Valmor Bolan
Doutor em Sociologia e Presidente da Conap/Mec (Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni)
***Em obra clássica, Georges Gusdorff destaca a importância da educação, e faz uma profunda reflexão sobre a tarefa do professor com sentido de missão. Marina Mello explica que, para Gusdorff, "o verdadeiro mestre é frágil perante o discípulo, por quem quer ser afetado, e perante a verdade. Ele não se coloca como detentor dela, e de maneira alguma faz com que seus alunos repitam suas palavras e atos como se isso fosse mostra de que eles também alcançaram a verdade. Pelo contrário, o mestre quer que seus discípulos alcancem a própria verdade, e isso pode representar a ruptura com o mestre – e é isso que um verdadeiro mestre sonha para seus discípulos: que eles deixem de ansiar pelo olhar do mestre e possam acreditar nos seus próprios olhos, que eles encarem sem falsidade as suas palavras, e que eles mesmos tornem-se mestres". Isso quer dizer que, na melhor tradição socrática, deve o mestre extrair do aluno o que ele já traz em si como valor, pois é a partir daí que ele terá um olhar próprio do mundo e poderá interagir nele, dando sua contribuição em meio à realidade sempre desafiante. Ainda explica Marina Mello: " Gusdorff a certa altura diz que o verdadeiro mestre é aquele que aprendeu que não existem mestres, o que quer dizer que a relação mestre-discípulo deve ser temporária e permitir que o discípulo se livre dela — a qual, por mais fundamental que seja, é certamente uma relação de dependência. Enquanto alguns querem fazer de seus discípulos papagaios de seus ensinamentos, os verdadeiros mestres querem ser passados para trás, querem que seus ensinamentos sirvam como meios para os discípulos, mas não como fim — de modo contrário, eles nunca deixarão de serem discípulos."
Na verdade, Gusdorff fala de uma metodologia de trabalho, mais exigente para o mestre, para os professores, pois seria muito fácil "fazer de seus discípulos papagaios de seus ensinamentos" e é justamente isso o que não deve fazer o professor, ser apenas um dador de aula, um transmissor de informações simplesmente, enfim, não ficar na decoreba. Para isso, a formação dos professores é fundamental, e trata-se de uma formação contínua, permanente. Tem professores, por exemplo, que saem da Faculdade e preparam uma espécie de "sebenta" para darem suas aulas. Todos os anos eles tomam suas fichas de anotações, sempre as mesmas, e as repetem aos alunos, colocando na lousa as mesmas frases, os mesmos exercícios, como que tirados de uma apostila. E fica nisso, até se aposentar. É tudo o que Gusdorff reprova num professor, que ele espera que seja um mestre para os alunos, no melhor sentido da expressão.
Estamos, portanto, diante de um grande desafio: tornar professores, mestres. Daqueles que marcam a vida dos alunos, que impactam pela originalidade, pelo entusiasmo, pela seriedade, pelo zelo, enfim, pelas virtudes. É disso que precisamos para que as aulas sejam mais empolgantes, os alunos se interessem mais pelos conteúdos e se tornem pessoas com pensamento crítico e criatividade. É dessa educação que precisamos para fazer o Brasil melhor.




