Domingo Hernández PeñaEscritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
***É verdade: no mundo globalizado, e com as novas tecnologias, é mais fácil levar o conhecimento aos estudantes que os estudantes ao conhecimento. Acontece com o ensino a mesma coisa que acontece com qualquer produto ou serviço, menos com a política. Os mercados já não são “territoriais”, nem previamente definidos. Agora são confusos e difusos, porém quase infinitos. Daí o marketing complexo suplantando a simples e velha publicidade. A demanda criada pode ser maior que a natural.
O que quero dizer é que para estudar em Boston já não é preciso residir em Boston. Pode-se estudar em Boston assistindo às aulas desde um cibercafé de El Cairo, de Lima, de Recife ou de Araraquara. O mundo encolheu e as possibilidades cresceram. Os que não perceberam que tudo mudou têm os dias contados.
Não é por acaso que a Universidade de Harvard, e o MIT, por exemplo, já estejam oferecendo alguns cursos gratuitos pela Rede. Com isso, essas instituições de tanto prestigio estão investindo, pura e simplesmente, na conquista do futuro, que pode ter incertezas, sim, mas que é inevitável.
O que está em jogo é de uma importância difícil de imaginar, e não só no âmbito do conhecimento. Também no político. Também no econômico. Em 2020, mais da metade da população mundial em condições e em idade de assistir à Universidade (de 18 a 22 anos) estará concentrada em quatro países: China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. Se contarmos o Brasil, esses universitários potenciais serão 102 milhões.
O que os estudantes estrangeiros já aportam à economia dos Estados Unidos, ou da Austrália, é coisa de muitos bilhões de dólares. E será muitíssimo mais com o crescimento da demanda globalizada e com a possibilidade de investigar (...) nos países menos desenvolvidos, onde a investigação é mais barata. Ou seja: o ensino fará o mesmo que fazem as indústrias do calçado e da eletrônica, sem ir mais longe.
Nessa reviravolta tão espetacular, o epicentro do conhecimento deixou de estar na Europa. Aliás, no saber já não há epicentro. E é por isso que no Reino Unido inventam um ranking universitário cada dois por três. Perante a incapacidade para evoluir, também os ingleses, que de receber estudantes estrangeiros sim sabem bastante, se agarram ao sonho impossível de continuar sendo os melhores...
E o Brasil? No mundo novo e apertado o Brasil vai ser importador ou exportador de conhecimento? Ou não vai ser nem uma coisa nem a outra?
Parece mentira. Mas no Brasil ainda há ministros que acreditam que ao Terceiro Milênio se chega pela via torta do estudo presencial, lá fora... É como ir a Miami, em busca da felicidade, comprando com dólares cambiantes as mesmas coisas que se encontram aqui ao lado, às vezes melhores, nas nossas lojas.
O problema não é complicado, mas é enorme. Sem conhecimento não se encontra a felicidade porque não se encontra o futuro. Nem se encontra o poder, porque se eterniza a dependência. Nem se progride na economia, porque o econômico depende cada vez mais do pensamento e cada vez menos das matérias primas.
Ou, dito de outra forma, menos elegante, para que se entenda melhor: não podemos seguir falando de um suposto Brasil Emergente, se não falamos também da origem e do tamanho do conhecimento que possa garantir a emergência. Pelo conhecimento emprestado se pagam juros temerários que levam à falência.




