Além da crise econômica, representantes de entidades ligadas ao ensino superior privado atribuíram a desaceleração no crescimento do número de matrículas na etapa à queda na oferta de vagas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Segundo essas instituições, a baixa no Fies também explica a queda na modalidade presencial de ensino.
Os dados do Censo da Educação Superior, divulgados nesta quinta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que, embora o número de matrículas no ensino superior tenha crescido e alcançando a casa dos 8 milhões , o ritmo desse crescimento foi bem menor que nos anos anteriores. Em relação à 2015, o aumento foi de apenas 0,2%, equanto nos anos anteriores apresentava uma média de 5%.
- A gente percebe o reflexo da diminuição do Fies nesse processo de matrículas de 2015 para 2016. Isso está latente nesses números. Em 2014, tivemos cerca de 730 mil contratos, depois houve uma diminuição drástica tanto por conta da queda no número de vagas, quanto pela crise e pelo desemprego. A falta de uma política pública eficaz de financiamento reflete nessa desaceleração nas matrículas- afirma Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
O Censo mostrou ainda a queda no índice de matrículas presenciais. Os dados indicam que a taxa de inscritos presencialmente passou de 82,6% de todas as matrículas, em 2015, para 81,4% em 2016.
- A queda na oferta do Fies impacta no ensino presencial, porque o programa só oferece financiamento nessa modalidade. Há um fator preocupante: o PNE diz que precisamos alcançar uma taxa de 33% da população de 18 a 24 anos na universidade até 2024. No entanto, hoje temos apenas 18%. Teríamos que crescer mais de 10% ao ano e isso não vai ocorrer se o governo não adotar uma política adequada de financiamento- critica.
Em 2014, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o Fies firmou 732.682 contratos. O número teve uma queda drástica no ano seguinte passando para 287.455. No primeiro semestre de 2017, a quantidade era ainda menor, ficando em 115.445 contratos.
No início de Julho, o Governo Federal anunciou mudanças no programa. A partir de 2018, o programa terá 300 mil vagas, sendo 100 mil a juros zero para estudantes com renda mensal familiar de até três salários mínimos, que terão dívida descontada do salário. O Ministério da Educação (MEC) aumentou a contribuição de instituições de ensino privadas e bancos no risco de inadimplência e acabou com o prazo de carência de até 18 meses após a formatura para início do pagamento.