Um estudante de Letras, chamado Leandro Machado, acaba de publicar na Folha de S. Paulo (veja aqui) um trabalho bem-humorado e ao mesmo tempo muito sério: “De repente, classe C”. Conta ele, num português limpo e culto, que sempre se havia considerado feliz pensando que era pobre. Porém, de repente, percebeu que fazia parte da classe C, da que todo mundo fala, e à que todo mundo quer vender carros, geladeiras e engenhocas eletrônicas.
Ou seja: de um dia para outro ele sentiu na pele que era o epicentro do consumo compulsivo. Até a sua mãe passou a cozinhar num fogão avançado, cheio de botões e de possibilidades.
Porém, no seu bairro, os ônibus continuaram demorando duas horas, e as ruas não deixaram de ter perigosos buracos, mesmo com a implantação de uma universidade privada em cada esquina. O que, pela improvisação e pelo preço, espantou ao Leandro, que acabou matriculando-se numa universidade pública, “evidentemente”. O que não lhe serviu de muito, porque a pública estava caindo aos pedaços. O que quer dizer que o nosso herói é um consumidor dos tempos da globalização, que vive atormentado pelas precariedades do século passado. Nas universidades não encontra o caminho, e nas ruas só encontra a bagunça acostumada... O Brasil seria isso: um país onde o consumo se desenvolve mais que o conhecimento, e onde o individual é mais importante que o coletivo...
Mas não é só no Brasil, não, onde o mundo parece funcionar ao revés. Na mesma Folha de S. Paulo, no mesmo dia que apareceu o texto de Leandro Machado, outros autores assustam aos leitores com artigos sobre a Soberania Tecnológica, onde o nosso país fica em ridículo quando comparado com a China; sobre a incapacidade europeia para sair do buraco da dramática crise; e sobre os méritos provados dos Estados Unidos, onde, desta vez, “a perspectiva mais normal aponta para uma economia entrando na terceira idade: madura e mais lenta, embora ainda saudável – e extremamente rica”.
Pelo visto, só na América do Norte há alguma esperança. Será casualidade? Talvez não seja por acaso, não, porque é nos Estados Unidos onde mais se pensa e mais se faz, agora mesmo, em quanto à tarefa que neste mundo convulso e contraditório deve corresponder às universidades.
O debate é obvio, mas não pode ser superficial. O que devem fazer pelo País, neste momento de desconcerto, as universidades públicas, por um lado, e as privadas, por outro? Os diplomas que credenciam para o exercício profissional estão com os dias contados? A transmissão do conhecimento pela via presencial está nos estertores? Não é verdade que se aprende, e pode-se aprender, pela Internet, pelas redes sociais, e até nos bares? Estamos já no tempo dos “certificadores”, que poderão ser, ou não, as próprias universidades? O lugar em que se aprende pode ser mais importante que o domínio de conteúdos e competências? As respostas devem antecipar-se, já, e com urgência, ou podem ficar para depois, quando a realidade nos paralise por completo?




