Sete perspectivas educacionais para 2022

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

08/03/2022 | 6492

Sete perspectivas educacionais para 2022

Por Ronaldo Mota*

 

Embora as transformações na área educacional sejam de natureza rápida e profunda, elas nos surpreendem menos, à medida que elas já estão em curso, e, de alguma forma, todos já estamos razoavelmente familiarizados com as principais tendências.

Mesmo assim, sempre bom tentar ressaltar as mais relevantes, no caso sete, e ordená-las, tentando sistematizar nossos pensamentos e provocando as imprescindíveis e bem-vindas discussões, concordâncias e discordâncias, sobre as ênfases conferidas.

  1. Mais tecnologia ainda. A primeira delas, ainda que óbvia, é importante destacar: a presença das tecnologias no processo ensino-aprendizagem será ampliada. Seja porque a pandemia amplificou o seu uso, seja porque a presença de edtechs (empresas educacionais atuando na educação, especialmente via startups) cresceu. Uma consequência natural desse fenômeno é a oferta maior de cursos e oportunidades nas áreas tecnológicas. O mercado carece cada vez mais de profissionais digitais, a tendência é explorarmos mais as carreiras digitais, especialmente via cursos como tecnólogos de nível superior, engenharias, itinerário 5 da BNCC do Ensino Médio etc.;
  2.  Aprendizagem personalizada. Enfim avanços mais efetivos na personalização do educando. O uso de plataformas educacionais com capacidade de contemplar analítica da aprendizagem (learning analytics) tem tornado cada vez mais comum e, principalmente, útil trabalhar com dados coletados dos alunos. De novo, a pandemia catalisou aquilo que já estava acelerado. O uso mais intenso de recursos digitais viabiliza obtermos muito mais dados dos educandos. Esses dados, que tradicionalmente eram esquecidos/desperdiçados, começam a ser sistematizados, analisados e a gerar consequências. Quanto mais conhecemos cada educando individualmente, mais e melhor podemos propor e implementar trilhas educacionais personalizadas que levam em conta quem ele é, o que ele sabe e o ele pretende;
  3. Internet para todos....ou quase todos. O que vivemos nos últimos dois anos serviu para evidenciar o que já sabíamos, mas talvez não tivéssemos percebido a dimensão do abismo de desigualdades existentes em termos de acessibilidade à rede. Em alguns casos, talvez o aluno soubesse, porque sentia na própria pele, mas a família dominava menos o tema. Hoje todos sabem e estamos conscientes de que um fator de democratização de oportunidades é provermos internet de qualidade para todos. Certamente depende de ações governamentais, principalmente nos ambientes escolares da educação básica, e esperamos que elas sejam mais consistentes nos próximos anos, mas elas podem ocorrer, simultaneamente, via parcerias das escolas com empresas de comunicação. Ter consciência do problema não é, por si só, solução, mas ajuda muito. O advento da rede 5G tornará mais grave ainda as desigualdades de oportunidades resultantes entre os educandos. Vale a torcida para o aumento de acessibilidade à rede, em especial aos estudantes, seja uma realidade crescente ao longo de 2022;
  4. Educação híbrida e flexível. Não há nenhuma evidência que a adoção de ferramentas típicas derivadas da chamada modalidade educação a distância sejam abandonadas no retorno dos estudantes às atividades presenciais. Pelo contrário, trata-se de algo impregnado, especialmente entre os mais jovens e o cenário será a adoção, em diferentes níveis e com receitas diversas, explorando as boas combinações entre os atributos dos recursos didáticos presencias junto a educandos que não temem tecnologias e estão muito bem-preparados para contribuir nesse salutar hibridismo;
  5. Gamificação. Quanto mais alunos com perfis associados a nativos digitais, mais dependeremos de games para que o aprendizado seja atraente e produtivo. Temos aprendido muito ao longo dos últimos anos, mas aprenderemos muito mais ao longo dos próximos períodos. Este ano de 2022 a presença de games nas escolas já terá, espero, superado os principais preconceitos. Além disso, dominamos hoje muito melhor sobre como adaptar o espetacular conhecimento tecnológico já disponível com nossa capacidade de pensar pedagogicamente sobre os jogos. Sem receio e com certeza que os resultados serão positivos;
  6.  Cibersegurança. Esta área diz respeito à segurança da tecnologia de informação digital como um todo, envolvendo a proteção de hardwares, softwares e dados contra roubos, danos ou usos inapropriados. Até aqui ela aparecia de forma quase periférica e eventual. Passará rapidamente a ser central e indispensável, desafiando as escolas a incorporarem o tema junto aos seus alunos, em diferentes níveis de abordagem. Inclui-se também a necessidade da própria escola de proteger a integridade e a privacidade dos dados, tanto no armazenamento como no trânsito da informação. Cabe destacar, em especial, do ponto de vista das instituições educacionais, a imprescindibilidade de levar em conta a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A LGPD entrou em vigor no Brasil em setembro de 2020, com sanções previstas a partir de agosto de 2021;
  7. Realidades múltiplas: virtual, ampliada e mista. Ingressamos no mundo dígital, onde as fronteiras entre o chamado mundo físico (real?) passam a ter zonas sombreadas com os espaços digitais. Ao longo do ano de 2022 ficaremos familiarizados com eventos onde os palestrantes serão hologramas que não poderão ser distintos de presenças físicas. A “brincadeira’ será iludir, demonstrando o quanto avançamos nessa confusão de mesclagem de realidades. A implantação da rede 5G em algumas cidades, ainda este ano, facilitará que mais docentes e estudantes possam participar desses experimentos que, gradativamente, estarão naturalizados em nossos ambientes educacionais. Sincronizados com isso, vivenciaremos a maturidade e o uso mais frequente de laboratórios de simulação e de outros recursos como telemedicina, processos irreversíveis que podem ser comparados ao quanto, progressivamente, passamos a usar cada vez menos as bibliotecas físicas e cada vez mais o acesso aos conteúdos digitais via internet. 

Muito mais surgirá e tomara que sejamos sempre surpreendidos por novidades não contempladas neste limitado texto. Estamos construindo nossas competências para uma sociedade onde a informação estará (ou quase já está) totalmente disponível, será (ou já é) instantânea e, basicamente, gratuita. Se não soubermos lidar com isso, corremos sim o risco de uma sociedade ainda mais excludente e perversa. Do ponto de vista exclusivamente tecnológico, em tese, já dispomos de todas as ferramentas para ofertar muita qualidade a todos. Essa história não está contada a priori e depende de nós definirmos como escreveremos nossos avanços neste ano e nos anos seguintes. 

Por fim, ao longo do ano, creio que a pandemia deverá, graças sobretudo às vacinas, diminuir de forma significativa. Gradativamente, as escolas retomarão as atividades presencias em sua quase plenitude. Felizmente, vivenciaremos a vitória definitiva e civilizatória da sabedoria, baseada na ciência e na educação, sobre a ignorância obscurantista.

 

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*Ronaldo Mota é Diretor acadêmico do ITuring

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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