Wilson de Matos Silva
Senador da República e Reitor da UniCesumar
Membro do Conselho da Presidência da ABMES
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O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP), entre todas as nações lusófonas,passou a vigorar no Brasil em 2009 e deverá ser totalmente assimilado até o dia 31 de dezembro de 2015.
A Comissão de Educação do Senado vem discutindo a simplificação e o aperfeiçoamento desse acordo ortográfico, hoje sob a presidência do senador Cyro Miranda, com a participação de importantes especialistas da área, como Evanildo Bechara (membro da Academia Brasileira de Letras) e Antônio Martins de Araújo, (presidente da Academia Brasileira de Filologia).
Ao participar de uma das audiências públicas, neste mês de outubro, e exercendo meu papel como senador e educador, pude perceber que o debate é também pertinente e imperativo para o âmbito da educação. Na verdade, o que está em discussão não é somente a escolha da permanência do X e não do CH ou a redução das regras e exceções do hífen. De fato, essas mudanças são urgentes e necessárias. Mas a simplificação no uso da Língua Portuguesa vai pontualmente beneficiar o ensino da matemática, das ciências e de todas as outras disciplinas.
Por quê?
A educação básica prioriza, em termos gerais, uma maior carga horária para o ensino da Língua Portuguesa. No Estado do Paraná, por exemplo, são dedicadas cinco aulas semanais ao ensino do português nos anos finais do ensino Fundamental. Em algumas escolas privadas há mais uma aula para atividades específicas de redação.
Nessas cinco aulas, na maior parte do tempo, há prevalência excessiva do ensino de conteúdos gramaticais e de ortografia. É claro, regras de pontuação e acentuação podem ser memorizadas, demandando pouca capacidade reflexiva. Já os conteúdos que incorporam a prática de leitura, a produção de textos, bem como a capacidade de refletir sobre eles, apesar de exigidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, via de regra são reduzidos a atividades curtas e descontextualizadas da realidade do aluno.
A meu ver, há uma inversão na eleição dos assuntos e na carga horária atual do ensino da Língua Portuguesa e, consequentemente, no ensino de outras disciplinas.
Não precisamos banalizar o ensino da norma culta. Nem oficializarmos o “internetês”. A aprendizagem da estrutura da língua tem sua importância. Mas, com a simplificação da ortografia e uma redistribuição da carga horária atual, teríamos tempo para desenvolver a autonomia do aluno quanto à compreensão e interpretação de textos, dentro de outras disciplinas como a matemática e as ciências.
É aqui que os benefícios se encetam. Curricularmente falando, sobraria mais tempo para a aprendizagem da análise e resolução de problemas matemáticos, bem como para os estudos de ciências. Teríamos mais tempo, por exemplo, para ampliar a prática de leitura e compreensão de conceitos científicos, priorizando o desenvolvimento lógico e cognitivo. Esse, aliás, é um dos marcos referenciais do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes da OCDE), para a área de ciências, no qual o Brasil ficou em 59º lugar no último exame, entre 65 países. Já na matemática, o PISA também identificou um baixo rendimento entre os alunos brasileiros, de 15 anos: de cada três, dois não conseguiram interpretar situações que exigem unicamente deduções diretas da informação oferecida.
Sabe-se que o aumento da carga horária não é o único fator que vai garantir a qualidade do ensino. Todavia, é preciso pensar na utilização responsável e consciente dessa carga horária. Como educadores, temos que ensinar aquilo que é imprescindível e fundamental para a formação humana e sucesso profissional de nossos alunos.
Logo, creio que essa discussão se faz necessária e deve ser um tema contínuo entre aqueles que desejam a conversão da sociedade ao conhecimento.




