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Dia do trabalho

Antonio de Oliveira

Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001)
antonioliveira2011@live.com
Instagram: @prof.antoniooliveira

01/05/2014 04:57:46

Antonio OliveiraAntônio de Oliveira Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001) antonioliveira2011@live.com ***
Segundo interpretação do famoso quadro batizado de Abaporu pela própria Tarsila do Amaral, pés e mãos enormes representam nossos sofridos trabalhadores brasileiros. E o sol simboliza a penosa rotina do homem do campo. Um dia topei, dentro do elevador do prédio onde moro, com um senhor que vinha de andar superior. Aos pés desse senhor, uma maleta. Começamos a jogar conversa fora e ele me disse que acabara de desentupir um vaso sanitário. Ingenuamente, fiz uma pergunta de resposta óbvia, num bate-papo descontraído e aparentemente inconsequente: – Então o senhor conseguiu? – Pra que fui perguntar?!... O homem virou bicho e retrucou: – Então o senhor acha que, depois de quarenta anos de profissão, eu não seria capaz de desentupir um vaso? Quarenta anos desentupindo vaso, lidando com m... e realizado. Que bom! Prestando um serviço de utilidade sem se preocupar com o status nem com o mau cheiro do material com que lidava. E, quantas outras pessoas, em condições muito melhores de trabalho, andam revoltadas por aí!... Por outro lado, parece que Dia do Trabalho lembra apenas o operário, o trabalhador braçal. Uma empregada doméstica, cuja patroa era professora, um dia lhe perguntou: – D. Ana, a senhora dá aula só, não trabalha não, né? No entanto, chama a atenção do observador sensível o burburinho de gente desembarcando, por exemplo, do metrô, rumo ao seu ambiente de trabalho. E isso ainda me faz acreditar neste país, apesar de tanta bandalheira, dos pichadores e predadores, e dos assaltantes, como sempre digo, a mão armada e a mão desalmada, e dos sanguessugas do erário... O trabalho liberta, distrai, é fonte de renda e de autorrealização. Mas depende do prisioneiro a quem o trabalho livre abriu as portas. Algumas vezes preferimos ficar alisando as grades abertas da prisão. A prisão interior pode ser pior que a prisão exterior. No Dia do Trabalho, faça-se a pergunta: – Quem é digno de comemorar o Dia do Trabalho?  

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