Domingo Hernández Peña
Escritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
***Cansados de ouvir e de ler bobagens sobre a tão falada globalização, um grupo de velhos professores da velha e razoável Europa decidimos criar uma série de pequenos cursos para ensinar com precisão e humildade o que foram e são, desde que o mundo é mundo, as verdadeiras globalizações históricas: a do latim, a do grego, a do catolicismo, a do poder castelhano, inglês, português... E, aproveitando os sossegos natalinos, fomos a implantar esses cursos em Santiago de Compostela, O Porto, Coimbra, Lisboa...
Estou voltando de lá. Mas não quero dizer, agora, o que fizemos. Do que quero falar é do que falamos. Falamos muito, com muita profundidade, do que mais nos preocupa, por cima e além de qualquer globalização bem ou mal entendida. Sim, falamos dos rumos desconcertantes do Ensino Superior atual, e de forma muito especial, por motivos evidentes, no Brasil.
De novo voltamos ao começo – a perguntar-nos o que é e para que serve agora mesmo uma Universidade; a desbaratar a polêmica sobre ensinar ou aprender; a comparar o ensino a distância com a possibilidade de viajar em avião, ou só em bicicleta; a discutir a essência do Ensino Superior: formar seres humanos completos, ou ferramentas de trabalho especializadas?
São assuntos que, de tão manuseados, podem parecer sabidos, e até esgotados, mas que, no silêncio do histórico Hostal de los Reyes Católicos, voltam a ser inquietantes.
No hotel mais antigo do mundo, na Praça do Obradoiro, onde começa e acaba o Caminho de Santiago, é fácil compreender o que aconteceu e está acontecendo no Ensino Superior:
Houve um tempo, uma época, em que a palavra Universidade sugeria a ideia de universalização – de algo muito maior e melhor que a simples globalização que agora nos confunde. Tratava-se de liberar as pessoas da sua condição animal, elevando-as pelo conhecimento pleno a uma vida plena e superior.
Porém, de tanto saber e aprender, os seres humanos sentiram-se deuses e caíram na tentação de criar por criar – de produzir mais em vez de viver melhor...
E apareceu a Revolução Industrial. Para produzir mais as pessoas tinham que saber menos. Saber tudo sobre engenharia, por exemplo, era um desperdício. As Universidades foram se afastando pouco a pouco da universalização, aproximando-se cada vez mais à hiperespecialização. Havia mais necessidade de simples apertadores de parafusos que de engenheiros...
Assim, muitas instituições da atualidade, que ainda se chamam universidades, acabaram ensinando o que na Idade Média se aprendia perfeitamente e com facilidade na padaria familiar ou na carpintaria da esquina... Universalização por globalização. Conhecimento por habilidade. Menos viver por mais produzir...
Tudo isso poderia parecer pura poesia, ou simples divertimento de uma dúzia de professores aposentados. Mas acontece que estamos no meio de uma crise global, da que não sairemos de verdade nos próximos trinta ou quarenta anos (sim, 30 ou 40) a menos que no mundo aconteçam duas coisas improváveis:
- Que nas Universidades, ou nos centros equivalentes, ensinando ou aprendendo, voltemos a dominar o conhecimento universal, para que as pessoas, sabendo mais, tenham mais oportunidades de êxito no mundo confuso e difuso. Para quem só sabe apertar parafusos, as alternativas continuarão sendo cada vez mais escassas...
- Que o capitalismo feroz acabe de explodir de uma vez por todas. Cem pessoas, cem, só cem, não podem por mais tempo ser as donas do mundo, quando o resto da humanidade já deixou de ser e está deixando de estar...
Nesse panorama salpicado de amarguras, a situação do Brasil é gravíssima. E aqui, o Ensino Superior em geral, e o Particular em especial, não estão isentos de culpa. A ideia de que o maior é o melhor é uma doença brasileira que debilita a consciência nacional. Insistir em que o Ensino Superior Particular é bom porque é imenso é uma temeridade. Fala-se muito de que esse Ensino Particular se defende e consolida com Marketing e com boa contabilidade. Mas não é verdade. Só poderia defender-se e consolidar-se com QUALIDADE – palavra esquecida no Setor, que, por esquecida, pode levar à falência, mais pronto que tarde, a mais entidades educativas das que estão na mente de qualquer observador que se preze.
Se o Ensino Superior Particular Brasileiro fracassa, e pode fracassar pela sua evidente falta de Qualidade e de Atualidade, o País inteiro fracassará com ele, porque uma Pátria deste tamanho não poderá manter-se tendo por base o único pedestal do conhecimento importado, por Internet ou pelas bolsas de estudo no Exterior.




