Antônio de Oliveira
Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001)
antonioliveira2011@live.com
***
Tenho o hábito, se não for mania, de me perguntar o significado das palavras e de questionar-lhe o efeito prático na comunicação. No popular, quem não se comunica se trumbica. Basicamente, a gente se comunica argumentando, exemplificando, mostrando, ilustrando, comparando. Assim, hoje em dia se fala muito em empreendedorismo. Afinal de contas, que bicho é esse? Passei a entender melhor o que é empreendedorismo comparando seu significado com rotina, pois empreendedorismo é justamente o oposto de rotina, antirrotina.
Chego a admirar pessoas eficientes que fazem bem o que fazem, todos os dias. São as chamadas pessoas boas no que fazem. Mas aí me vem à lembrança o questionamento feito, pelo Pequeno Príncipe, ao acendedor de lampião que habitava o quinto planeta visitado de acordo com o itinerário de Saint-Exupéry.
– Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião? – É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia – Que é o regulamento? – É apagar meu lampião. Boa noite. E tornou a acender. – Mas por que acabas de acendê-lo novamente? – É o regulamento, respondeu o acendedor. – Eu não compreendo, disse o principezinho – Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia. E apagou o lampião.
É a tal história: ordens são ordens. Ou: foi sempre assim... Ou por decisão judicial. Dizem que decisão judicial não se discute, cumpre-se. Eu, por mim, acho que decisão judicial deve ser cumprida, sim, e de imediato. Mas por que não discuti-la? E se for uma decisão arbitrária? São modos de falar que podem induzir à acomodação, ao simplesmente “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E se quem manda não tem juízo? Empreender significa decidir e tentar. Quem decide corre o risco de errar. Quem não decide já errou. No plano administrativo, mesmice, burocracia que emperra, sendo o caso de perguntar, como no poema Cota Zero, de Carlos Drummond: “Stop. A vida parou ou foi o automóvel?”




