Em uma manhã repleta de informações relevantes, orientações, casos de sucesso e contextualização de cenários, os participantes do seminário “A internacionalização como mecanismo de desenvolvimento institucional e diferencial na avaliação das IES” saíram da ABMES motivados e mais conscientes sobre o que significa e como internacionalizar suas ações.
Um dos destaques do evento ocorrido hoje (12) na sede da Associação, em Brasília/DF, foi a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luciane Stallivieri. Ela ressaltou as dimensões internacional, intercultural e global presentes na internacionalização e chamou a atenção para as três gerações da cooperação internacional.
“Na primeira ela se dava de forma individual, esporádica, com poucos atores envolvidos, resultados pouco difundidos e com a fuga de cérebros. Na segunda geração ela já passou a acontecer de forma mais sistemática e organizada, a contar com investimento dos governos, a ter estruturas de gestão e definição orçamentária, aumento da mobilidade e já com o processo de retorno dos brasileiros que iam para o exterior. Por fim, a terceira geração, que é a que estamos vivenciando agora, tem como características o aprofundamento das relações interinstitucionais, qualidade nos projetos de investigação, resultados concretos com a mobilidade, cooperação para o desenvolvimento, menos acordos com melhor definição e amadurecimento dos conceitos”, afirmou.
Luciane também chamou a atenção para a relevância de se preparar os estudantes para um mundo global. “Se falamos em internacionalização, temos que ter presente a intercultura, o respeito às culturas e às diversidades. É preciso formar cidadãos com competências globais e que possam atuar em mercados multiculturais”.
A expositora pontuou ainda elementos fundamentais para a internacionalização e que devem ser considerados tanto no âmbito acadêmico e quanto no administrativo. “A internacionalização passou a ser quase um mantra nas instituições, mas não basta torna-la a quarta missão da universidade: ensino, pesquisa, extensão e inovação. A internacionalização não é um departamento, é um comportamento que tem que permear toda a instituição e fazer parte da sua identidade. Além disso, a instituição precisa estar preparada para dar as informações necessárias e orientar seus alunos sobre o melhor lugar para ir de acordo com a área de interesse, e não para onde o estudante deseja ir”.
Varginha além do ET
Em um dos momentos mais descontraídos do seminário, o reitor do Centro Universitário do Sul de Minas (Unis), Stefano Gazzola, falou sobre os desafios que enfrentou ao decidir investir na internacionalização de uma instituição localizada no interior de Minas Gerais. “Estamos longe de um aeroporto internacional, não temos praia nem os atrativos das grandes cidades brasileiras. Nosso maior atrativo é um visitante que apareceu por lá há uns vinte anos”, brincou.
Para superar esses entraves iniciais, a instituição investiu na criação de um ambiente propício e atraente para a internacionalização que resultou em um dos maiores casos de sucesso do país. Contudo, os resultados positivos não vieram na primeira tentativa. “Em 2007, começamos a discutir um programa de internacionalização. Pegamos o manual e fizemos certinho, mas não chegamos a lugar algum. Assinamos uma série de contratos, mas nada foi para a frente, então abandonamos tudo. Em 2012 retomamos o projeto com um novo olhar e uma das coisas que descobri é que para mexer com internacionalização é preciso ter vontade política, ou seja, criar uma estrutura para que as coisas aconteçam”.
Nesse sentido, para atrair alunos internacionais para Varginha, o Unis desenvolveu estratégias como a concessão de bolsas de estudo, acomodações, estágio remunerado e articulação e reciprocidade. Para desenvolver tudo isso a instituição buscou parcerias junto a empresários que resultaram na constituição de um conselho empresarial que conta com 60 empresas que totalizam R$ 8 bilhões em faturamento, 10 mil empregos e estão presentes em 16 cidades brasileiras. Hoje o centro universitário possui parcerias com mais de 20 países e mais de 55 convênios ativos.
Outra iniciativa do Unis foi a fundação da Academic International Network (ACINNET), uma associação constituída por instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras com o objetivo de facilitar e fomentar a cooperação internacional. Fundada em maio de 2015, hoje a rede conta com 13 países parceiros e mais de 18 instituições de ensino.
“Eu acredito que uma instituição de ensino, tenha mil ou 100 mil alunos, pode fazer a sua internacionalização, ainda que pequena. Por exemplo, nossa meta é chegarmos em quatro anos com 100 alunos enviados e 100 recebidos. Estamos com 46. Ainda há um longo caminho, mas compreendemos que internacionalização não é só mobilidade acadêmica. Ela começa com a mobilidade acadêmica, mas é todo um processo que leva anos para a gente aprender”, concluiu Gazzola.
Por onde começar
O terceiro expositor do dia convidou os presentes a refletirem sobre aspectos elementares para o processo de internacionalização. Alberto Costa, gerente sênior de avaliação do Cambridge Assessment English, fez perguntas sobre pontos que, muitas vezes, passam despercebidos como, por exemplo: o intercâmbio científico na sua instituição tem se dado por meio de uma iniciativa individual dos pesquisadores ou de uma iniciativa institucional? Existe uma versão em inglês para o site da sua instituição? Há modelos de documentos emitidos pela instituição, com os nomes das disciplinas e ementas, traduzidos para o inglês? Há um catálogo em inglês com nome de disciplinas e das ementas para envio aos parceiros, visando atrair alunos estrangeiros para o Brasil?
“Se a gente puder resumir essas perguntas em alguns pontos, é possível afirmar que precisamos ter o intercâmbio científico, o comitê de internacionalização, parcerias, tradução para o inglês e uma política de idiomas”, sintetizou Costa. Para ele, a internacionalização faz parte de um ecossistema. “É preciso ver os propósitos e objetivos, as prioridades e as estratégias”.
Próximo seminário
Ao encerrar o evento desta manhã, o diretor presidente da ABMES, Janguiê Diniz, comunicou o tema que será abordado no encontro de abril: diplomas digitais. O evento acontecerá no dia 6, na sede da Associação em Brasília, e as inscrições serão abertas em breve.