Por Carmen Tavares*
Uma das mais recentes publicações de Bill Gates vem do setor de inteligência artificial – mais precisamente, sobre como essa tecnologia avançada pode elevar a qualidade da educação mundial.
O cofundador da Microsoft recentemente utilizou as redes sociais para promover "Novos Horizontes: como a IA transformará a educação (e por que isso é benéfico)", lançado na última semana. O autor do livro é Sal Khan, fundador e CEO da Khan Academy, uma organização educacional sem fins lucrativos que está criando um tutor experimental de IA chamado Khanmigo.
"Se você valoriza a educação, precisa conferir este livro", escreveu Gates na rede social X. "Sal apresenta uma proposta convincente para usar a IA na ampliação de oportunidades para todos."
No livro, Khan discute o impacto dos sistemas baseados em IA – como o ChatGPT, que alimenta o Khanmigo – para "transformar o aprendizado e o ensino", ajudando professores sobrecarregados e personalizando aulas para alunos globalmente.
A tutoria por IA pode ajudar a "reduzir a lacuna educacional" ao oferecer suporte direto para alunos de baixa renda, mesmo em países em desenvolvimento, destacou Gates no ano passado em seu podcast "Unconfuse Me", em um episódio com Khan.
“Acredito que a IA será como um excelente professor que realmente revisa sua redação, e você pensa: ‘OK, preciso melhorar isso’”, disse Gates, que apoia a Khan Academy com uma doação de US $ 1,5 milhões da Fundação Bill & Melinda Gates em 2010.
A Khan Academy lançou o Khanmigo para mais de 65.000 alunos. No entanto, o programa de tutoria de IA ainda está em fase experimental, e os revisores notaram que o chatbot ainda comete erros matemáticos frequentes.
Gates continua otimista sobre o potencial da IA como um fator decisivo na educação global – à medida que a tecnologia avança na próxima década e além.
“Se pensarmos nos próximos 10 anos, tanto no nível absoluto de aprendizagem quanto na disparidade para alunos de minorias de baixa renda... essas novas ferramentas podem tanto reduzir a disparidade quanto elevar o nível global de desempenho”, disse Gates no podcast.
A resistência do uso de AI em sala de aula tem sido grande por parte de professores e educadores. A implementação de tecnologias avançadas, como a Inteligência Artificial (IA), em ambientes educacionais tem se mostrado um tema polarizador entre professores e educadores. Embora a IA ofereça um potencial significativo para transformar a experiência de ensino e aprendizagem, a resistência ao seu uso é evidente e multifacetada. Esta resistência pode ser atribuída a diversos fatores, que vão desde preocupações pedagógicas até questões éticas e de segurança.
Muitos educadores temem que a adoção da IA possa desumanizar o processo de ensino, substituindo a interação humana essencial para o desenvolvimento social e emocional dos alunos. A confiança excessiva em ferramentas automatizadas pode comprometer a capacidade dos professores de fornecer um ensino personalizado e de alta qualidade. Além disso, a coleta e o uso de dados dos alunos por sistemas de IA levantam questões significativas de privacidade. Educadores e pais estão compreensivelmente preocupados com a proteção dos dados sensíveis e com o potencial uso indevido das informações coletadas.
A falta de familiaridade com a tecnologia e a necessidade de treinamento contínuo para utilizar efetivamente as ferramentas de IA são barreiras substanciais. Muitos professores sentem-se despreparados para integrar essas novas tecnologias em suas práticas diárias, resultando em uma resistência natural ao seu uso. Existe também um medo latente de que a IA possa eventualmente substituir funções docentes, levando à insegurança profissional. A percepção de que a automação pode reduzir a demanda por professores humanos alimenta a resistência e a desconfiança em relação a essas tecnologias.
Para enfrentar essa resistência, é essencial adotar uma abordagem estratégica que inclua a formação e capacitação contínua, oferecendo programas de treinamento abrangentes que capacitem os educadores a utilizar a IA de maneira eficaz e integrada ao currículo. Workshops, cursos de atualização e plataformas de e-learning podem ser ferramentas valiosas nesse processo. Além disso, é fundamental desenvolver políticas claras e transparentes sobre a coleta, armazenamento e uso de dados dos alunos, assegurando que os sistemas de IA estejam em conformidade com as regulamentações de privacidade, reforçando a confiança dos educadores e pais.
A implementação gradual da IA, permitindo que os professores se adaptem progressivamente às novas tecnologias, e o envolvimento dos educadores na escolha e desenvolvimento das ferramentas tecnológicas podem aumentar a aceitação e reduzir a resistência. Apresentar casos de sucesso e evidências concretas de como a IA pode melhorar os resultados educacionais e facilitar o trabalho dos professores também é crucial. Mostrar como a IA pode ser um complemento valioso, em vez de uma substituição, ajudará a mudar a percepção negativa.
A resistência ao uso de IA em sala de aula é um fenômeno complexo que reflete preocupações legítimas dos educadores. Para que a transição para um ambiente educacional tecnologicamente avançado seja bem-sucedida, é fundamental abordar essas preocupações com sensibilidade e proatividade. Investir em formação, garantir a privacidade dos dados e demonstrar os benefícios reais da IA são passos cruciais para promover uma aceitação mais ampla e eficaz dessas tecnologias inovadoras. Assim, será possível criar um sistema educacional que combina o melhor da pedagogia tradicional com as oportunidades oferecidas pela era digital.
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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br