Valmor Bolan
Doutor em Sociologia e Presidente da Conap/Mec (Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni)
***Um dos convidados da Fliporto deste ano, o jornalista e sociólogo francês Frederic Martel fala da geopolítica da cultura global atual e veio divulgar no Brasil seu livro "Mainstream". Em entrevista a Diogo Guedes, no "Jornal do Comércio", ele explica "o conceito de 'soft power'", como "uma influência política e econômica feita não através da coerção, mas da atração e da venda de um modo de vida", que "é praticado hoje não apenas pelos Estados Unidos, mas por nações emergentes como o Brasil". Para Martel, "esses países crescem não apenas demograficamente e economicamente, mas também a partir do conteúdo, da cultura, da mídia e da internet inclusive." Isso quer dizer que desenvolvimento e tecnologia somam potencialidades, numa convergência de diferentes expressões culturais, que interagem entre si, num mix de inovação e tradição. No entanto, o resultado dessas confluências ainda é uma novidade que muito pode surpreender, pela dinâmica de uma experiência cultural realmente nova.
O certo é que há uma "diversidade padronizada", com riscos de tribalização cultural, e, dentre os questionamentos que surgem, destacamos: até que ponto a liberdade total poderá garantir a expressão individual criativa e inteligente? Pelo facebook, por exemplo, vamos percebendo esta certa padronização na diversidade, como também uma superficialidade, e um excesso de exposição, que satisfaz apenas a desejos muito imediatos, mas esvazia a pessoa de conteúdos que são a base da verdadeira civilidade e socialização.
O fato é que do modo fragmentado e até alienado, o mix de drinques culturais acabam exercendo apelos a desejos efêmeros e mais facilmente torna as pessoas vulneráveis a uma espécie de manipulação pelos detentores do poder. A obra de Martel, portanto, traz reflexões e informações que nos ajudam a entender um pouco mais o processo avançado da pós-modernidade. Talvez em vez de propiciar originalidade, acaba diluindo pensamentos mais sólidos, e favorecendo um estágio crescente de massificação e alienação, a beneficiar grupos reduzidos de poder. Estarmos atentos a esse contexto nos ajuda a nos situarmos cada vez mais no complexo mundo cultural do momento, com seus experimentos mais ousados e até intrigantes, dos quais ninguém sabe o que pode resultar de tudo isso. Daí a necessidade de estarmos vigilantes e buscarmos compreender o jogo de forças que atuam, para que possamos fazer disso tudo oportunidade de crescimento pessoal e desenvolvimento social, evitando outros efeitos indesejáveis, quando se trata de manipulação.




