Ronaldo Mota
Reitor da Universidade Estácio de SáProfessor aposentado da Universidade Federal de Santa Maria
***O termo cognição está associado ao ato de conhecer, incluindo os estados mentais e os processos do pensamento relacionados à aquisição de conhecimentos. Assim, envolve múltiplos fatores como linguagem, percepção, memória, lógica, raciocínio e outros elementos do desenvolvimento intelectual. Praticamente todas a metodologias de ensino tradicionais têm sua fundamentação nos processos cognitivos. Decorre naturalmente do conceito de cognição a estratégia do saber em oposição ao não saber. O ensino tradicional é todo moldado, desde as pedagogias aos currículos adotados, no ensinar o educando a saber.
Metacognição, etimologicamente, significa “para além da cognição”, ou seja, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, associado à consciência dos atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem acerca de como se aprende. O conceito de metacognição está relacionado ao ato de pensar sobre o próprio pensamento, onde a reflexão e a autoconsciência sobre a maneira como se aprende tornam-se, progressivamente, mais importantes do que o próprio ato de aprender.
Tudo parecia funcionar satisfatoriamente até sermos atropelados pelas mudanças recentes, principalmente pelas tecnologias digitais. A sociedade contemporânea traz algo inédito. Experimentamos pela primeira vez explorar a oportunidade de termos informação total, instantânea e gratuitamente acessível. Um dos reflexos desta revolução diz respeito ao fato de que a cognição perde sua exclusiva centralidade, abrindo espaço para um conceito inovador, a metacognição.
O complexo aprender a aprender passa a ser mais relevante do que o simples aprender. O saber versus o não saber, contemporaneamente, resulta ser menos estratégico do que ter desenvolvido ou não a habilidade e a competência de, à luz das informações disponíveis, saber resolver. A percepção da metacognição é crucial no estímulo ao saber resolver. Quanto ao processo avaliativo, cabe incluir também a complexa capacidade de saber resolver, indo além da simples separação entre o positivo saber e o negativo não saber.
O simples aprender tem tudo a ver com um mundo em que o período escolar estava circunscrito a um período limitado da vida. Em tempos passados, os profissionais, uma vez graduados, estavam prontos para suas missões e demandas futuras e, via de regra, sobreviviam de forma satisfatória no mundo do trabalho. O sofisticado aprender a aprender estabelece compatibilidade com educação ao longo da vida. Assim, mais relevante do que ter aprendido ou não algo é a consciência do próprio educando acerca do quanto ele entendeu o processo da aprendizagem ao qual está submetido, identificando claramente como ele aprende.
Em suma, a cognição se preocupa simples e exclusivamente com o fato de a pessoa ter aprendido ou não; a metacognição inclui, com igual peso, o quanto o educando e o educador percebem a forma com que eles próprios aprendem e ensinam. Neste sentido, a cognição atende ao passado analógico e a metacognição contempla o futuro digital.
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