Fernando Leme do Prado
Doutor em Educação pela PUC/SP
***Conversando, informalmente, com alunos iniciantes do ensino médio sobre suas relações com a escola e com o processo educativo escutei, de forma quase unânime, que a escola era “muito chata”, embora gostassem da instituição e de sua condição de estudante. Procurando explorar um pouco mais o que levava a esta concepção, ficou bastante claro que as escolas, com seus métodos tradicionais, não conseguem mais competir com o volume e o acesso às informações advindas do uso crescente, e cada vez mais rápido, das tecnologias e das informações. O que mais os incomodava era a passividade de ouvir, preferencialmente sem se manifestar, sobre temas de relevância duvidosa apresentados de forma desinteressante e monótona. Este cenário, infelizmente, não se restringe à etapa escolar observada, mas se alastra por todos os níveis e cursos, notadamente no ensino superior.
As novas gerações não são hiperativas como muitos pensam, eles são multifuncionais, o que é muito diferente. Usar variados meios de comunicação ao mesmo tempo não os incomoda ou reduz sua atenção, mas a escola insiste em exigir atenção específica, pois baseia sua proposta em estratégias meramente instrucionistas. Este método, ainda empregado maciçamente nos ambientes escolarizados, consiste em repassar informação para que seja armazenada temporariamente na memória e cobrada em períodos definidos. Confunde, o tempo todo, memória com inteligência, atribuindo à capacidade de memorização status de alta competência intelectual, acreditando e fazendo crer a todos os envolvidos no processo que o desenvolvimento mental passa apenas pela memória. Exatamente por este motivo é que os computadores são conhecidos como “máquinas burras”, pois apesar de sua imensa capacidade de memória, armazenamento e processamento de dados, são absolutamente incapazes de pensar.
Na tentativa de se modernizar, a escola incorporou uma imensa quantidade de equipamentos, como tablets, lousas eletrônicas, projetores e apontadores laser, misturando tecnologia com pedagogia sem nenhuma preocupação metodológica. O fundamento continua instrucionista e, assim, não provoca as mudanças esperadas, continuando a concentrar-se no ensino quando os novos paradigmas apontam para necessidade de desviar o foco para a aprendizagem. Estas são atividades distintas e, infelizmente, é muito comum encontrar quem a eles se refira como “processo ensino-aprendizagem”, colocado desta forma, separados por um hífen, divulgando um conceito totalmente equivocado de que um decorre do outro, como se a aprendizagem estivesse ligada diretamente ao ensino. Insistimos: são processos diferentes, não existe processo ensino-aprendizagem.
A preocupação com a aprendizagem requer atenção às metodologias, que devem ser ativas em contraposição à metodologia passiva representada pelo instrucionismo que confunde informação com conhecimento. A participação efetiva dos alunos, sob as mais diversas formas, caracteriza as metodologias ativas que fortalecem a construção do conhecimento, que é pessoal e intransferível. Metodologia de projetos, aprendizagem baseada em problemas, construções coletivas e pesquisas orientadas são alguns exemplos de modelos que podem ser aplicados em sala de aula, permitindo a cada aprendente a ressignificação das informações encontradas transformando-as em conhecimento. Não há complexidade alguma, trata-se de aprender a fazer, fazendo.
Nestas metodologias, reforça-se a autonomia do educando, mesmo que a atividade seja coletiva, desenvolvendo uma visão transdisciplinar, indo além das disciplinas. Esta prática pedagógica é muito mais formativa que informativa, pois se baseia na associação entre novos elementos e os conhecimentos já sedimentados, exatamente como preconiza a psicologia cognitiva. Pela investigação, problematização ou desenvolvimento de projetos se estimula a busca pela teoria contextualizada que fundamente as práticas e as soluções, estabelecendo as correlações e ressignificações que levam ao conhecimento.
A dificuldade toda não está na utilização da metodologia, mas no seu controle, que é possível quando limitada ao ensino, mas impossível na aprendizagem. Cada um aprende de um modo, constrói os seus conhecimentos e ressignifica informações a partir dos seus referenciais. Assim, o professor deve assumir um novo papel, desenvolver novas habilidades, dar maior autonomia aos seus alunos, em uma postura inquestionavelmente menos segura do que quando se limita ao ensino, para poder orientar a aprendizagem, propondo métodos ativos e, assim, preparar-se para responder perguntas transdisciplinares.
Finalmente, há um aspecto da maior importância para que as metodologias ativas ocupem seu espaço nos ambientes escolarizados definitivamente: a avaliação. Não é possível insistir nas avaliações que priorizam a memorização e a retenção de conteúdos, com a utilização de instrumentos totalmente inadequados para medir o progresso e a aprendizagem. É indispensável construir novos meios de avaliar apoiados, sobretudo, na observação do professor, que precisará, também, aperfeiçoar esta habilidade, para acompanhar o desenvolvimento e a construção dos conhecimentos desejáveis. A solução encontrada, o projeto implementado ou a pesquisa relatada oferecem muito mais informação sobre a aprendizagem do que a prova gabaritada.
Metodologias ativas não são novidade, tampouco são efêmeras ou modismos, podem, e devem, ser aplicadas em todos os níveis de ensino, pois representam um caminho sólido para o desenvolvimento do aprender a aprender que, certamente, nos permitirá acompanhar a velocidade das mudanças que, inevitavelmente, impactarão as nossas vidas. Do mesmo modo, a escola, quaisquer que sejam as instituições identificadas sob esta denominação, não pode, impunemente, insistir nos métodos tradicionais e instrucionistas, esperando que seus alunos aceitem esta proposta sem contestação, como sempre tem sido. Assumir a vanguarda das mudanças é o papel mais relevante que as escolas podem ter neste século. E nos próximos.




