Ronaldo Mota
Reitor da Universidade Estácio de SáProfessor aposentado da Universidade Federal de Santa Maria
***Esta semana tivemos a comemoração do dia do professor. As profissões estão sofrendo mudanças radicais à luz das tecnologias contemporâneas. Ainda que o setor educacional tenha sido até aqui relativamente menos atingido que outros, ele será muito em breve um dos mais afetados, com profundo impacto no papel reservado ao docente.
Educar neste novo contexto não está ficando mais simples; está ficando mais complexo. Sem prejuízo dos conteúdos tradicionais, incluindo letramento, matemática e gosto pelas ciências, pelas artes e pelos esportes, terão os professores que explorar novas habilidades, como o uso inteligente das tecnologias digitais, habilidades interpessoais, aprendizagem autônoma e capacidade de inovação.
Antecedendo a revolução educacional em curso, baseada nas tecnologias digitais, houve somente dois momentos ao longo da história de mesma dimensão. O primeiro é representada pelo surgimento da escola, em Atenas na Grécia Antiga, nos séculos V e IV a.C. O filósofo Sócrates, preocupado em estimular a memória e evitar usar as mãos, não escrevia. Platão, seu mais destacado seguidor, fundou a Academia, símbolo do que seria a matriz original que norteia boa parte do que ainda hoje entendemos por escola. Aristóteles, discípulo de Platão, mesmo tendo estudado na Academia, funda sua própria escola, o Liceu. O símbolo da segunda revolução é o livro moderno, tornado amplamente disponível com a invenção da imprensa por Gutenberg, no século XV, aproximadamente dois mil anos depois do surgimento da escola. A abundância dos livros possibilitou o auto-estudo, pois o educando poderia pela primeira vez, de forma acessível, continuar a estudar longe do mestre e distante da escola.
No cenário contemporâneo, o professor vai gradativamente se transformando em um designer educacional. Designer educacional é o profissional responsável pela tradução de conteúdos acadêmicos via diferentes mídias e recursos, envolvendo análise e escolhas para melhor disponibilizar os assuntos, considerando o público a ser atingido e a linguagem a ser utilizada. Assim, da mesma forma que um arquiteto se preocupa com a questão da acessibilidade, o designer educacional deve projetar cursos apropriados para pessoas ou grupos, sempre levando em contas suas especificidades e peculiaridades.
Além de manter as tarefas originais de transmissão de conhecimento, ao designer educacional caberá coordenar a construção de interfaces digitais sofisticadas, as quais serão portais educacionais com funcionalidades múltiplas e complexas, que para ser desenvolvidas exigirão equipes com profissionais de diversas origens e faixas etárias.
O professor designer educacional é a expressão maior e mais completa do mestre contemporâneo, indo além de ministrar o conteúdo, sendo também responsável por preparar o educando para o hábito de aprender a aprender e estimular as atividades colaborativas em equipe, desenvolvendo capacidades de aprendizagem que são consideradas imprescindíveis aos profissionais e cidadãos do mundo do futuro que começou ontem.




