#ABMESINFORMA | Entrevista: Janguiê Diniz fala sobre as expectativas à frente da nova gestão da ABMES


03/05/2016 | 2468

001/2016 Brasília, 03 de maio de 2016


José Janguiê Bezerra Diniz é o primogênito de uma família de sete irmãos. Um empreendedor nato, que começou a vida profissional aos oito anos como engraxate em Naviraí, Mato Grosso do Sul. Após seu primeiro empreendimento precoce, Janguiê, como é conhecido no meio educacional, foi vendedor de laranjas, office boy, datilógrafo e locutor de rádio, entre outras funções. “Desde muito novo tive que trabalhar, mas nunca deixei de estudar. Acreditava na educação como a única forma concreta de mudar o meu status social, ressaltou.  

O empresário, que hoje tem 54 anos, graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco. Mestre e doutor em Direito, foi juiz do trabalho e procurador do Ministério Público do Trabalho. Sua atuação no ramo educacional começou em 1994, quando fundou o Bureau Jurídico, curso preparatório para concursos, em Pernambuco. Em 2003, fundou a Faculdade Maurício de Nassau e deu início ao grupo Ser Educacional, atualmente o maior em número de unidades das regiões norte e nordeste.

 

Confira a entrevista na íntegra

Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES): Sua vida profissional teve início muito cedo e a sua capacidade empreendedora resultou na criação do maior grupo educacional do nordeste: o Ser Educacional, que tem crescido de maneira expressiva, inclusive expandindo sua atuação para o norte e para o sudeste do país. Pode falar um pouco sobre a sua trajetória e onde pretende chegar?

José Janguiê Bezerra Diniz (JD): Nasci em uma família pobre que optou por deixar o sertão da Paraíba na tentativa de uma vida melhor. Sou o mais velho de sete irmãos. Desde muito novo tive que trabalhar, mas nunca deixei de estudar. Acreditava na educação como a única forma concreta de mudar o meu status social e foi por isso que aos 14 anos saí sozinho de Pimenta Bueno, em Rondônia (RO), para o Recife (PE). Foi na capital pernambucana que pude concluir o ensino médio, cursar Direito na UFPE [Universidade Federal de Pernambuco] e Letras na Universidade Católica de Pernambuco.

A ideia de investir em educação veio porque, ao estudar para o concurso da Magistratura, percebi que não havia cursos preparatórios para o concurso no Recife e coloquei como meta que, após a minha aprovação, abriria um. Fui aprovado no concurso, também me tornei professor da Faculdade de Direito do Recife e fundei o Bureau Jurídico, curso preparatório para concursos, em 1994. O BJ, como era conhecido, se tornou um sucesso, com altos níveis de aprovação e atendendo alunos de todo o Brasil. 

Na época, havia apenas quatro faculdades de Direito em Pernambuco e uma enorme demanda de alunos, então, comecei a pensar em abrir uma instituição de ensino superior. A Faculdade Maurício de Nassau foi fundada no Recife, junto com o Grupo Ser Educacional, em 2003, e, desde então, cresce gradativamente. Meu objetivo é poder oferecer, cada vez mais, acesso ao ensino superior para os estudantes. Acredito que a educação é a única forma concreta de mobilidade social e a única forma de um país se desenvolver sócio e economicamente. 

ABMES: O professor Gabriel Mario Rodrigues esteve à frente da ABMES por 12 anos. Como é receber o bastão de um dos maiores empreendedores do segmento educacional do país?

JD: Gabriel é um exemplo para todos nós. Seus ensinamentos são muito preciosos e levarei sempre comigo suas ideias. Tenho certeza de que ele ainda irá contribuir muito com a ABMES e com o setor de educação do Brasil.

ABMES: O que os associados à ABMES poderão esperar da sua gestão?

Quero expandir a ABMES e fazê-la ser ainda mais forte. Iremos buscar mais associados e ser ainda mais presentes nas discussões com o poder público, em especial o MEC [Ministério da Educação], para beneficiar o setor. Manteremos tudo de positivo que a ABMES tem e teremos ainda mais personalidade para representar a maior associação de ensino superior particular do país.

ABMES: A gestão do professor Gabriel tratou com muita atenção a questão das pequenas e médias instituições de ensino superior associadas à ABMES. E agora, nesta nova gestão, certamente, a sua trajetória profissional servirá de inspiração para muitos mantenedores. Como pretende atuar/articular de modo a subsidiar a permanência dessas instituições no cenário educacional?

JD: O ensino superior particular representa mais de 75% das matrículas do setor no Brasil e a maior parte das instituições existentes tem até 3 mil alunos. Elas são essenciais para o setor. Entretanto, sofrem, principalmente, com regras que as igualam às maiores instituições do país. Uma das nossas propostas é trabalhar exatamente nesse contexto, de lutar para que as IES sejam tratadas e avaliadas levando em consideração a regionalidade e especificidade.

