
Assessora de Cooperação Interinstitucional e Internacional - Universidade Presbiteriana Mackenzie
claudiaforte@terra.com.br
Revista Administrador, Outubro/2011 - nº 340
***Estamos num momento de formação dos futuros administradores, em que há cada vez menos espaço para a discussão das ferramentas e/ou instrumentos de inclusão social. A escola de negócios tem, em geral, uma preocupação muito grande com a geração e acúmulo da riqueza, mas nem sempre despende sua energia na busca de soluções para emblemática pobreza.
Desde o Consenso de Washington, essa realidade parece estar, lentamente, ganhando novos contornos, sobretudo no Brasil. A experiência mundial revelou, por meio da experiência do Grameen Bank e do Nobel da paz Muhamad Yunus, a força do capital social, do aval solidário, que acabaram por minimizar os riscos dos colaterais nas relações de crédito.
Parecem palavras saídas de um mundo irreal? São apenas palavras do cotidiano de uma organização de microcrédito, que no Brasil opera devidamente regulada pelo Bacen. Bancos comunitários? Moeda própria em circulação? Oportunidades de negócio na periferia? Também parece utópico demais para a formação dada aos administradores do futuro.
C.K. Prahalad já disse, em seu celebre artigo, que o pote de ouro está na base da pirâmide. E por que será que esse pedaço da pirâmide é tão renegado pelos administradores? Somos treinados para ocupar postos na alta administração de organizações transnacionais, em bancos de investimentos e na indústria criativa. Mas por que esses novos “postos”, como o de banqueiros comunitários, presidentes de Oscips (organizações da sociedade civil de interesse público), SCMs (sociedades de crédito ao microempreendedor) e agentes de crédito não estão entre o rol de opções dos administradores?
Busca-se nessas “novas” organizações uma gestão profissional, mas que deve ser vocacionada, pois o público-alvo não exigirá que os administradores estejam em seus ternos confortáveis e carros de ar condicionado, não para a execução do trabalho. Necessário é conscientizar os administradores do futuro do seu papel neste cenário.
Responsabilidade social, governança, distribuição de renda e outras práticas socialmente discutidas e aceitas são pauta da formação acadêmica do administrador. A formação humanística do currículo da Administração, muitas vezes, restringe-se à filosofia e à sociologia, outorgando carga mínima ou rasa de compreensão do outro e do entendimento de que um mundo bom é quando é assim para todos e não para um grupo seleto.
Sim, podemos ser banqueiros e não apenas bancários! Podemos num esforço coletivo fundar um banco comunitário, com esforço comunitário e resultado comunitário e compartilhado. Temos hoje, no Brasil, 51 moedas sociais reconhecidas pelo Banco Central, e fica uma pergunta: quantos desses bancos comunitários têm em sua gestão administradores?
Administradores são muitos, mas, destes, poucos são empreendedores. Talvez este seja o X da questão: aproximar o administrador do futuro do comportamento empreendedor necessário, não apenas para se adaptar, se desenvolver e estabelecer uma carreira, mas, sobretudo, para ser capaz de criar o futuro. O futuro da Administração, num mundo com menos pobreza e mais gestão.




