Valmor Bolan
Doutor em Sociologia e Presidente da Conap/Mec (Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni)
***Os últimos governos, no Brasil, têm insistido em dizer que não somos mais o país do futuro, pois já estamos perto de sermos desenvolvidos e, portanto, o futuro já chegou. Isso funciona bem como propaganda, ainda mais em tempos eleitorais. Mas, na verdade, as coisas não são bem assim. Não se trata apenas de querer ver o Brasil ser considerado um país desenvolvido, mas que haja realmente as condições para isso, tanto de infra-estrutura, como de investimentos no capital humano, somados numa convergência de fatores que indiquem concretamente os níveis de prosperidade que se deseja alcançar.
O certo é que falta muito ainda para confirmar a chegada do futuro, lembrando ainda a carga ideológica contida na expressão "futuro", que traz em si toda uma concepção de história bastante questionada atualmente. O progresso foi uma das utopias da modernidade, que trouxe expectativas e sonhos, até mesmo melhorias materiais, etc., mas também muitas sombras, uma maior insegurança e uma crescente violência, e outros desarranjos sociais, que levanta dúvidas se o progresso desejado seja mesmo o melhor para a humanidade. É preciso rever muita coisa, portanto, para que não estejamos repetindo erros do passado, em que se pensou um futuro onde tudo é planejado, como se o mundo fosse uma máquina. E, na verdade, os fatos mostraram que o mundo é feito de pessoas, de sentimentos humanos, de cabeças que pensam, e de muitas imprevisibilidades.
De qualquer forma, o caminho mais adequado para concretizar perspectivas melhores, em todos os aspectos, continua sendo o da educação. Pois é por este caminho, que fazemos uma constante avaliação de percurso, corrigindo aqui e ali os equívocos, e buscando novas soluções. O fato é que o Brasil não será o país do futuro enquanto estiver com o nível educacional insatisfatório, em relação aos demais. Por exemplo: o Brasil é um dos últimos colocados em avaliação internacional de qualidade do ensino fundamental. E diante disso fica a perplexidade: até quando continuaremos assim? E o que fazer para mudar essa situação? Entra governo, sai governo, faz-se muita propaganda, mas os fatos comprovam que há muito o que fazer. E há outras indagações inquietantes: são suficiente a melhoria salarial e de ferramentas técnicas para que o ensino melhore? Ensinar é somente repassar conhecimento, mesmo adotando as melhores metodologias de ensino? Sabemos que a resposta é não, e que há muito o que fazer para cortar os inúmeros nós górdios quando se trata da questão educacional.
A Câmara dos Deputados aprovou recentemente a destinação de 10% do PIB para investimentos educacionais, conforme previsto no Plano Nacional de Educação (sinalize-se que somos a favor dos 10%). Talvez o Senado reprove ou, então, a presidente Dilma venha a vetar essa medida. Será mesmo por aí a saída? Só aumentando recurso? Hoje a lei prevê, por exemplo, que todo município gaste obrigatoriamente 25% da arrecadação tributária local em Educação. E as coisas melhoraram com isso? Por que o Brasil continua com avaliação insatisfatória em qualidade do ensino fundamental? Tudo isso nos leva a pensar que o problema não é só de dinheiro, mas de projetos, de propostas, de gestão competente e honesta, de princípios e valores. O fato é que se quisermos realmente que o Brasil seja desenvolvido, deve assumir o desafio educacional como prioridade nacional.




