Ryon Braga Presidente da Hoper Educação ***Segundo a Wikipédia, na cultura brasileira, a Lei de Gérson é uma norma não-escrita segundo a qual a pessoa que gosta de levar vantagem em tudo segue no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais.
O caso de sucesso da universidade colombiana Minuto de Dios, apresentado no Brasil pelo seu reitor, professor Camilo Bernal (Brasil Econômico, dia 13 de setembro), causou grande impacto exatamente por apresentar uma antítese à Lei de Gérson.
Muito mais do que mostrar uma universidade que cresceu de dois mil para 50 mil alunos em poucos anos, com excelente qualidade e uma profunda inclusão social (recebendo, em sua maioria, alunos das classes D e E), Bernal nos mostrou o que podemos conseguir se tivermos uma mentalidade de cooperação, ao invés de pensarmos exclusivamente em competir.
Na Colômbia, para inveja dos brasileiros, universidades públicas e particulares coexistem em harmonia e cooperam entre si. Governo e Ministério da Educação apoiam o crescimento de ambas e juntos todos sustentam o desenvolvimento da educação no país, que apresenta mais de 35% de taxa de escolaridade superior - no Brasil é 14,7%.
Aqui, públicas e privadas não se falam, o governo despreza e persegue a iniciativa privada e, o pior de tudo, as particulares, focadas em seus próprios umbigos, não conseguem cooperar e se ajudar mutuamente.
Em países desenvolvidos, grandes universidades se integram nos mais variados tipos de consórcios, para cooperarem e atingirem objetivos maiores. No Brasil, casos assim são raríssimos.
No setor público temos o Reuni, de sucesso parcial, e no setor privado não temos um único caso digno de comentário. A última tentativa de consórcio que se tem notícia foi o da Universidade Virtual Brasileira - UVB , de dez grandes universidades particulares para atuação no ensino a distância, e que resultou em absoluto fracasso em função da guerra de vaidades.
Não se pode entrar em consórcio, rede ou parceria com a mentalidade tupiniquim da Lei de Gérson. Leonardo Boff resumiu muito bem o porquê da necessidade do princípio cooperativo: "tudo o que realizamos, incluindo a realidade em si mesma, é consequência de um existir com os outros".
Não é por acaso que os fatos mostram que onde existe mais cooperação há maior desenvolvimento. Basta lembrarmos do sucesso da Toyota com a rede de aprendizagem entre todas as centenas de empresas fornecedoras (a Kyohokai).
Infelizmente, no Brasil, preferimos confrontar. Um exemplo é a Frente Parlamentar em Defesa da Livre Iniciativa na Educação, conjunto de parlamentares que "defendem" os interesses da iniciativa privada na educação.
Com isso, o setor optou pela confrontação política junto ao governo ao invés de escolher o caminho, a meu ver muito mais promissor, da cooperação técnica, a exemplo de muitos outros países.
Outro fato que atesta a falta de mentalidade cooperativa na educação é a existência de mais de seis diferentes entidades de classe que representam donos de escolas.
Se nem para defendermos nossos próprios interesses conseguimos cooperar, que dirá para defender os interesses do país. Neste ponto, temos ainda muito a aprender com a Colômbia, que por sorte, não conhece a Lei de Gérson.




