Michele Rossi
Estudante de Jornalismo e Redatora
***A tecnologia pode avançar a cada segundo, as pessoas podem se comunicar via Web de qualquer lugar e com qualquer pessoa, o mundo é controlado tecnologicamente, mas acredito que a cada dia a relação entre as pessoas se perde dentro dessa evolução tecnológica.
O contato físico, olhar nos olhos do outro, dar um aperto de mão ou um abraço já não são essenciais para mantermos uma convivência social. A tecnologia nos distancia até mesmo das pessoas que convivem dentro de nossos lares, pessoas que dividem o mesmo espaço físico, como nossos pais, irmãos ou amigos.
Sou colaboradora de uma empresa que preza pela qualidade de vida de seus funcionários, nela existe uma sala de descanso para o intervalo do almoço, com pufes coloridos e macios espalhados pelo chão da sala e o escurinho das persianas fechadas nos convida para descansar por alguns minutos e poder se levantar e seguir a jornada de trabalho revigorado. Uma mini biblioteca está sempre à disposição para quem quer conhecer mais sobre um assunto qualquer que ali esteja disponível - conhecimentos gerais, história, perfil de personagens ilustres ficam a nossa disposição. Mas, infelizmente, aquele universo literário só nos acompanha no dia a dia, pois raramente é desbravado por olhos curiosos. Os livros já estão esquecidos e não acompanham a fome de tecnologia dos colaboradores que por ali passam.
A sala de descanso hoje serve como um local para navegar. O silêncio no local às vezes é assustador e acolhedor ao mesmo tempo, porém o silêncio que relato é apenas das palavras, das conversas que deveriam ser animadas. O silêncio é barulhento quando observado atentamente, pois ele traz nas mãos de cada um aparelhos de celular, smartphones, Iphones e o infinito desejo de se teletransportar para um lugar seguro e virtual.
Em cada rosto notam-se sorrisos, mas nenhum sorriso é oferecido ao outro e sim para seus aparelhos e amigos virtualmente presentes. As pessoas conversam mentalmente, exclamam algo, duvidam e questionam, tudo isso mantendo uma relação afetiva e segura com seus aparelhos em mãos, essas pessoas simplesmente não estão ali.
Sherry Turkle, escritora, pesquisadora e Professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT, em uma de suas palestras ministradas no ano de 2012, definiu as relações humanas com a tecnologia em apenas uma frase: “Estamos ficando acostumados com uma nova forma de estar a sós juntos”. Ela simplesmente nos mostrou em poucas palavras que o mundo se acostumou a fugir da vida real para um mundo totalmente virtual, onde o contato físico e a interação social tornam-se cada dia mais distante.
Vocês devem estar se perguntando: qual o motivo de uma futura jornalista ser contra a tecnologia? E respondo com uma justificativa óbvia: não sou contra a tecnologia, me oponho apenas ao esquecimento no qual o ser humano caiu, o esquecimento do verdadeiro sentido da vida, dos valores humanos.
Tenho apenas 29 anos e me lembro da alegria em ver o carteiro passando em minha casa para deixar uma carta, escrita à caneta por alguém que queria me visitar mesmo estando longe, me visitar dentro de uma folha de papel, com sua letra de forma ou de mão. O meu visitante me contava coisas de extrema importância. Havia uma caixa onde eu guardava e ainda guardo algumas relíquias. Me recordo da alegria que sentia em ir de bicicleta ao Correio para postar a resposta a quem me escreveu, em lamber o selo para colar na carta, isso mesmo lamber o selo. Parece desprezível? Pode ser, mas, para minha memória, que é a bagagem mais importante que trago dentro de mim, o gosto do selo se torna mais do que especial, ele faz parte da minha história.
Existem coisas que a tecnologia não nos proporciona, ela impede. Me oponho à tecnologia quando ela distancia as pessoas mesmo elas estando fisicamente uma ao lado da outra, como um casal de namorados ocupando o mesmo espaço e se comunicando pelo Whatsapp, e se esquecendo de tocar nas mãos um do outro, de fazer carinho um no outro, ou do ato mais simples que o ser humano pode ter: o de conversar. Mas não os culpo, pois como fariam tudo isso se estavam com as mãos ocupadas, e a mente também.
Sou contra a tecnologia quando em vez de ensinar ela causa a alienação, e tira o prazer de sentir com as pontas dos dedos o mundo que temos a nossa frente. Estamos redefinindo a relação humana, hoje ela é apenas uma conexão humana.
O mundo esqueceu de viver o presente e vive só o futuro, um futuro tecnológico. Esquecemos de conviver uns com os outros, os meios digitais tornaram-se uma extensão do nosso corpo, da nossa mente, hoje todos se curtem e compartilham virtualmente.
Esta reflexão sobre a relação entre o ser humano e a tecnologia é para descrever como ela nos priva de sermos felizes da forma mais singela que alguém poderia ser e nem temos conhecimento de como e quando tudo isso aconteceu, e esse questionamento nem o Google pode responder.




