Num mundo globalizado em que vivemos, onde a busca pelo desenvolvimento das nações exige recursos humanos preparados para atingir o máximo de desempenho laboral para que as metas de progresso se concretizem, a importância da educação superior é um axioma vitalNo dia 2 de julho de 2013, a Diretoria da ABMES eleita para o triênio 2013/2016 fez sua primeira reunião mensal com o objetivo de levantar e debater novas propostas e refletir sobre as ações em andamento como subsídios à elaboração de um Plano de Trabalho. Após os debates, os diretores concluíram que a atuação da ABMES deveria ser referenciada por cinco eixos básicos: 1. Estimular a qualidade de educação no Brasil; 2. Encontrar fórmulas para agregar valor ao associado; 3. Contribuir para fortalecer a imagem do ensino superior particular; 4. Atuar inteligentemente com uma estratégia de política forte e 5. Criar um mecanismo ágil de comunicação entre os membros da Diretoria. Mais claramente, foi enfatizado que a ABMES deveria ter como propósito maior a discussão e o aprofundamento de ações incentivadoras da melhoria da qualidade de Educação do Brasil. Por entender que antes de tudo é necessário esclarecer o que é qualidade de ensino, estou me servindo deste tema para meu artigo semanal e também para dar início ao debate com a Diretoria. O que é Qualidade de Ensino? Não pretendo construir uma tese sobre qualidade de educação nem discutir os diversos autores que dedicaram seu tempo ao estudo da questão. Não vou analisar as vultosas somas de recursos que órgãos de governos, institutos, universidades e organizações gastaram para encontrar uma solução para o desafio de esclarecer o que seja qualidade educacional e menos ainda discutir as esdrúxulas formas que o MEC utiliza para avaliar o desempenho educacional das instituições. Há divergências filosóficas e ideológicas entre duas concepções de universidade. A primeira como verdadeira empresa com finalidade de produzir ciência, tecnologia e cultura em geral e a segunda como templo da sabedoria e do conhecimento. Há ainda visões neoliberais e estatizantes. Ensino público ou particular. Educação de massa ou de elite. Ensino pago ou gratuito. Sobre estes temas quase todos opinam e nada explicam. Nesse sentido, autoridades, jornalistas, especialistas e outros, ao falarem sobre educação e qualidade de ensino, nem sempre se fundamentam em dados concretos e nem sempre conhecem a extrema diversidade de alunos e instituições. Na maioria das vezes escrevem sem conhecimento profundo das questões. Portanto, a grande dificuldade é conceituar o que seria “qualidade de educação” para fugir da banalização e para conseguir um referencial que possa ter sustentação teórica e prática e servir de modelo para as instituições de ensino superior. Flávia Feitosa Santana[1] fez uma pesquisa com numerosos administradores educacionais perguntando-lhes o que era qualidade em educação superior e constatou que a qualidade apresenta ambiguidades conceituais que impossibilitam o consenso. As visões a serem assumidas, em especial pelas instituições de ensino superior, ensejam que a qualidade seja avaliada por diferentes ângulos e pontos de vista. As áreas da academia e a própria ciência, por meio de pesquisas, discutem a qualidade num recorte mais humano, social, político ou econômico, mas não chegam a uma única definição pela complexidade de percepções. Para conciliar os conceitos, citamos definições de Santana e de Walter Bazzo (2001), além de uma terceira ditada pelo bom senso. São elas: Qualidade
é o conjunto de características que um produto ou serviço deve ter para bem atender às aspirações ou interesses dos usuários. Essa definição aplica-se perfeitamente na área educacional, pois tira de vez a posição exclusiva dos professores em quanto ao processo de ensino, agora redefinido como um processo de aprendizagem, com muitos outros agentes e meios diversos implicados. (SANTANA, Flavia. A Dinâmica da Aplicação do termo Qualidade na Educação Superior Brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2007)
Qualidadenão se faz apenas com laboratórios bem equipados, informatização da burocracia universitária, bibliotecas climatizadas, salas de aulas e corredores limpos, e gente educada atendendo nos balcões das escolas. É certo que estas são condições que de alguma forma facilitam e ajudam a humanizar o processo de ensino. Mas há muitas outras questões entre o indivíduo e o conhecimento que os aspectos mais aparentes não podem resolver. “O ensino só pode ser considerado de qualidade quando der oportunidade para a construção do conhecimento por todos os indivíduos envolvidos no processo”. (BAZZO, Walter. Artigo do Programa A qualidade de ensino e sistemas de avaliação, 2001)
Qualidade“Propriedade ou conjunto de propriedades inerentes a algo, que permite julgar seu valor". Quem julga é quem paga ou quem compara. E, pagando ou comparando, a ideia que sobra é a de maior ou menor preço, maior ou menor utilidade, maior ou menor prestígio, maior ou menor credibilidade, maior ou menor seriedade, maior ou menor modernidade, etc. Qualidade é o diferencial de uma coisa comparada com outra. Sem comparação, ou sem possibilidade de comparar, nada é melhor nem pior.
A qualidade está condicionada aos diversos fatores que as três definições exprimem e que variam em função da área de conhecimento, das instalações, laboratórios e equipamentos, bem como da qualificação do corpo docente e do projeto pedagógico do curso. Não dá para colocar todos estes elementos numa mesma cesta e se chegar a um valor comum. Mas de qualquer forma a qualidade poderá ser avaliada pelos seus indicadores (instalações, professores, projeto pedagógico e outros) ou pelo produto final (aferido pelo mercado de trabalho). Mas em relação a qualquer produto ou serviço, o ensino é uma tarefa realizada a quatro mãos. Depende do interesse do aluno, de seu conhecimento anterior, de sua vontade de aprender e de seu projeto de vida. Poucas instituições acompanham os estudantes desde o ingresso à sua formatura por meio de pesquisa do valor das competências que lhes são somadas a cada etapa temporal para verificar o valor agregado de conhecimento adquirido. Se há uma meta final, que é o exercício de uma profissão, nada mais racional do que criar um sistema de acompanhamento para que todos os progressos do estudante possam ser analisados. Esse trabalho é de suma importância em razão da proposta educacional da instituição, mas ninguém tem tempo útil para fazê-lo, porque, para sobrevivência, a burocracia exige bons desempenhos nos CPCs e IGCs do MEC. O que estou propondo, portanto, é a criação de um sistema interno onde cada instituição, em função de um projeto de formação profissional que oferece, possa acompanhar por etapas mensais ou semestrais o valor agregado adquirido pelo seu estudante. Tal sistema não é tão difícil de ser acionado, além de ser muito mais verdadeiro ao ser comparado com modelos equivalentes.