Rafael Villas Bôas
Consultor Associado de Marketing na Hoper Educacional e criador do portal www.quemdisse.com.br***Reportagem publicada pela Folha de São Paulo repercutiu o anúncio do presidente da Telebrás, no final de agosto, da lista com as cem primeiras cidades que serão conectadas à internet rápida pelo PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), totalizando 14.068.645 habitantes atendidos. “O PNBL, lançado em maio pelo Ministério das Comunicações, tem como meta trazer banda larga para 40 milhões de brasileiros até 2014 com dois planos a preços populares: R$15 e R$35, com velocidade mínima de 512 Kbps (...). Atualmente, apenas 12,2 milhões de brasileiros têm acesso à internet banda larga, segundo estimativa da Teleco para o segundo trimestre deste ano. Segundo o Ministério, o aumento de usuários contribuiria positivamente para o PIB brasileiro, nível de emprego, competitividade das empresas nacionais, entre outros”, dizia a matéria.
O Plano, que nasceu em 2007 com o ressurgimento da Estatal, pretende usar redes de fibra ótica que já existem mas estão ociosas para difundir o acesso, com investimentos do setor privado e o Estado tendo papel complementar. “Para tocar o PNBL, a Telebrás terá R$ 3,22 bilhões do Tesouro Nacional nos próximos cinco anos. A expectativa é que a empresa dê prejuízo nos próximos três anos. O PNBL, além dos recursos do Tesouro Nacional, terá benefícios fiscais, empréstimos do BNDES e uso de recursos de fundo setorial. Assim, o total de dinheiro público usado no plano pode chegar a R$ 13,25 bilhões.”, cita o jornal.
A palavra Ociosidade marca o texto acima e o renascimento da Telebrás aparece como o choque de gestão frente a incompetência daqueles que deixaram quilômetros de cabos sem tráfego de informação por tempo demais.
Do ressurgimento da Fênix das Telecomunicações à promessa de dados chegando aos rincões do país, acessível a 14 milhões de brasileiros, leia-se a “promessa”, passaram menos de 24 meses, em um exemplo de vontade política de encher os olhos do mais pragmático lider da oposição.
Essa infra-estrutura é – de fato – fundamental para o progresso, e deveria ser priorizada pelo estado (como aparentemente está).
A questão que move esse artigo, no entanto, é a qualidade desses 14.068.645 novos usuários. Afinal a profundidade do uso da rede e seus recursos está diretamente relacionada com a formação dos usuários. Quanto mais estudo, mais qualificado e produtivo é o uso, basicamente migrando da pornografia, entretenimento e relacionamento social (I.M. e Redes Sociais) para pesquisa, estudo, consumo e trabalho. Produtividade de fato. Dados da Score Media Metrix, de 2006, apontam que nos Estados Unidos da população entre 18 e 24 anos (em idade universitária), 18% usavam My Space e 34% Facebook. No corte demográfico seguinte, na população entre 25 e 34 anos – pós universitária – esse número caía para 16%, My Space, e 8,6%, Facebook. Por outro lado a Affinity Circles,que constrói Redes Sociais Privadas para Instituições de Ensino Superior (Stanford, por exemplo) possuía 14,6% de seus usuários no extrato entre 18 e 24 anos e 45% de 25 a 34 anos. Depois de formados parte dos usuários de Redes Sociais deixava as redes sociais de relacionamento migrando para as Redes Sociais de Relacionamento Profissional e Acadêmico.
Qualificavam o uso dessas redes, e subsequentemente da internet, passando do modelo generalista (Facebook) para outro mais focado, objetivo e produtivo.
Assim como é importante investir no cabeamento do conhecimento (via Telebrás), é importante investir na fonte, e – mais ainda – nos 40 milhões de decodificadores da informação. De outra forma estaremos apenas alimentando o circulo vicioso da geração de alienados, substituindo a telenovela por sites de conteúdo superficial, no melhor estilo romano de pão frente ao circo on line dos portais verticais de informação.
E a Solução Simples para a capacitação dos usuários, ainda que o Problema seja Monstruoso, reside, também, na Ociosidade.
O Problema Monstruoso
Segundo o EFA Global Monitoring Report 2009 da UNESCO, a Taxa de Escolarização Bruta no Ensino Superior oscila de 70% na America do Norte e Europa Ocidental para 32% na América Latina, 22% nos países Arabes e 5% na Africa Sub Sahariana. Com menos de 8% da população em idade universitária nos bancos das faculdades, o Brasil encontra-se mais proximo dos países Africanos que de seus pares Latinos.
A Solução Simples.
Em 2008 foram oferecidas 2.9 milhões de vagas nos Cursos de Graduação Presenciais em Vestibulares e outros processos Seletivos (como o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM e Avaliação Seriada no Ensino Médio). Dessas 344 mil em Instituições Publicas e 2.6 milhões em Instituições Privadas. Ingressaram nessas instituições, em 2008, 1.5 milhões de alunos. Das vagas oferecidas, portanto, 1.47 milhões (a metade) ficaram ociosas. Dessas 36 mil em Instituições Publicas e 1.44 milhões em Instituições Privadas.
Em 2007, no ano anterior a ociosidade foi de 1.34 milhões ao total.
Nos mesmos 24 meses, período do despertar da Phênix das Telecomunicações a promessa de 14 milhões de lares conectados, 2.82 milhões de vagas de primeiro ano ficaram ociosas.
Essa ociosidade se agrava considerando a evasão mas para efeito desse exercício desconsideraremos os 46% de vagas que, preenchidas nos processos seletivos, tornar-se-ão vagas até a formatura. As 2.82 milhões de vagas representam praticamente 50% da Fibra Ótica do Ensino Superior desligadas, nivelando o país a média mais baixa das nações do planeta, a niveis de Africa Subsaariana, e esperando pelo seu choque de gestão.
Uma complexa infra-estrutura, construída no esforço conjunto do setor privado e publico. O setor privado criando cursos e vagas que demandam a chancela, avaliação e aprovação da qualidade, pelo setor publico através de suas comissões. A Fibra Ótica de Educação Superior inutilizada por falta de condições de acesso da maior parcela da população brasileira.
“Fato relevante: o governo está subsidiando o PNBL com 13 bilhões de reais”,segundo a reportagem.
Tomando como base o valor médio das mensalidade das Instituições privadas (R$400,00), e 12 parcelas, o investimento para adicionar 2.82 milhões de estudantes a Fibra Ótica Ociosa do Sistema Educacional seria de 13 bilhões de reais. Os mesmos 13 bilhões de reais para trafegar o dado e para formar o equivalente a 20% dos decodificadores (as mentes por detrás dos computadores). O mesmo investimento, e muito mais conteúdo, sem a cobrança dos R$ 35,00, por 512 kbps. Cobrando um valor simbólico, o investimento seria ainda menor.
Vale ressaltar que o custo / ano por aluno seria de R$ 4.800,00 (40% dos R$ 11.820,00 gasto pela União por aluno / ano nas instituições publicas). Se e Telebrás deu o tom de maximização e otimização de infra-estrutura ociosa, ao noticiário dessa semana cabe a reflexão da origem dos problemas e das prioridades do nosso país. Em um tempo onde o Ministério da Educação torna-se mais rígido com a aprovação de vagas e cursos superiores, quando deveria atacar o problema da Ociosidade, elevando as estatísticas do Ensino Superior, da Africa Subsaariana para a America Latina. No mínimo.




