Domingo Hernández PeñaEscritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
***Depois de ter escrito e publicado o meu último artigo sobre a matéria (O ensino do Turismo) volto ao assunto para matizar ainda mais alguns argumentos:
1 – Não há Turismo se não há turistas. Parece coisa óbvia. Mas, pelo visto, a obviedade não atinge todas as mentes pensantes, quando existe e persiste um ensino que trata obsessivamente dos mais variados aspectos da Oferta, sem nunca prestar a devida atenção à criação de Demanda externa, nem à racionalização da interna, dando-lhe coerência e continuidade. É como se essas inteligências acreditassem que os turistas caem do céu, ou acabarão chegando por obra e graça do Espírito Santo.
2 – Não é verdade que o Turismo possa ou deva “educar”, aqui e agora, a uma população de duzentos milhões de habitantes, para que ela sorria mais e melhor aos turistas. Nem o Governo - coitado – conseguiria o milagre de ilustrar e alegrar a tanta gente, em tempo e forma, ao longo do imenso País desigual. Para o Turismo, a única alternativa é a mesma que permite o funcionamento de qualquer outra atividade econômica: trabalhar com as pessoas que já estejam mais e melhor preparadas, e, por enquanto, ter paciência com aquelas que não sabem ou que não podem.
3 – Não é verdade que o Turismo precise “arrumar a casa”, bem arrumadinha, antes de começar a receber turistas... O Turismo não se desenvolve, nem se desenvolveu nunca em lugar nenhum, implantando a Oferta, só a Oferta, sem pensar na Demanda e sem garantir a mesma. Ao contrário: quando a Demanda toma impulso, mesmo com as dificuldades, carências e inconvenientes iniciais de qualquer país subdesenvolvido, a Oferta aparece e cresce sozinha como por arte de magia... É o caso do nosso Turismo Interno, sem ir mais longe. Esse Turismo é enorme porque há uma Demanda Interna efetiva que não para de crescer, e não porque alguém tenha arrumado o País, bem arrumado, de uma hora para outra... Por isso poderia se dizer: quem não aproveita e vende todo dia o que já existe e funciona mais ou menos bem, que é muito, não tem força moral para exigir mais e melhores “produtos”.
4 – Não é verdade que depois dos eventos de 2014 e 2016 o Brasil vai ser um país tropical abençoado por Deus. Para o Turismo real, que não está se preparando nem vai se preparar devidamente (...), esses eventos poderão ser um trauma irremediável, pelo pulo temerário da nada histórica à concentração indigesta. Para a sociedade, porém, o mesmo trauma poderá ter alguns efeitos saudáveis, porque vai permitir, de golpe, que todo mundo saiba para sempre a diferença que há entre sonho e realidade. A única coisa que vai sobrar da grande aventura será o que Lula disse lá fora, no seu momento, para convencer aos donos do mundo: “Nós, na América do Sul, também temos direito, como vocês no Norte, a sentir de perto a motivação da autoestima”. Só que, agora, para sentir um sopro de orgulho pátrio, a fatura está sendo desproporcionada. Para ver esporte em vivo e em direto, só para isso, com ou sem licença para beber cerveja nos estádios, estão se desviando os recursos que o País deveria investir em causas mais justas, sérias, lucrativas e urgentes. Para lograr o favor externo está se debilitando, ou “ajeitando”, o poder interno. Pelo desejo legítimo de ser de uma vez por todas o que podemos e merecemos, estamos esquecendo que os logros decisivos só se alcançam com passos curtos, discretos, firmes e persistentes. Não é jogando à loteria que se consolida a Nação.




