“A Kodak tinha 90% do mercado de fotografia e desapareceu. Com a educação não acontecerá o mesmo porque a educação não morre, mas temos que mudar a forma como fazemos algumas ações dentro da educação”. A partir desta compreensão, o consultor em educação e inovação israelense, Yaron Edel, conduziu sua palestra sobre disrupção e oportunidades na educação superior durante o seminário de encerramento de ano realizado hoje (04) na sede da ABMES, em Brasília/DF.
Edel chamou a atenção para o fato de que atualmente os estudantes não estão interessados em aprender, mas em ter uma graduação. Por outro lado, professores querem ensinar, mas não dispõem dos recursos necessários para romper a resistência dos estudantes. Esse cenário, de acordo com o especialista, consiste em um dos problemas da educação superior.
Como consequência, os estudantes estão cada vez mais desinteressados pela sala de aula e em busca de outros espaços nos quais possam dialogar melhor com o que compreendem ser o mundo real, incluindo o universo do trabalho. E a solução passa, necessariamente, por uma nova compreensão da pedagogia que envolve três pontos centrais: personalização, mudança do papel do educador e tomada de decisão baseada em dados.
Nesse sentido, Edel chamou a atenção para a necessidade de mudança no processo educacional. “Precisamos sair da educação e passar para o aprendizado. A educação é uma ideia permanente e que funciona em todo o sistema. Já o aprendizado é um processo de cada pessoa. Precisamos mudar do paradigma da educação para o do aprendizado”.
Experiências inovadoras
Em um país grande como o Brasil e com a quantidade de estudantes que temos aqui, a educação a distância apresenta-se como uma solução bastante interessante, de acordo com Edel. Isso porque ele acredita que as oportunidades na área da educação estão focadas basicamente em três características: ensino a distância, auto-curadoria do conhecimento e experiência sobre o conhecimento.
Considerando que nesse contexto a aproximação entre tecnologia e educação é essencial, o palestrante apresentou sete iniciativas que já são desenvolvidas no planeta e que podem inspirar as instituições de educação superior brasileiras:
SpeakingPal – plataforma online que tem como objetivo promover o ensino do idioma inglês de forma acessível e divertida. Além disso, o currículo pode ser adaptado para o estudante.
Annoto – a empresa fornece ferramentas de engajamento e colaboração para websites com conteúdo em vídeo, a exemplo das plataformas de educação a distância, com um grande diferencial: ela permite a interação entre os estudantes, fazendo com que a EAD deixe de ser um processo solitário.
ForClass – considerando que a geração atual possui mais distrações do que qualquer outra, a empresa criou um novo paradigma para o ensino: engajar seus alunos e aumentar a responsabilidade por meio de acesso orientado a conteúdos como estudos de caso, artigos e conjuntos de problemas, fornecendo ao professor uma análise de desempenho em tempo real.
Sense – plataforma de educação a distância que permite aos educadores revisarem e analisarem virtualmente o trabalho de cada aluno, independentemente de quantos alunos houver.
Eureka World – por meio da gamificação, a empresa apresenta uma abordagem educacional pioneira que leva ao reforço da alfabetização digital, a capacidade de trabalho em equipe e fornece aos alunos as habilidades necessárias do século XXI.
Fresh Fund – fundo de risco criado e liderado por estudantes que investe em startups. Em geral as aceleradoras de negócio são criadas pelas universidades, mas o Fresh Fund é um dos exemplos israelenses de incubadoras criadas por estudantes.
Jolt – localizada em Londres e Tel Aviv, a startup constrói uma rede de espaços de aprendizagem inovadores nos quais os profissionais aprendem com instrutores de todo o planeta. Os participantes se aperfeiçoam por meio de sessões curtas e eficazes de aprendizado, como parte de sua rotina semanal, e integram uma tribo global de aprendizes vitalícios.
Mais do que uma ideia
Antes de encerrar sua fala, Yaron reforçou um entendimento compartilhado com o grupo que participou da 2ª Delegação ABMES Internacional – Israel Experience: “não basta ter uma ideia, a maneira como você vai implementá-la é o que realmente faz diferença”. Além disso, segundo ele, nem todo mundo está pronto para a inovação. “É preciso identificar quem está e uma das missões de uma instituição inovadora é exatamente mapear quem está pronto para trabalhar nessa área”.
Retrospectiva 2018
Como tradicionalmente acontece no último seminário do ano, a ABMES aproveitou a oportunidade para fazer um balanço do ano que está chegando ao fim e apontar horizontes para o novo ciclo do calendário que se avizinha.
Coube ao diretor presidente da Associação, Janguiê Diniz, fazer esse balanço. “Definitivamente 2018 não foi um ano tranquilo. Não foi tranquilo nos aspectos econômico e político, como também não o foi no âmbito das nossas instituições de educação superior, tivemos que trabalhar duro para honrar os mais diversos compromissos cotidianos das nossas IES que não deixaram de sofrer com a crise que atravessa o nosso país”.
O diretor presidente lembrou que 2018 foi o primeiro ano de operação do que foi chamado de “Novo Fies” e as dificuldades enfrentadas com as alterações no programa. “Tendo em vista que as mudanças também afetaram a operacionalização do financiamento estudantil, a ABMES se articulou ao longo do ano para colocar as instituições em contato direto com os operadores da política. Nesse sentido, a Associação realizou dois webinars e um seminário totalmente voltados para o esclarecimento de dúvidas das instituições de educação superior”, ressaltou.
Diniz também elencou as principais realizações do ano, como as três edições do ABMES Regional, a 2ª Delegação ABMES Internacional – Israel Experience, publicações, seminários e premiações concedidas, além de ressaltar a ampliação vigorosa do quadro de associados da ABMES e, consequentemente, da representatividade da Associação. “Hoje falamos por 2.500 instituições e polos educacionais de todo o país, condição que fortalece não apenas a ABMES, mas o setor particular de educação superior como um todo.”