ABMES: O que o senhor  vê como tendência para o país nos próximos anos no âmbito educacional?

JD: Acredito que o ensino a distância irá ganhar bastante espaço, pela facilidade para os alunos poderem estudar em qualquer lugar e a qualquer tempo. Porém, enxergo também a volta do desenvolvimento do setor pós-crise econômica que é vivida pelo Brasil. Para isso, as instituições estarão, cada vez mais, em busca de professores qualificados e de tecnologia para aliar prática e teoria nas salas de aula.

ABMES: A desaceleração da economia tem preocupado muitos mantenedores. Com a sua visão empreendedora, o senhor concorda com a máxima “na crise, uma oportunidade”?

JD: Em qualquer setor, é na crise se que criam oportunidades. O momento econômico brasileiro tem feito com que as instituições elaborem mais estratégias de mercado, de captação, de retenção de alunos e até de redução de custos.

ABMES: Na sua opinião, quais são hoje os principais problemas da educação brasileira e o que o senhor apontaria como solução?  

JD: Acredito que, para o ensino superior particular, o principal problema está na baixa qualidade dos alunos que são provenientes do ensino básico público. Para as particulares, que trabalham com a preparação direta de profissionais para o mercado de trabalho, por vezes é preciso oferecer cursos de nivelamento para alunos ingressantes e ainda são muitos os estudantes que são reprovados porque não conseguem acompanhar o conteúdo apresentado nas IES. Infelizmente, essa realidade só irá mudar através de uma reforma na educação, com escolas públicas de nível básico com qualidade para formar os estudantes para o nível superior. Essa mudança depende, basicamente, de investimento e fiscalização. Apesar de termos um alto investimento destinado para a Educação, comparado a outros países, a falta de fiscalização faz com que boa parte desses recursos não chegue ao seu destino, se perdendo nos desvios de verbas.

Outro grande problema é a escassez de financiamento estudantil – Fies. É que temos apenas cerca de 17% da população com idade universitária (de 18 a 24 anos) no ensino superior. Ou seja, 83% ainda está fora. E a maioria depende de financiamento para estudar. Na medida em que o governo reduziu a verba do FIES e tornou mais rígidas as regras, como por exemplo, 450 pontos no ENEM,  frustrou os sonhos de muitos jovens, principalmente os provenientes de escola pública.

ABMES:  Na última década, a ABMES intensificou o relacionamento com os órgãos do Governo Federal, sobretudo com o Ministério da Educação, resultando em ganhos significativos para o setor particular de ensino. Como o senhor avalia essa articulação?  

Essa é uma articulação necessária para o setor. É através de um bom relacionamento com o MEC que podemos conquistar mais espaço e garantir direitos para as IES particulares. É com esse foco que a nova gestão da ABMES irá trabalhar, intensificando ainda mais esse trabalho na busca por melhores condições.

ABMES: Hoje, a ABMES promove anualmente a Campanha da Responsabilidade Social do Ensino uperior Particular. Já são 11 edições da Campanha e mais de um milhão de pessoas são beneficiadas por ano com as ações voluntárias promovidas pelas IES. Quais serão os seus projetos para a próxima gestão na ABMES no âmbito da responsabilidade social?

JD: Acredito nas ações de responsabilidade social como uma forma de ajudar aos menos favorecidos e também de contribuir na construção de uma sociedade melhor. Já são 11 edições de sucesso de uma ação que só engrandece o papel da ABMES para a educação e para a sociedade. Nesta nova fase da ABMES, os projetos de responsabilidade social existentes e promovidos pela Associação serão mantidos e outras ações serão elaboradas, sempre ouvindo os nossos associados, que poderão trazer ideias e sugestões para as Campanhas.

ABMES: O senhor tem construído uma sólida história durante todos esses anos de atuação no setor. Qual o legado que o senhor pretende deixar para ABMES e para a educação brasileira?

JD: Acredito na educação como forma de mudar o Brasil. Enxergo a ABMES como uma instituição que está ativa na defesa do setor e que tem um papel determinante para o ensino superior particular. Como legado, quero deixar a assertiva de que podemos sonhar e realizar nossos sonhos com muito trabalho, dedicação e coragem. Quero fazer da ABMES uma instituição ainda mais forte na defesa dos direitos e interesses dos mantenedores e fazer com que a educação particular seja valorizada por todos: alunos, mercado, governo e toda a sociedade.

ABMES: O que o motiva diariamente?

JD: Saber que estou trabalhando incansavelmente para construir um país melhor, através da educação. Cada um dos estudantes que passa por nossas instituições tem uma história. Eles levam um pouco de nós e deixam um pouco de si. São histórias surpreendentes, de superação, de dedicação, de desafios e de vitórias. É isso que me motiva. Saber que estou, através das nossas instituições de ensino, mudando para melhorar a vida de milhares de estudantes. 

 

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