Maria Carmen Tavares Christóvão
Mestre em Gestão da Inovação
Diretora da Pro Innovare -www.proinnovare.com.br
***Como gestora educacional por mais de 20 anos, a grande maioria dos alunos e professores com os quais interagi queixam-se da ineficiência da escola ou universidade em cumprir verdadeiramente o seu papel como agente de transformação social.
Para o aluno, o conhecimento adquirido na escola ou universidade não possui nenhuma conexão com sua vida prática, haja vista que as matrizes curriculares são construídas tendo por base o conhecimento cumulativo. Fato é que o Sec. XX produziu mais conhecimento do que toda a história da humanidade Além de trabalhar com conhecimento defasado soma-se o fato de que o saber compartimentado organizado em disciplinas não permite uma formação holística, em que o aluno tenha uma visão global de mundo e nem uma formação utilitarista aplicada a um campo de específico do conhecimento. No dia a dia da gestão escolar é muito frequente a queixa por parte dos alunos de que as disciplinas são descontextualizadas, sem sentido prático e aplicação na vida cotidiana, sendo um dos fatores que mais colabora com a evasão escolar.
Por outro lado o corpo docente se sente refém de uma matriz curricular onde a produção do conhecimento não reflete necessariamente a solução dos problemas globais e ainda, se sente incapaz de ser um facilitador da construção do conhecimento diante dos avanços da ciência e da tecnologia que tornam obsoleto a maior parte do conhecimento aprendido durante o curso. As condições ofertadas a um professor da iniciativa privada não o permite avançar em sua formação como deveria ocorrer através do processo da educação continuada. Na nova dinâmica do conhecimento as metodologias e modelos de avaliação até então existentes já não respondem mais ao contexto da escola do século XXI.
Uma pesquisa realizada recentemente pelo Massachusetts Institute of Technology aponta a fragmentação do conhecimento e a ausência de uma metodologia interdisciplinar como o principal fator impeditivo para que escolas e universidades produzam contextos e ambientes prazerosos na formação do indivíduo consonantes com o conhecimento produzido em tempo real e com uma visão global das soluções demandadas pelo mundo moderno.
Para CHRISTÓVÃO (2014) “numa perspectiva mais ampla desenvolver uma sociedade significa transformá-la a partir de suas organizações, instituições através de seus atores. Nesta acepção, podemos açular a reflexão sobre o papel que a escola ou universidade possa desempenhar na formação de profissionais com uma visão holística comprometidos com a transformação das organizações e instituições, cujas ações e práticas institucionais poderão resultar na formação de uma sociedade mais sustentável e menos desigual. A proposta de um modelo interdisciplinar que consiga responder aos desafios dos problemas contemporâneos e transformações sociais e econômicas de caráter global”.
Para implementação de um modelo interdisciplinar é necessário romper com a estrutura disciplinar clássica porque o conhecimento tem outra estrutura na atualidade. Para BEVILAQUA (2013) “A universidade deve ser um lugar prioritariamente em que se aprende e não se ensina. O aluno aprende porque estuda. Para uma formação mais eficaz não é necessário uma extensa carga horária, portanto, quanto menor a carga horária em sala de aula melhor para o aluno aprender por experimentação e outros ambientes de aprendizagem. O máximo de quatro disciplinas no quadrimestre e nem todos os créditos cumpridos com aulas, mas com atividades e projetos complementares”. No ensino básico o mesmo se aplica, pois o currículo é composto por disciplinas lineares quando o mundo não é mais assim. É preciso mudar as linhas mestras que conduzem o currículo.
No Brasil os modelos interdisciplinares tanto no ensino básico quanto no ensino superior tem avançado intra-área do conhecimento, onde duas ou mais disciplinas dialogam em torno de projetos integradores. Mas, iniciativas inter-área do conhecimento ainda são pouco significativas. Para BURSZTYN (2005) “Alguns cruzamentos disciplinares vão se tornando necessidades evidentes, diante da incapacidade de se responder a questões inquietantes da atualidade”. Contudo, o aprimoramento das práticas interdisciplinares ainda é um desafio. Tornar nossas instituições mais inovadoras, capacitar o corpo docente para trabalhar de forma dialógica e tornar o conhecimento aprazível ao aluno é o que nos capacitará a enfrentar uma práxis falida que vem se arrastando ao longo dos anos.
A Adoção de novos modelos dependerão dos gestores e docentes comprometidos com o desenvolvimento de novas competências, em lugar da exaustiva prática de transmissão de conhecimentos. Preparar alunos com uma visão crítica e criativa, com capacidade para resolução de problemas de variadas ordens no mundo real compreendendo não apenas o momento histórico no qual estão inseridos, mas os impactos das futuras soluções que possam ser propostas.
* Artigo publicado na edição de junho da Revista Linha Direta.




