![Domingo Pena](http://abmeseduca.com/wp-content/uploads/2012/02/Domingo-Pena-150x150.jpg)
Gabriel Mario Rodrigues, sempre ativo e na vanguarda, publicou recentemten um longo artigo com um longo título (“A Universidade de Nalanda e a universidade dos novos tempos: duas visões”), para dizer no último parágrafo o seguinte: “Reproduzir o passado é fácil, mas construir o futuro é desafio para cérebros iluminados”.
O Doutor Gabriel chega a essa conclusão depois de resumir a interessante e convulsa história da que, segundo a lenda, fora a primeira universidade do mundo, e de lembrar o grande projeto internacional que pretende reimplantar o ensino superior nas ruínas maravilhosas da Nalanda que, nos confins da Índia, agora mesmo não são outra coisa que uma irresistível atração turística para os viajantes cultos que ainda existem. O Doutor Gabriel não escreve explicitamente o que pensa, mas nas entrelinhas do seu texto percebe-se a ideia de que as inteligências e os recursos que estão se movimentando no mundo civilizado para reimplantar o ensino em Nalanda significariam um esforço pouco realista, de volta ao passado, contrário às necessidades, urgências e conveniências da atualidade e do futuro, que, por agora, ninguém sabe muito bem quais são... Ou seja: o passado seria coisa fácil e sabida, e o futuro, ao que parece, seria coisa de mentes visionárias deambulando na incerteza. Mas a realidade não é bem assim. No Projeto de Nalanda não há nada que seja fácil, porque a sua proposta não é, nem de longe, uma volta pura e simples ao passado, pelo prazer de ser primitivos ou de caminhar na contramão. É verdade que a recuperação daquelas ruínas, naquele lugar remoto, pode confundir, transmitindo a ideia de uma saudade milenária e enfermiça. Porém, o objetivo é outro. O objetivo não é a negação do agora e do depois. É um alerta radical e dramático – um aviso clamoroso de que no universo do saber é preciso começar tudo de novo. Os que organizam, financiam e promovem a volta a Nalanda (uma elite internacional motivada pela teimosa iniciativa de Amartya Sem) o que de verdade estão propondo é o único futuro que pode, mesmo, ser digno e viável – aquele que reconheça e respeite o Homem como epicentro da Criação. A escolha de Nalanda não é uma casualidade. Só na Índia profunda, longe do mundo moderno, corrupto, deteriorado e desorientado é possível tratar em profundidade a grande questão do milênio – a que levou o Homem a ser uma pecinha descartável da Economia; um votante anônimo, conformista e conformado com a Política perversa. Os responsáveis da nova Universidade de Nalanda sabem muito bem o que eles estão fazendo (e por isso dispõem de tantos recursos e de tanta influência) e não ignoram (porque é no que trabalham) o que devem ser as universidades dos novos tempos: “fábricas” de seres humanos, completos e conscientes! Eles entendem, melhor do que ninguém até agora, que, se alguém não começa já a formar pessoas completas e inteligências plenas, só haverá uma perigosa alternativa: gerações inteiras, deformadas pela falsa modernidade, pela hiperespecialização e pelo consumo enganoso se transformarão - estão se transformando já, vejam os noticiários e o sangue salpicado - em mortíferas bombas urbanas. Seguir discutindo os motivos pelos que o céu é azul é pura perda de tempo!