Antônio de Oliveira
Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001)
antonioliveira2011@live.com
***Tempos atrás, um time de futebol contratou um jogador de periferia por um elevado salário. Para facilitar sua vida, o jogador passou a morar no centro, mas sua mãe continuou na periferia. Quando recebeu o primeiro pagamento, o rapaz pediu a um colega que fosse com ele a uma loja comprar mobília para sua mãe. Escolheu um conjunto, pagou e pediu que a encomenda fosse entregue no endereço de sua mãe, sem deixar de dar uma referência de como chegar lá. Dias depois, ele recebe um recado da loja dizendo que a entrega não pudera ser feita. Motivo: a casa não era uma casa, era um casebre, e a mobília não cabia dentro.
A atitude do jogador pode parecer ingênua, mas nem tanto. Questão de conteúdo e contêiner. O governo também age assim, de olho na arrecadação de impostos. Incentiva montadoras e concessionárias sem se perguntar se existem rodovias e ruas. A fome imobiliária devora a aprovação das prefeituras para abrir loteamentos com ruas estreitas. Tampouco se cuida do transporte coletivo. Assim, o trânsito não flui. E já não está fluindo mesmo em cidades do interior. Em frente aos colégios, as incorrigíveis filas duplas. Um apartamento, se não tiver pelo menos duas vagas na garagem, o preço cai. Espaços são disputados para estacionamento. E quando há, se na rua, paga-se a um flanelinha para não ter o carro riscado; se num estacionamento particular, é o olho da cara. Além disso, não funciona o transporte solidário: um carro para o motorista, quando muito mais uma pessoa. É status. É poder. É a arma do volante, a ceifar vidas uma depois da outra. Ou então são os motoqueiros ziguezagueando por entre os carros. Muitos deles, na verdade, têm pressa. Trabalham por produção ou optaram pela moto para chegar mais rápido ao trabalho. Uma concessionária inicia assim sua propaganda, fazendo alarde de uma manobra do governo para reduzir impostos quando a venda cai: “Os preços despencaram”. Uau! Alvíssaras!...




