Antônio de Oliveira
Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001)
antonioliveira2011@live.com
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O ser humano se comunica, basicamente, pela linguagem. E de inúmeras maneiras. Pela linguagem revelamos pensamentos e sentimentos. E nos revelamos também. A linguagem, espelho da alma, tem, sim, como função principal revelar pensamentos. Mas insinua também subpensamentos, emoldurados e adornados. Não admira, pois, que a condição de pai se revele como afirmação de posse: tenho um filho, tenho uma filha, tenho filhos...
Ter filhos! Mas como? O sentido comum de ter é possuir. Por natureza, um verbo possessivo, designativo de posse. Engraçado, não tenho filhos. Então você nega a paternidade de seus filhos? Não. Pois sou pai. Ser pai é muito diferente de ter filhos. Ser e ter são dois verbos que se confundem na nossa mente, prevalecendo, na prática, o ter, como ter dinheiro, poder, prestígio, status, fama, casa, carro, ou um objeto de desejo simplesmente descartável.
O ter não adere à natureza; é arrebique, verniz, cosmético. Posso ter hoje e não ter amanhã. Ter filhos e, não, ser pai me parece efêmero, temporário, postiço. Essa é uma linguagem realista, sim, mas de subpensamento dominante, porém escancarado, de cuja mensagem subliminar, preconceituosa, a sociedade não se dá conta. Ah... Se fôssemos condenar todo tipo de linguagem politicamente incorreta! Já o ser, esse é ou se torna inerente à natureza. Ser pai é precisamente DNA.
E, nessa altura, no Dia dos Pais, mais um questionamento gramatical,
ou linguístico. Muita gente considera o verbo ser apenas um verbo auxiliar. Prefiro sua acepção lógica, de verbo copulativo, expressão, aliás, mais forte que verbo de ligação. Ser é um verbo de relação, relação essencial. Hoje, diríamos, relação de conectado. Uma vez conectado no link paternidade, pai para sempre. Assim, claro está: a expressão ter filhos exprime uma afirmação abusiva de posse; ser pai, um sentimento permanente de amor e respeito pelos filhos. Pai não é ser senhor; pai é ser penhor.
Feliz Dia dos Pais!




