Educação Superior Comentada | A Permissividade nas Universidades Federais

Ano 2 • Nº 27 • De 30 de setembro a 6 de outubro de 2014

A Coluna Educação Superior Comentada desta semana analisa a permissividade nas universidades federais

06/10/2014 | Por: Gustavo Fagundes | 2857

A PERMISSIVIDADE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

No domingo passado, 28/9, assisti, estarrecido, à reportagem veiculada no programa Fantástico, abordando a lamentável prática de violência e assédio sexual de que são vítimas estudantes universitárias.

Meu assombro cresceu quando a reportagem apontou ser esta uma prática relativamente rotineira, sendo comum a ocorrência de casos semelhantes, principalmente nas universidades federais, fontes da totalidade das denúncias veiculadas na referida reportagem.

Puxando um pouco pela memória, recordei que os casos mais graves e bárbaros de trotes violentos e humilhantes também acontecem nessas mesmas instituições, às vezes associados à realização de festinhas com consumo liberado de bebida alcóolica e até mesmo de entorpecentes, comumente realizadas dentro das instalações das próprias instituições públicas de ensino.

Interessante registrar o contraponto, pois são raros os casos deste tipo de ocorrência nas instituições de ensino superior particulares, embora supostamente frequentadas por diversos estudantes em faixa etária e situação assemelhada aos acadêmicos das universidades federais.

Não é frequente, tenho impressão, a realização das festinhas de embalo regadas a álcool e até entorpecentes dentro das instituições particulares, assim como não são frequentes os trotes violentos, bárbaros e humilhantes nestas mesmas instituições.

Até porque, tenho absoluta convicção que, noticiada a realização deste tipo de atividade, com as consequências nefastas que vemos acontecer nas universidades federais, o Ministério da Educação, ato contínuo, instauraria processo de supervisão em face da instituição particular responsável, objetivando a imposição de severa sanção e a imediata cessação da conduta indevida.

Duas conclusões, portanto, saltam imediatamente aos olhos de qualquer um que busque fazer uma análise desta questão, ainda que superficial.

A primeira é a absoluta permissividade que se instalou no ambiente acadêmico nas universidades federais, com a aparente “normalização” de toda e qualquer conduta, por mais abjeta e danosa que possa ser, chegando os malfeitores travestidos de acadêmicos a promover baderna e invasão de setores das universidades à menor menção de intensificação de atividades de segurança e vigilância nos campi.

E não venham dizer que essa “liberdade” é característica precípua do ambiente universitário, porquanto não ocorre nas universidades particulares, cujos dirigentes são responsáveis pela garantia de manutenção de um ambiente sadio, de liberdade responsável e não de vandalismo e bandalheira, como, registre-se, deveriam ser os reitores das universidade públicas e seus prefeitos de campi.

Nas universidades públicas, como demonstram as inúmeras reportagens sobre atos de violência e assédio sexual, festas licenciosas e trotes violentos, o conceito de liberdade está sendo distorcido e associado à noção de libertinagem, com a exacerbação de práticas teratológicas e absolutamente incompatíveis com a rotina da vida acadêmica.

E, ainda mais grave, aponta a segunda conclusão, com a complacente passividade do Ministério da Educação no enfrentamento desses problemas recorrentes, fazendo vista grossa às denúncias rotineiramente veiculadas, mostrando-se, tal e qual os dirigentes que indica, conivente com esta rotina de desmandos.

Resta esperar que a tão propagada qualidade acadêmica das universidades federais chegue à formação de seus estudantes, incutindo-lhes noções fundamentais de cidadania, ética e respeito.

Não basta assegurar ensino de qualidade, porquanto educação é muito mais do que isso, como bem lançado no artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

“Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” 

É preciso, com urgência, que as universidades públicas, de fato, se inspirem nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, orientando seus acadêmicos e coibindo, de forma firme e eficiente, os atos de barbárie que vem sendo veiculados na imprensa nesses últimos tempos.

 

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