Prof. Dr. Fábio José Garcia dos Reis - Diretor do Centro UNISAL - Lorena
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Outubro de 2009
A U.S. News é uma empresa especializada na publicação de rankings nos Estados Unidos e acaba de publicar a edição 2010 da U. S. News America’s Best Graduate Schools nas áreas de Administração, Direito, Medicina, Educação e Engenharia. Os critérios utilizados para o ranking são: empregabilidade, tempo que o aluno egresso leva para conseguir um emprego após a obtenção da graduação, qualidade da universidade medida pela opinião dos empregadores, processos de Acreditação que a universidade solicita, critérios de seleção dos estudantes e o tempo que os alunos dedicam aos estudos. Não há de forma explícita critérios acadêmicos como titulação dos docentes, tempo de dedicação dos docentes na IES, número de livros na biblioteca e formação acadêmica dos coordenadores.
Mede-se emprego, salário e reconhecimento da sociedade. Pode-se supor que uma pessoa formada por uma IES com bom índice de empregabilidade e legitimada pelos empregadores e que tenha egressos com bons salários é uma IES qualificada academicamente. Por outro lado, uma IES com doutores e professores com tempo integral não é, necessariamente, uma IES com bons indicadores de empregabilidade e que tenha egressos com bons salários.
O professor William Tierney, diretor do Center for Higher Education Policy Analysis, argumenta que todos discordam dos critérios do ranking do U.S. News, mas todas as IES buscam as melhores colocações nos rankings, pois sabem que há impacto de seu resultado e que de alguma forma o ranking reflete a capacidade da universidade em empregar seus alunos.
No Brasil, nossos critérios de avaliação são acadêmicos, com um olhar, quase sempre, exclusivamente interno, voltado para a IES. No caso do curso de Direito, por exemplo, ter um coordenador com título de doutor representa que o curso é melhor e terá bons resultados no exame da OAB? A qualidade pode ser medida pelo índice de aprovação na OAB ou pela titulação dos professores e do coordenador? O novo Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), José Antonio Dias Tollofi, não tem curso de pós-graduação, mas foi indicado pelo governo Lula. O MEC cobra a titulação dos nossos professores, com o apoio da OAB. Por outro lado, a indicação de Lula revela um outro caminho. E a qualidade do STF, quem avalia? Convivemos com contradições. De forma alguma entendo que a titulação dos professores é algo irrelevante, o que é preciso discutir é o exagero dos critérios de avaliação do MEC.
Nossa avaliação está mais próxima da concepção de universidade do século XIX e início do século XX. Os critérios de avaliação do Brasil não atendem a dinâmica da educação superior do século XXI. A dinâmica das IES é diferente, o perfil e as concepções também. Infelizmente, o Brasil não acompanha os melhores parâmetros mundiais. Avaliamos com uma série de indicadores objetivos os processos acadêmicos.
Participei de um seminário no Center for International Higher Education do Boston College. Uma das palestras foi da Dra. Louise Zak, da New England Association of Schools and Colleges (NEASC), Commission on Institutions of Higher Education. Ela nos apresentou os parâmetros de avaliação utilizados pelo NEASC. Não há indicadores objetivos, notas de 1 a 5 ou conceitos de A a E. A IES pode ser acreditada ou não. Não há rankings com pontuações. O resultado do relatório é de conhecimento da IES avaliada. A partir do resultado, a IES pode recorrer e solicitar novo processo de acreditação. Um dos indicadores de qualidade descrito no manual do NEASC refere-se à organização da governança. O avaliador precisa fazer sua análise a partir do seguinte preâmbulo: The institution has a system of governance that facilitates the accomplishment of its mission and purpose and supports institutional effectiveness and integrity. Through is organizational design and governance structure, the institution creates and sustains an environment that encourages teaching, learning, service, scholarship, and where appropriate research and creative activity. It assures of support adequate for appropriate functioning of each organizational component.
O avaliador faz uma análise do processo acadêmico, a partir da realidade institucional. O princípio da relação entre missão e planejamento é respeitado. Os avaliadores estudam os documentos institucionais, fazem a visita in loco e escrevem o relatório. O processo de acreditação é voluntário. Não há um sistema que coordena a avaliação, supervisiona e normatiza todo o processo.
O ranking da U.S. News & World Report e os critérios de acreditação da NEASC servem de reflexão para os gestores da educação superior no Brasil. O fato é que os rankings serão comuns e a sociedade cada vez mais vai prestar atenção em seus resultados. Os critérios de avaliação também serão diferentes, pois dependerão das concepções das agências avaliadoras. Poderá até haver semelhanças.
O que podemos discutir é se em uma sociedade dinâmica, em que as IES possuem relações estreitas com as sociedades, com os empregadores e com as organizações públicas e privadas, os critérios de avaliação precisam ser acadêmicos e objetivos, como são no Brasil.
O Brasil centraliza o processo de avaliação, porém, já começam a surgir outras perspectivas de avaliação. O ranking dos melhores cursos do Brasil elaborado pela Editora Abril é um exemplo. Os cursos são classificados por estrelas. Os critérios vão além dos temas acadêmicos. Os resultados são publicados, geralmente, no mês de outubro, e são amplamente divulgados pelo setor de comunicação e marketing das IES que possuem cursos estrelados.
Há IES que fazem intensa campanha na mídia de seus índices de
empregabilidade. A FACAMP, por exemplo, publica páginas inteiras com números sobre empregabilidade em jornais como a Folha de São Paulo. O IBMEC também divulga seus indicadores de empregabilidade e seus projetos de empreendedorismo. As famílias e os estudantes procuram informações sobre as IES com maior capacidade de colocar seus egressos no mercado de trabalho.
Os gestores do MEC e das IES públicas e privadas precisam provocar fóruns de discussão sobre os critérios de avaliação. Os resultados do ENADE, com a devida correção de suas distorções, devem ser um dos indicadores da qualidade. Porém, em função da complexidade e das diferenças do sistema de educação brasileiro, é necessário que tenhamos outros indicadores, para que possamos estabelecer um conjunto de informações sobre a qualidade da IES.
No Fórum Nacional organizado pelo SEMESP em setembro, apresentei com Cláudio Rama, ex-diretor do escritório da UNESCO para a América Latina, a proposta de criação de uma Agência de Avaliação e Acreditação da Educação Superior.
Precisamos instituir modelos contemporâneos de avaliação. A proposta da Agência contempla os indicadores de empregabilidade e a flexibilidade acadêmica e administrativa.
Nosso sistema de educação superior está em expansão. Temos mais de 2 mil IES e mais de 22 mil cursos de graduação. É quase impossível o MEC implementar a concepção original do SINAES. Estamos em um momento ideal para revermos nosso processo de avaliação.




