“Eu sinto o brilho nos olhos quando vejo as coisas acontecerem. Diziam para mim que o primeiro ano de engenharia era chato, mas eu estou achando muito legal”, diz João Pedro Giarrante, de 18 anos, estudante do primeiro ano de engenharia elétrica da FEI.
Ele e sua turma são os primeiros universitários a cumprir a nova grade curricular de engenharia na FEI. O curso foi remodelado e os alunos têm agora aulas de inovação por exemplo. “Tratamos de geração de ideias e execução de projetos. Fizemos simulação de startups”, conta.
Os conhecimentos adquiridos na aula de inovação foram colocados em prática ao longo de um projeto prático proposto durante aula de eletrônica geral. Giarrante e seus colegas de grupo construíram um carrinho elétrico. “O que eu aprendo em inovação eu uso em eletrônica geral”, contou o estudante.
Em poucos meses de curso, os calouros já perceberam que o novo currículo da graduação de engenharia na universidade está mais prático e interdisciplinar como propõem as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do curso de graduação em Engenharia, fixadas e homologadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão vinculado ao Ministério da Educação.
Apesar de a FEI já ter reformulado seu curso de engenharia, as novas diretrizes estabelecem prazo de três anos paras universidades e faculdades se adaptarem e implementarem a mudanças.
“O grande salto que essas diretrizes trazem no seu corpo de orientações é em relação ao projeto pedagógico, que deve conter não só conteúdos, mas também atividades e experiências”, diz Fabio do Prado, reitor do Centro Universitário FEI.
A seguir confira as principais mudanças estabelecidas para os cursos de engenharia no Brasil:
1. Flexibilidade curricular
As novas diretrizes estão menos engessadas e dão mais autonomia para as instituições. O texto deixou ser tão “conteudista”, com era resolução anterior (em vigor desde 2002). “ Antes se a instituição quisesse acompanhar as novas tendências podia agregar conteúdos mas não podia tirar nada, então só se aumentasse a carga horária”, diz o reitor.
O conteúdo básico dos cursos continua sendo exposto pelas diretrizes, mas sem tanto detalhamento. “Não se abre mão da formação básica sólida, o que foi flexibilizado é o que diz respeito à parte profissionalizante”, diz Prado.
A ideia é que, a partir de agora, as instituições de ensino sejam mais cobradas pelo perfil de engenheiro que prometem formar com seu projeto pedagógico do que se trazem o conhecimento específico A ou B em sua grade. “Hoje nós sabemos que não bastam conteúdos, existem outras competências emocionais e profissionais e isso era completamente ignorado pelas diretrizes anteriores”, explica Prado.
2. Interdisciplinaridade
Na opinião do reitor da FEI, as novas diretrizes dão espaço para iniciativas mais inovadoras. Colocar em prática conteúdos de uma disciplina em projetos e atividades de outras matérias é tendência que deve se espalhar todas as faculdades de engenharia.
A divisão por disciplinas não deve ser estanque, os cursos vão passar a estimular, com mais afinco, atividades de integração por meio de projetos interdisciplinares. Ao construir um veículo e testar suas condições de segurança, estudantes podem revisar conteúdos de cinemática, dinâmica e atrito de maneira mais integrada.
Um projeto real no primeiro semestre do curso estimula os jovens universitários a pensarem as várias facetas de um produto percebendo a importância de diferentes conceitos. Atividades nessa linha são, segundo Prado, mais compatíveis com as demandas futuras ao preparar profissionais para propor soluções inteligentes para os problemas.
3. Formação por competências
O perfil do novo engenheiro deve conter as seguintes características: visão holística, inovação, empreendedorismo, solução de problemas, cooperação, adoção de perspectivas multidisciplinares e transdisciplinares em sua prática.
Para tal, as novas diretrizes curriculares apresentam um conjunto de competências as quais devem ser desenvolvidas pelos alunos ao longo do curso de engenharia.
Resolução de problemas e proposição de soluções de engenharia a partir da análise e compreensão de usuários e do contexto estão nessa lista, assim como a capacidade de implementar, supervisionar e controlar essas mesmas soluções.
Os formandos também devem estar aptos para “analisar e compreender os fenômenos físicos e químicos por meio de modelos simbólicos, físicos e outros, verificados e validados por experimentação”, diz o texto homologado pelo Conselho Nacional de Educação.
Os engenheiros devem sair da graduação com a capacidade de conceber, projetar e analisar sistemas, produtos, componentes ou processos. Competências como trabalho em equipe, comunicação, capacidade de aprendizagem e preparo para lidar com situações complexas também estão destacadas.