Domingo Hernández Peña
Escritor, professor, consultor, Honoris Causa pela Anhembi Morumbi
***- Ele, o Ensino Superior Particular Brasileiro (ESPB), existe e se expande para aproveitar-se dos vazios setoriais, quantitativos e territoriais deixados pela oferta pública, e não para complementar ou melhorar essa oferta, ou para competir com ela.
- Sempre se desenvolveu, e se desenvolve, num país sem projeto nem estratégia de futuro, onde a compulsiva preocupação pelo “crescimento” atropela, dificulta ou impede os esforços de melhoria, superação e consolidação.
- Trabalha (continua trabalhando...) sem a devida qualificação e credenciamento dos seus professores.
- Recebe, matrícula e atende alunos vindos de um Ensino Médio lamentável, sem a mínima preparação para digerir o conhecimento superior.
- Pela necessidade de “adaptar-se” ao nível dos alunos que recebe, e pela incrível confusão entre o que seja e não seja o conhecimento superior (...), o Ensino Superior Particular Brasileiro se dedica cada vez mais a ministrar cursos técnicos, “profissionais”, ou, de verdade, de segundo grau.
- Sem compromisso acadêmico claro e forte com as necessidades de um destino nacional que ninguém conhece nem define (e pelo costume de improvisar) o Ensino Superior Particular Brasileiro se dedica mais a importar, copiar e imitar que a investigar, criar e desenvolver.
- Pela sua origem, e pela sua forma de ser e de estar, o Ensino Superior de que estamos falando se comporta no mercado da mesma forma que qualquer setor econômico ou mercantil. Para esse Ensino, o prioritário é o lucro financeiro, e não, exatamente, a simples e legítima sustentabilidade que deveria caracterizar toda atividade transcendente...
Esta lista de males poderia estender-se muito mais, sem que eu pudesse deixar constância de aspectos ou problemas que não sejam amplamente conhecidos, dentro e fora do Ensino Superior Particular. Por isso não insisto na reiteração. Pois, na verdade, o que pretendo não é a propagação do já sabido. O que quero é dizer que as dificuldades do Ensino Superior Particular, a igual que as suas facilidades, são coisas do Ensino Superior Particular, e só do Ensino Superior Particular...
Não é culpando a terceiros, públicos ou privados; nem filosofando gratuitamente; nem procurando ajudas externas; nem contrapondo o presencial e o digital; nem alegando questões de classe (como pude ler um dia destes, espantado!) que os males do nosso Ensino Superior Particular serão remediados.
Querendo, o remédio seria perfeitamente possível, para não dizer fácil. E seria possível e fácil porque só depende de três coisas:
- Unidade setorial.
- Projeto próprio e diferenciado.
- Liderança.
Cadê a unidade? Onde está o projeto saído da própria inteligência e do próprio esforço, e não de exemplos estranhos ou de “estudos de mercado” falsos? Quem lidera?
Não havendo respostas, as perguntas poderiam ser outras:
Ninguém pensou no que poderia ser feito desde esta mesma publicação - desde a ABMES? Ninguém viu, por exemplo, as enormes possibilidades das Universidades Pontifícias, reduzindo em trilhões o seu patrimônio, agora imobilizado? Ninguém tem interesse na maravilha dos cursos “livres” e flexíveis, adaptados ao mundo real de agora mesmo, que muda e se reinventa a toda hora?




