Marco Gregori Diretor do Instituto Superior de Comunicação Educacional (ISCE) Sócio da EduInvest Ltda. Formado pelo ITA, e MBA pela Wharton Business School marcogregori@hotmail.com ***

Na ultima década, o setor de educação passou por uma de suas maiores transformações. Ele se tornou um negócio atrativo para investidores e para profissionais de mercado, atrelado a um crescimento sem precedentes, na mesma medida em que o Brasil voltou a crescer a sua classe media. Com isto, rapidamente atingimos 8 milhões de alunos na educação superior. Tal crescimento trouxe consigo a formação das “holdings” de grupos educacionais, que muitas vezes pareciam e imitavam os modelos de gestão das grandes corporações empresariais. Alguns destes grupos se lançaram no mercado de capitais, que rapidamente cresceram para se tornar entre os maiores do país, e do mundo. Tivemos uma profissionalização intensa, com a saída de muitos grupos familiares que venderam seus negócios para os conglomerados educacionais em formação. Por fim, devido a necessidade de atender os desejos de investidores e acionistas, os grandes grupos educacionais, principalmente aqueles que se abriram a base de acionistas da bolsa de valores, se lançaram em uma consolidação ainda maior de rápida velocidade. O setor de educação se posicionou como um dos mais ativos em fusões e aquisições no país. Tal processo de crescimento, visto também historicamente em muitos outros setores da economia, representa um avanço natural e necessário do setor, e apesar das críticas não se pode negar que sem ele não haveria uma democratização da educação superior para uma base de população que antes não tinha acesso a isto. Gostaria, no entanto, de analisar a questão do alinhamento de interesses dos executivos com propósitos maiores da educação superior. Em linhas gerais pode-se dizer que muitas destas “grandes” empresas quando possuem as Ações Distribuídas na bolsa adquirem uma grande dependência de controle de seus executivos profissionais, que tem objetivos mais imediatos, do qual são cobrados pelo Conselho de Administração e pelos acionistas, e que de maneira genérica significa atingir as metas prometidas, na sua grande maioria metas financeiras e orçamentárias. Além disto, se analisarmos bem a criação de tais grupos, vemos que a grande maioria quis primar pela melhoria da eficiência operacional, ou seja, melhorar a rentabilidade das escolas. Todavia a educação não é um produto de prateleira. A educação, a universidade, tem um compromisso com o ambiente, com a comunidade, onde esta inserida e com seus estudantes. A entidade de ensino superior deve ter um relacionamento, um compromisso, com esta comunidade a longo prazo. Como equilibrar estes objetivos: o de qualidade educacional e atendimento aos ensejos da comunidade com o objetivo financeiro e operacional? Esta é uma pergunta crucial, que não tenho a resposta. Porém, como apontei acima, na sua essência foi o profissionalismo e o acesso ao mercado de capitais que permitiu que milhões de jovens pudessem almejar algo que seus pais nunca tiveram: um diploma de ensino superior. Não podemos, todavia, esquecer a missão do ensino superior. Se não houver um forte laço de entendimento entre a área de negócios e a área Acadêmica, o resultado pleno da universidade não acontecerá. As metas financeiras e operacionais devem envolver um comprometimento com a missão da entidade também. Este alinhamento é fundamental para que a mesma possa prosseguir no seu desenvolvimento futuro.  A entidade precisa manter um forte relacionamento com seus professores e com as entidades governamentais como o MEC. Temos que analisar que o setor educacional como um todo está passando por grandes modificações, e muitas modalidades diferentes estão surgindo. No que se refere as instituições de ensino superior, acho difícil conciliar grande escala com uma oferta excepcional dede qualidade educacional. Aliás, este termo também é controverso. O que significa “qualidade educacional”? Tema para um artigo futuro. Gostaria apenas de terminar sobre meu pressentimento em relação à evolução da educação superior no que se refere a oferta de qualidade excepcional e a implicação disto com seu tamanho. Acho que aí acontece um ponto importante, onde as universidades que quiserem ter maior prestígio terão que forçosamente reduzir seu numero de vagas, focar no mercado nicho, melhorar sua qualidade e infraestrutura e aumentar as mensalidades. Não haverá mercado para o meio termo. Teremos nossas “Harvards” e teremos os “Communities College”. Também acho a educação superior, per se, não será mais um diferencial no currículo de uma pessoa. Haverá uma valorização de que instituição a pessoa será formada, e até que nível ela se graduou, se em mais de um curso, se fez pós, mestrado e doutorado... Realço que não coloco nenhum preconceito sobre os dois tipos. Apenas acho que será o caminho, e que a instituição deve escolher com muito cuidado qual será a estratégia. Seria um erro querer ficar em cima do muro no futuro. Trata-se de uma estratégia de longo prazo, e que merece uma grande atenção, uma difícil escolha, muitas decisões de impacto, e muita ação.