É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que já se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. (José Saramago)[1]O trigésimo segundo aniversário da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), comemorado no dia 30 de agosto de 2014, é um convite à reflexão sobre a sua trajetória de sucesso como também sobre a sua missão qual seja a de “contribuir para o desenvolvimento global das instituições mantenedoras associadas e defender a livre iniciativa, por meio da articulação do governo com a sociedade visando à melhoria da educação superior no país”. A ABMES, tal como um viajante visionário, percorre há mais de três décadas os “caminhos da educação”, tendo como tradição histórica unir companheiros mantenedores que compartilham dos mesmos ideais. O início da viagem coincide pois com o período em que jovens dirigentes de instituições de ensino superior (IES) particulares — convidados e incentivados pelo governo — já participavam da oferta do ensino superior no País e precisavam de uma associação que os representasse nacionalmente. Tal como observa Paschoal Laércio Armonia, membro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), “o papel desempenhado pela ABMES tem sido fundamental para uma profunda reflexão sobre os caminhos que devem ser trilhados pelo ensino superior privado no intuito de alcançar e excelência preconizada pelo Ministério da Educação”[2]. Em que pesem as mudanças ocorridas no Brasil e no mundo bem como a realidade atual fortemente caracterizada por um novo formato de organização do ensino superior particular, fato este inimaginável nas décadas de 1970 e 1980, os mantenedores associados à ABMES permanecem irmanados pelos mesmos ideais e pela vontade de lutar pelo crescimento e reconhecimento do ensino superior privado. Ao longo da viagem, a ABMES se transformou no locus do debate da agenda de reivindicações e de encaminhamento de propostas, sempre pautado pelo respeito às especificidades institucionais das outras entidades que representam o setor privado. As inúmeras atividades que compõem o “cardápio de realizações” na área acadêmica e no âmbito político — seminários, estudos, publicações, prêmios, apresentação de propostas ao Ministério da Educação e ao Congresso Nacional, entre outras — validaram a entidade como a mais representativa do segmento particular de ensino brasileiro. Por esta razão, a ABMES caminha para fortalecer a sua representatividade no setor privado e a sua visibilidade na sociedade e mídia nacional. É bem verdade que a ABMES ainda não conquistou tudo o que almeja, e tudo o que o setor privado legitimamente merece em termos de valorização e reconhecimento. No entanto, com habilidade política e competência técnica, a ABMES busca preservar os espaços democráticos de diálogo, por acreditar que é desse modo que se dão os embates na “arena política”. “O que já foi conquistado tem de ser preservado, sob pena de jogarmos por terra todos esses anos de luta”, observa o presidente da Associação, Gabriel Mario Rodrigues. Vive-se hoje um momento propício para uma reflexão conjunta entre a ABMES e os setores representativos da educação dos órgãos governamentais e não governamentais com o propósito de retomar reivindicações históricas e de traçar caminhos novos na perspectiva de que é preciso recomeçar a viagem. Sempre. Entre as inúmeras possibilidades dessa retomada, destaco a “antessala” das eleições presidenciais, período no qual a ABMES, após um processo cuidadoso de preparação e de elaboração de propostas para o setor, cumprirá seu papel de promover uma interlocução direta com as equipes dos principais partidos políticos que indicaram candidatos ao cargo máximo da Nação. Tal movimento, já iniciado, se concretizará com a realização do evento “Eleições 2014: debate sobre as políticas públicas para a educação superior”, a ser realizado no dia 2 de setembro, às 19 horas, na sede da entidade. O evento, que será transmitido para todo o país via ABMES TV, abrirá espaços para, num primeiro momento, apresentar, analisar e debater as propostas da ABMES contidas no documento "Eleições 2014: Propostas para a Educação Superior" que contempla três grandes eixos: efetiva representatividade e participação do setor privado no sistema federal de ensino; celeridade na tramitação dos processos de regulação e supervisão de cursos e instituições; e aprimoramento dos critérios, mecanismos e procedimentos de avaliação da educação superior. Em seguida, serão ouvidas as análises e as propostas para o setor privado trazidas pelos convidados. Trata-se, pois, de um acontecimento ímpar e, portanto, muito esperado por toda a comunidade acadêmica representada pela ABMES que, legitimamente, deseja contribuir para a definição de políticas públicas para o ensino superior[3]. A ABMES espera que o documento orientador dos debates atenda aos seus propósitos e que o corpo de consultores e técnicos da entidade possa ser chamado, depois das eleições, a colaborar no plano de Governo para a área da educação. Finalmente, a ABMES almeja ver reconhecido — e declarado—, por parte do Estado, o papel do ensino privado como parceiro no processo de inclusão social, de formação de cidadãos e de desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, fundamentais para o desenvolvimento do País. É nessa direção que a entidade deve avançar para se firmar definitivamente como protagonista do fortalecimento do ensino superior particular e como responsável por um legado para a educação brasileira. [1]A bagagem do viajante. Editoral Caminho. Dez. 2010. www.editorial-caminho.pt/ [2]ABMES, 30 anos: Memorial Comemorativo,p.76. http://www.abmes.org.br/abmes/public/arquivos/publicacoes/memorial_30_anos.pdf [3]Por sua importância e oportunidade, o Valor Econômico abriu espaço para a divulgação do evento. http://www.valor.com.br/brasil/3660434/associacao-debatera-ensino-com-representantes-de-candidatos