Antônio de Oliveira
Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001)
antonioliveira2011@live.com
***Motosserras avassaladoras transformam a verticalidade exuberante das florestas na horizontalidade de grandes pastagens ou de terras áridas e estéreis; possantes tratores e enormes escavadeiras escalvam o solo, donde despontam cidades verticais, de concreto armado contra a natureza, soterrando o verde. Florestas abaixo e cidades para cima, em arranha-céus que nem desafiantes torres de Babel. É o progresso. Já foi o tempo em que, segundo antigo provérbio alemão, tomado ao pé da letra, o ar da cidade tornava um cidadão livre. No grande cartório do planeta Terra constou inicialmente o seguinte registro: A Terra é de Todos. E o verde também. E consta que, numa das línguas faladas por indígenas na Amazônia, existem mais de vinte expressões para designar a cor verde. Na fecundidade do verde, sutis e infindáveis matizes que se esvaecem com a poluição. Pintores, poetas, ambientalistas têm consciência disso.
Dentre os “Mandamentos de uma nova lei de Deus”, proclamados por Fernando Pessoa, consta este: “Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, exceto que é um mistério, não sabes o que fazes matando ou estragando”.
Um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que todos os povos têm direito a um meio ambiente satisfatório e global, propício ao desenvolvimento. A declaração é válida, mas sua efetivação, mais do que matéria de regulamentação, é matéria de educação ambiental. Infelizmente existem, por aí, praias literalmente sujas de pontas de cigarro, casca de coco, cocô de animais, palitos de picolé, plásticos. Praia vira lixão, tanta é a sujeira acumulada. Sujeira todos os dias do ano. Do meio ambiente, de nome exato, “meio” ambiente, pois já não é mais inteiro, apenas um dia no ano.
No entanto, segundo Goethe, a paz reina nas alturas. E, noutro verso, o poeta zen Basho proclama: “Num atalho da montanha / sorrindo / uma borboleta”. Mas, até quando?...




